O campeonato do Sporting começa à segunda jornada

OPINIÃO12.08.202107:00

No próximo sábado começa o nosso verdadeiro campeonato. Se o ‘aquecimento’ com o Vizela, em casa, correu bem, veremos como encaramos o Braga em casa deles

OSporting entrou neste campeonato melhor do que no último. Se contarmos pela 1.ª Jornada, que no caso de 2020/2021 só foi jogada no final de outubro, quando já se ia para o sexto jogo da competição (o Covid assim o obrigou), embora ganhando por 3-1 em casa, frente ao Gil Vicente, os visitantes marcaram um golo aos 52 minutos e só depois dos 80 o Sporting reagiu. Com Sporar, aos 82 minutos, Tiago Tomás, aos 84’ e, finalmente, Pote aos 90’. Afastado o susto, o Sporting ocupava o primeiro lugar, de onde nunca saiu, até ao fim da competição. Com o Vizela tudo foi mais simples, embora a primeira parte deixasse alguns (eu me confesso) nervosos com o nulo. Porém, no recomeço, o nosso Pote surgiu - e de que maneira! O primeiro golo é uma obra de arte e o segundo, também dele, é outra. Paulinho encerrou as contas do 3-0, e assim ficámos com um resultado que nos permite estar no topo da tabela com o… Gil Vicente e o Tondela, que também venceram por três os seus competidores (Boavista e Santa Clara), além de mais seis equipas, uma vez que não houve empates nesta jornada. Entre os que venceram, estão todos os adversários diretos do SCP que em casa (FC Porto) ou fora (Benfica e Braga) venceram as partidas.
Por isso afirmo que o quarteto do costume no futebol português, composto pelas equipas referidas se desfazerá, inelutavelmente, já nesta jornada. Sejam quais forem os resultados, Sporting, Porto, Benfica e Braga não podem voltar a ganhar todos, porque os bracarenses recebem os leões. Não ficar para trás, nem com um empate que seria teoricamente bom, é outro incentivo à vitória em Braga, que será um feito importante, como o foi vencer a Supertaça, embora as circunstâncias sejam claramente diferentes. Como mais-valia para a vitória, temos Rúben Amorim, Paulinho e (caso jogue) Ricardo Esgaio, todos provenientes do próprio Braga. E ainda, claro, a nossa defesa com Coates no comando, o nosso guarda-redes Adán, e, óbvio, os nossos médios e avançados - de Palhinha a Pote e de Matheus Nunes a Nuno Santos ou Jovane. A equipa tem potencial, disso não tenho quaisquer dúvidas. E quando escrevo a palavra potencial, desta vez não é para ter como objetivo (como na época passada) ir à Champions. É mesmo para vencer de novo o campeonato e fazer o bis, coisa que não acontece há mais de 65 anos, na realidade desde que o Sporting venceu o seu tetra, entre 1950/1951 e 1953/1954.
 

VAMOS AO BIS

UM campeonato ganho em 2022, o segundo consecutivo, afigura-se, deste modo, um feito histórico. Se ganhar o campeonato ao fim de 19 anos foi o que foi - e tantos sócios não se lembravam já de tal sucesso - ganhar dois seguidos é coisa para estar na memória de muitíssimo poucos. Só quem tiver mais de 70 anos, ou mesmo um pouco mais, se pode lembrar de tais glórias. Não é o meu caso. O primeiro campeonato ganho pelo Sporting comigo no mundo foi em 1958 (e já tinha dois anos), e até aos meus 26 ganhou mais seis, de que me lembro. Os restantes três (2000, 2002 e 2021) já são de outra vida. Recordo a inveja que sentia ao ouvir o meu avô e o meu pai, além de outros familiares, falar dos Cinco Violinos e das glórias sportinguistas, vivendo eu no tempo do Benfica de Eusébio que ganhava quase tudo (três campeonatos seguidos, sem nunca alcançar o tetra do Sporting), sendo apenas de quando em vez (ao fim de três campeonatos) interrompido pelos de Alvalade. Isto foi entre 1962 e 1974; depois, quem interrompeu foi o FC Porto, em 1978, com uma fome mais uma vez interrompida pelo Sporting, em 1980 e 1982, para voltar o Porto ao comando e o Benfica a encontrar um lugar secundário; digamos que fazia ao Porto o que o Sporting lhe fizera.  Mas, em 1999, o Porto chega ao penta (com Fernando Santos ao comando), retirando o recorde do tetra ao Sporting. Este, como que para se vingar, ganhou em 2000, mas perdeu para o Boavista, inacreditavelmente, em 2001, voltando a ganhar em 2002. Daí para cá, conhece-se a história do Sporting: só este ano venceu de novo. Pelo meio, em 2017, foi o Benfica a chegar ao tetra, igualando o Sporting em número de campeonatos seguidos, mas deixando o recorde de cinco vitórias consecutivas no campeonato para o Porto.
O desafio - difícil, tremendo, terrível -, que exigirá esforços hercúleos ao treinador e a todos os jogadores, depende também da forma como ficar o plantel depois das investidas dos tubarões europeus. Embora acredite que o Sporting tem mais do que um bom jogador para todas (ou quase) as posições, não há dúvida que perder um ou outro é diferente de perder três ou quatro.
 

Segundo golo de Pedro Gonçalves na receção ao Vizela: mais uma obra de arte

FAZER UMA EQUIPA

NATURALMENTE, e com a sua sensatez habitual, Rúben Amorim diz que não quer que saia nenhum dos jogadores que lá estão. Isso engloba, como é óbvio, Pedro Gonçalves (Pote), Pedro Porro, Nuno Mendes e Palhinha. Pelo menos.
O problema é que todos eles são pretendidos, pelo que é quase inevitável que a SAD sacrifique uma destas estrelas, em nome da estabilidade financeira. Rotativamente, surgem nomes que estarão praticamente a ser vendidos. Felizmente, nenhum deles o foi, até hoje. Dessas revoadas que surgem, Palhinha foi o último… toda a gente, e em especial o Tottenham, o quer. Eu acredito que Nuno Espírito Santo, agora ao comando do histórico emblema inglês (de onde partiu, sem glória, José Mourinho), queira o médio sportinguista. Teremos de ver se o Sporting facilita uma venda na ordem dos 25/30 milhões de euros, ou se a dificulta. O mesmo se pode dizer de qualquer dos titulares sportinguistas. Apenas Max merece ser colocado, porque Max merece jogar. E se Adán lhe tomou o lugar - com mérito e exibições fantásticas - é justo não manter um guarda-redes com a classe de Luís Maximiano no lugar de suplente.
A receita para manter o maior número de jogadores possível - se não todos - é, também ela, desportiva. Se o Sporting fizer uma boa campanha nacional e, sobretudo, na Liga dos Campeões (passar a fase de grupos rende muito dinheiro), pode manter a equipa intacta; como em todas as boas equações, o problema é que para fazer uma boa carreira, há de precisar de todos os jogadores que os outros querem comprar.
Que fazer, portanto? Bem, essa tem de ser a arte da direção da SAD e da direção do Sporting. Mostrar que não é como aqueles clubes que se desgraçam quando sobem de divisão, ou ganham campeonatos, mas tornar normal a vitória e a candidatura à vitória em todas as provas. Se será capaz, começaremos a ver, já no sábado, quando jogar contra o Braga.
Até agora, os sinais são bons. Os reforços Esgaio, Vinagre e Ugarte auguram boas apostas, e os dois primeiros já demonstraram que conseguem fazer boa figura em lugares de indiscutíveis como Porro e Nuno Mendes. De Ugarte, apenas espero que não esteja a entrar, para alguém sair… E, caso seja isso, que ele seja tão bom ou melhor do que aquele que sai.
 

JOGAR FORA

Pichardo — Sinceramente fiquei perplexo com a polémica acerca da nacionalidade do campeão olímpico de triplo salto. É português, não tenho dúvidas. E além disso é do Benfica, sendo que Nelson, grande herói do Sporting, nesta matéria, andou mal (redimiu-se ao dar-lhe os parabéns). De qualquer modo, mais infelizes são as vozes do PCP que lamentam ter Pedro Pablo fugido de Cuba. De facto, há gente que tem dos paraísos uma visão idílica. Em suma, ao português Pedro Pablo Pichardo, muitos parabéns e muitas felicidades.

Benfica — Entrou bem no campeonato e melhor na eliminatória da Liga dos Campeões, contra o Spartak. Veremos o que fará contra o PSV, mas Portugal ter três equipas na fase de grupos da Liga dos Campeões é ótimo. Venham os pontos!

Messi — Que o Barcelona joga sem Messi, já o provou frente à Juventus; que Messi joga sem o Barcelona ver-se-á. Esta ideia, que não é roubada ao que Gonçalo Guimarães aqui escreveu ontem, embora pareça, é a chave para entendermos a falta que faz o argentino no plantel dos franceses.