O futebol é um professor do povo
Há muitos outros dérbis, a diferença é que um Benfica-Sporting é O DÉRBI! Não há volta a dar nem ciúmes que possam mudar isto...
D ÉRBI à vista, já amanhã, na Luz. Antes do mais, uma festa. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas o dérbi nunca muda, continua a ser o clássico mais entusiasmante do futebol português. Não tem a ver com coeficiente de decisão no campeonato ou no ranking dos melhores clubes portugueses. Tem a ver com a História, com natural rivalidade entre vizinhos de assinalável grandeza, tem a ver com aquilo a que se passou a chamar de indizível, porque é aquela parte do sentimento, talvez até da alma humana, que não se pode quantificar e que, por isso mesmo, se torna mística, o que significa, no fundo, que nos aproxima mais dos deuses.
Não adianta que outros tenham ciúmes. Nem o FC Porto, que é, pelo menos, de uma grandeza desportiva igual à do Benfica e à do Sporting, nem os outros dérbis mais regionais, sendo o maior deles o que é jogado entre SC Braga e V. Guimarães, ao qual chamam o dérbi minhoto. Houve outros, em tempos, muito curiosos, entre o Belenenses e o Atlético, o Lusitano de Évora e o Juventude, o Marítimo e o União ou o Nacional, mas a verdade é que independentemente da opinião de cada um, há dérbis e há... O DÉRBI!
O Benfica-Sporting é O DÉRBI! Acontece amanhã, felizmente a uma hora digna de ser visto por famílias inteiras, e já há muitos dias que começou a ser jogado, tal como continuará a ser jogado até muitos dias depois do apito final de Artur Soares Dias. Fazem-se apostas, aceitam-se picardias, voluntariam-se os candidatos a adivinhações e discute-se o resultado previsível, antes da bola começar a rolar, o que é sempre uma manifestação de fé e de capacidade premonitória, para além de um desafio à eterna tese do João Pinto (o do FC Porto) que dizia que previsões só no fim do jogo . Ora, precisamente, a piada destas coisas está em arriscar no que vai acontecer naquilo que será um dos mais imprevisível dos desportos e até das mais imprevisíveis manifestações do ritual humano.
Aqueles que atribuem maior peso ao estudo objetivo dos números dirão que o Benfica é, obviamente, favorito. Sim, se olharmos apenas e só para o racional. Na verdade, o Benfica, só tem vitórias nos jogos em casa (8), marcou 26 golos e sofreu apenas 6 e, no total, leva doze pontos de avanço sobre o Sporting que, por sua vez, tem apenas três vitórias fora, um empate e quatro derrotas, o que o levou a perder uma enormidade de pontos (14)! Olha-se para este quadro e os futeboleiros de laboratório lavram a sentença final: o Benfica vai ganhar.
Porém, o futebol é precisamente conhecido, admirado e desejado por ser capaz de ridicularizar mesmo o que parece ser óbvio acontecer. E, essa, é a sua inimitável magia. Por isso, vá lá saber-se porquê, nem sempre os números contam e muitas vezes o favorito acabada estatelado num mar de surpresas e desilusões.
Pode então, o Sporting, ganhar na Luz? Eu acho que a esta pergunta ninguém ousará dizer perentoriamente que não. Claro que pode e claro que noutras circunstâncias em que parecia irremediavelmente perdido antes de entrar em campo, já ganhou jogos e deu lições de futebol a todos os que têm o atrevimento de terem certezas.
Acreditem: na vida, não há certezas e, nessa matéria, o futebol é o melhor professor do povo.
Não nos atrevemos, pois, a querer prever o imprevisível e o melhor que podemos fazer é desejar um grande jogo, um grande espetáculo, um Hino ao futebol das famílias, dos adeptos, do povo a quem, mesmo que muitos o esqueçam, esse futebol deve tudo, a acabar na sua atual grandeza, da qual tanta gente intrusa acaba por se aproveitar.
DENTRO DA ÁREA
Especial, sim mas único não
Depois do último jogo da Roma, Mourinho foi à conferência de imprensa fazer uma revelação oficial: «Fui a única escolha para ser selecionador de Portugal.» Não se pode dizer que tenha sido uma declaração bombástica, A BOLA desde o início e em primeira mão já tinha revelado que o primeiro convite foi feito a Mourinho. O treinador português recusou e está no seu direito, mas porquê desenterrar agora o assunto, por iniciativa própria, e depois de Roberto Martínez já ter assinado contrato? É verdade que Mourinho foi o primeiro, mas não o único.
FORA DA ÁREA
Portugal tem um problema ético
De repente, como se fosse uma surpresa brutal, os portugueses descobriram que há gente sem ética no Governo e que há escândalos de corrupção nas autarquias, que atravessa todos os Partidos. Pessoas sem ética, como se deve compreender, não foram todas desaguar em cargos de responsabilidade pública. Por isso, o problema maior que temos de combater é o da falta de sentido ético e de honestidade na sociedade portuguesa, onde os lóbis continuam à solta e escolhem pessoas e lugares sem atender ao mérito real de cada um.