O Clube dos Países Mortos e outros elevados contos

OPINIÃO01.07.202107:00

Afinal, caros senhores e inúmeros críticos, somos tão maus como os melhores. Isto de ser campeão já não é cartão de visita para ninguém

Apiada fez-se sozinha, o grupo da morte transformou-se no grupo dos mortos, depois da eliminação sucessiva de Portugal, França e Alemanha, que haviam sobrevivido à Hungria, considerado o mais difícil dos grupos deste Europeu. Cada uma das equipas conseguiu vitórias de Pirro (aquele rei do séc. III a.C. que terá dito, depois de uma batalha vitoriosa, que com outra vitória assim estavam perdidos). Nós tivemos o nosso momento Pirro nos 3-0 com que vencemos a Hungria; a Alemanha com os 4-2 que venceu Portugal e a França com o 1-0 que derrotou a Alemanha. Tudo o resto foram empates. Mas lá seguiram estes três para a fase seguinte, os oitavos de final.
Aí, como éramos os terceiros do grupo (com os mesmos pontos do que o segundo, a um ponto do primeiro e apenas mais dois do que o último, mais do que um grupo era um amontoado), calhou-nos a Bélgica, primeira do ranking mundial. Aos franceses, saíram-lhes os vizinhos suíços e aos alemães, os ingleses, contra quem não perdiam em jogos oficiais desde 1966. Pois bem, acabaram todos corridos. Os alemães, com uns significativos 2-0 a favor da velha Albion; os franceses nos penáltis, com o falhanço de Mbappé (no geral é sempre uma estrela a falhar); Portugal com um tiraço de Thorgan Hazard, no jogo em que melhor jogou (na segunda parte).
Portanto, meus caros amigos, tudo isto é uma roleta, no sentido em que o futebol é um jogo. Mesmo! Os aspetos mais ou menos científicos que alguns lhe querem conferir, as estatísticas, a história, o valor de mercado de cada jogador, a valia de cada membro da equipa, apenas dão indicações que podem, ou não, ter validade. O jogo entra na ordem do aleatório quando é disputado entre equipas de nível (e nos oitavos já só estão equipas de algum nível). Se o remate de Raphael Guerreiro fosse um centímetro mais à direita e entrasse, talvez Portugal vencesse a Bélgica; ou se o Fernando Santos colocasse Pedro Gonçalves a jogar (ele é o melhor goleador que temos no campeonato português), em vez de um tão talentoso quanto fatigado Bernardo Silva. Igualmente, se Deschamps não tivesse retirado Griezmann, ou se Mbappé não falhasse o penálti, que aliás o guarda-redes Sommer defendeu com uma dose de sorte. E, ao contrário, quantas vezes Thorgan Hazard marcou um golo daqueles? Quantas vezes Patrício se atrasou a fazer-se a uma bola que entrou no meio da baliza?
Nada a dizer, segue quem segue e os outros voltam a casa. É preferível que o futebol seja assim do que um jogo onde todos sabem que ganha a Alemanha, ou a França, ou, às vezes, Portugal. Claro que ainda estão em prova Itália, Espanha e Inglaterra. Além do nº1 do ranking, Bélgica. Ou seja, ainda há tubarões, depois da razia que atingiu, igualmente, os Países Baixos, caídos aos pés da Rep. Checa. Sem esquecer a dificuldade que nuestros hermanos tiveram para vencer a Croácia, e mesmo a Itália para derrotar a Áustria. Com folga, só passou a Dinamarca contra o País de Gales.
 

E TORÇO POR... 

POR razões familiares complicadas de explicar e que, para mais, não vêm ao caso, na minha família nuclear (mulher e filhas) há quatro nacionalidades: portuguesa, a predominante com mais sangue e passaportes nacionais; espanhola, a que logo a seguir tem mais sangue; belga, a que tem mais passaportes, depois de Portugal; e checa, a menos representada. Ora, destes quatro países, só Portugal se ficou. Nos quartos de final estarão as outras três. Bélgica contra Itália; Espanha frente à Suíça e República Checa a encontrar a Dinamarca.  Ou seja só num jogo, Ucrânia-Inglaterra, não há um motivo, mesmo que remoto, para torcer por uma seleção. No entanto, eu gosto da Inglaterra e penso que vou querer que vá em frente, embora a Ucrânia tenha prevalecido na minha simpatia sobre a Suécia, por motivos que não consigo explicar. No Bélgica-Itália, e não obstante a maldade de Thorgan Hazard e a nossa derrota ser injusta (parecemos voltar aos tempos das vitórias morais…), vou puxar pela Bélgica. É um país onde passei bastante tempo e onde a minha mulher estudou, viveu e trabalhou. Confesso que, como país, nem me atrai muito, tem inúmeras coisas detestáveis, a começar pela chuva e pela burocracia europeia que lá se concentra, mas sinto-me traidor se não apoiar les petits belges. Espanha-Suíça, embora metade da família me mate, gostava de ver a Suíça ganhar… Sei lá porquê; acho que estou um bocado farto da arrogância espanhola, e também não gosto do rumo que as coisas levam naquele país (sim, porque a política também se mistura em tudo isto). Por último no República Checa-Dinamarca tenho as maiores dúvidas… provavelmente tenderei para a Dinamarca, porque são dinamarqueses e a ligação da família à República Checa é mais remota.
De qualquer modo, se continuar esta onda de tomba-gigantes, este último jogo é o único que não tem gigante para tombar. A queda da Itália, da Espanha e da Inglaterra deixaria este Euro com umas meias-finais verdadeiramente inéditas… Só a Bélgica, pelo facto de ser o número um do ranking, poderia ser esperada.
 

Portugal bem tentou, como neste lance de André Silva, mas foi derrotado pela Bélgica


DE VOLTA A CASA

AS férias grandes do futebol são como as do liceu. Estão com tendência a encurtar. Os clubes portugueses estão todos a voltar ao trabalho e o meu Sporting não é exceção, pelo contrário. É a 200 por cento, diz o defesa Neto, com algum exagero. O que importa é que cheguem a 100 por cento ao primeiro jogo da época, que no caso do Sporting é contra o Braga, para a Supertaça.
Até lá temos as andanças das transferências. Há uma semana já me manifestei contra este modelo, quase medieval, de colocar jogadores em clubes, mas é o que há. Sabemos que em risco de saída temos, pelo menos, Palhinha e Nuno Mendes, que serão bons negócios, Porro (?), Nuno Santos (?), Pote (?), além de João Mário. É meia equipa, sem contar com Max, porque temos Adán para continuar, e vários outros que estão tapados por jogadores na mesma posição, como Sporar ou Battaglia, que ainda são do Sporting, mas que o clube tudo fará para os vender, pois prefere, claramente, Paulinho e Tiago Tomás, no caso do avançado, ou Palhinha, no caso do médio.
Reforços, fala-se de Vinagre, que pode ser uma boa malha, de Ugarte, em quem sinceramente não reparei de forma suficiente, e ainda de um jovem defesa, Marsá, de 19 anos, que virá do Barcelona e eu nem sabia que existia (mas a minha confiança em Rúben Amorim é muita). Acima de tudo, temos jovens da Academia, desde Essugo que já jogou na equipa principal, passando pelo muito falado Joelson (idem) e ainda Tiago Ferreira, Pedro Marques (que esteve emprestado), Rodrigo Fernandes, Flávio Nazinho e o guarda-redes Diego. Ou seja, vão existir soluções que não passam por grandes investimentos, o que me parece salutar. Como me parece essencial vender quase 20 jogadores, contando com os já referidos Battaglia e Sporar, mas também Diaby, Ilori, Rosier, Luiz Phellype, Renan e muitos outros que continuam a pesar nos cofres sem nunca jogarem.
A atitude da época passada não pode desvanecer-se. Não se trata de uma candidatura a bicampeões, como se viu com Portugal no Europeu isso pode ser difícil, até por circunstâncias de azar e sorte. Trata-se de jogar com sabedoria, com força e também com a beleza possível, para deleite dos adeptos, que espero possam ir ao estádio e, aqueles que as tinham, retomar os seus lugares de gamebox.
 

RECONTAR

Parece que uma certa sensatez voltou ao Benfica. A transparência é sempre o melhor, e ao decidirem recontar os votos e fazer a Assembleia Geral requerida dão um passo na direção certa. A demissão de Rui Pereira de presidente da mesa da AG não terá sido em vão.
 

EMBIRRAR 

Sou a favor de que Seferovic marque todos os golos que tem a marcar pela Suíça e nenhum pelo Benfica, como compreendem. Mas nunca entendi a espécie de embirração que Jesus parecia ter com o suíço, que mesmo a entrar como suplente ficou a um golo (felizmente) do melhor marcador, o nosso Pote.
 

REVOLUÇÃO

O presidente do FC Porto parece que apelou a uma revolta popular para que haja espectadores nos estádios. Eu acho que é tempo (sobretudo com o certificado) de haver gente no futebol, mesmo com limitações. Não estou a ver é o senhor Pinto da Costa como revolucionário, bem pelo contrário.