O ‘day after’ da saga dos Lobos
IMAGO/Paquot Baptiste/ABACA

Editorial O ‘day after’ da saga dos Lobos

OPINIÃO10.10.202311:49

Em 2007 não agarrámos o momento. Oxalá tenhamos aprendido a lição...

Portugal, que se tinha emocionado com as lágrimas dos Lobos de Tomaz Morais durante a execução do Hino Nacional no Mundial de 2007, onde o XV nacional deixou tudo em campo, entrou em êxtase com a soberba participação dos Lobos de Patrice Lagisquet no Mundial de 2023, que mereceu uma capa inspirada de A BOLA. 

Dezasseis anos volvidos, Portugal demonstrou uma capacidade competitiva que não perdeu para a alma dos antecessores de 2007, e revelou mais e melhores atributos individuais e coletivos. Perante a forma como a balança se inclinou contra os interesses portugueses, em detalhes, nas partidas com a Austrália e o País de Gales, idealmente teria sido possível ir ainda mais longe. Na prática não, e não há que elaborar sobre castelos de nuvens. 

Esta seleção de Lagisquet, que parte em glória, tinha três tipos de jogadores: os portugueses, amadores; os portugueses que emigraram e jogam em campeonatos competitivos; e os lusodescendentes, profissionais, alguns de alto gabarito. Deste grupo heterogéneo, foi possível fazer uma equipa solidária, o que nem sempre é fácil, atendendo às origens díspares dos jogadores. 

Parabenizados todos os que estiveram na campanha épica de França/23, a pergunta que se impõe é, «e agora, o que fazer com este boom?». Em 2007, perante fenómeno semelhante, nem a Federação, nem os clubes, tiveram capacidade de resposta para os milhares de candidatos a jogadores de râguebi que surgiram, e o efeito Mundial acabou por diluir-se. E mesmo os patrocinadores, que estariam disponíveis para investir, recuaram, e a bancarrota que se seguiu, e abriu as portas à troika, acabou com o resto. 

O râguebi português volta agora a ter nova oportunidade de dar o salto que lhe permita uma consistência, sobretudo organizativa e financeira, que está na base dos projetos sustentados. E se a seleção de futebol é das melhores do mundo tendo 90 por cento dos jogadores a atuar no estrangeiro, porque não pode o râguebi fazer o mesmo? O segredo do futebol tem estado na criação de talentos, que podem, depois, evoluir noutros patamares. E é disso que o râguebi precisa: aposta na formação, para desenvolver qualidade. E isso faz-se sem divisionismos, com capacidade para cativar sponsors, e com uma ajuda do Estado que cada vez é mais justificada.