'Porque hoje é sábado' O FC Porto e a ‘revolução dos cravas’
A dia 27 de abril bastou ter aparecido um opositor credível e corajoso para que o velho regime de 42 anos caísse com estrondo
Quando Jorge Nuno Pinto da Costa chegou, há quarenta e dois anos, à sua cadeira de sonho, nas Antas, ainda não havia dragão, nem no estádio, nem no nome de guerra. O acontecimento marcou o início de uma histórica revolução no FC Porto. O novo presidente assumiu, desde o início, uma linha de rutura com a política conformista e tolerante de Américo de Sá e impôs um estado de guerra ao poder sulista, acusando os responsáveis do futebol português de estarem dominados e controlados pelo Benfica e pelo Sporting.
O ideólogo da revolução foi José Maria Pedroto, que influenciou, decisivamente, a ação de Pinto da Costa, criou a revolta do verão quente portista e abriu as portas a uma cisão interna, que acabaria na estrondosa vitória do ex-chefe de departamento de futebol nas eleições de abril de 1982.
Esse foi o ano em que o Conselho de Revolução reuniu pela última vez em Portugal, o ano em que se comemorou o oitavo aniversário do 25 de Abril, o ano em que a CGTP convocou a primeira greve geral no país, o ano em que o Papa, João Paulo II, visitou Fátima, em agradecimento à Virgem por o ter salvo num atentado no Santuário, e também o ano em que a Argentina invadiu as Malvinas, o que a levaria a uma guerra com a Inglaterra da senhora Thatcher. Portanto, foi há muito tempo e se o mundo e o país eram outros, o futebol português nem sequer tinha uma ideia de que poderia tornar-se numa indústria e num grande negócio.
Em pouco tempo o FC Porto ficou irreconhecível e numa altura em que o país aprendia a democracia e iniciava a luta por direitos cívicos, Pinto da Costa foi inteligente e determinado na ação. O FC Porto passou a ter, pela primeira vez, um núcleo profissional e fechado na gestão do seu futebol profissional e lançou-se numa cultura de vitória e de espírito de conquista sem limites.
Pinto da Costa sabia bem que não podia haver conquista sem poder e que a estrutura ainda feudal do futebol português, que mais do que pela direção da Federação passava pela arbitragem e pelo sistema de disciplina e de justiça, tinha de ser ocupada pelo FC Porto e pelos seus aliados. Por isso, soube ser generoso com todos os que o apoiavam e implacável com os que se lhe opunham a uma conquista total do poder no futebol nacional.
É verdade que Pinto da Costa não olhou a meios, nem a processos, para atingir o seu objetivo, mas também é verdade que só o conseguiu com competência técnica e uma invulgar sensibilidade para dirigir o clube e o seu futebol profissional.
Como inevitavelmente acontece aos líderes de longa duração, com os anos, as virtudes foram sendo substituídas pelos vícios crónicos e os aliados da causa pelos invasores dos interesses pessoais, que acabaram por dominar os claustros. E foi assim que a grande e histórica revolução de 1982 se transformou na revolução dos cravas, ou seja, de muitos que beneficiaram das inevitáveis fraquezas e contradições do regime para tratarem da vidinha e garantirem um futuro que, sem F C Porto, nunca seria tão generoso.
Como se viu no último dia 27 de abril, o velho e saturado regime caiu de podre. Bastou ter aparecido um opositor credível e corajoso, capaz de dizer, alto e bom som, que o rei ia nu. Os portistas mobilizaram-se para votar, e oitenta por cento dos muitos milhares de votantes elegeram André Villas-Boas. É de uma nova revolução no FC Porto que se aguarda com expectativa. E, ao mesmo tempo, o regresso a uma cultura democrática, na qual irá assentar a opção por uma visão moderna de gestão de um clube que tem, por destino, cumprir o seu futuro.
Dentro da área
Vai ser já ou será depois?
Sporting à entrada da porta do título de campeão nacional. Os sportinguistas não contam os dias, mas os minutos que faltam. Claro que querem que a festa se faça o mais cedo possível. Pode ser já amanhã, se o Sporting vencer hoje e o Benfica não vencer no domingo, ou pode ser na semana seguinte, mas a verdade é que o campeonato já não irá fugir. Para o histórico clube de Alvalade, mais importante ainda do que ser campeão é provar que está de regresso, de corpo inteiro, ao mundo restrito dos grandes do futebol nacional.
Fora da área
Os estudantes voltaram à rua
Como nas históricas lutas do tempo da guerra do Vietname, os estudantes universitários americanos lutam nas ruas contra a desumanidade da guerra na faixa de Gaza. Em Paris, os estudantes da Sorbonne seguiram o exemplo dos seus colegas americanos e diz-nos a História que, em breve, a contestação estudantil irá alastrar pelo mundo. Importante ter em conta que não é Israel, nem os israelitas que estão em causa, mas o regime cruel e dogmático que o governa. Entretanto, a contestação estudantil dá novos sinais de esperança ao mundo.