11 março 2025, 10:25
Como se combate a intolerância no desporto?
O poder da palavra é o espaço de opinião semanal de Duarte Gomes, ex-árbitro e atual comentador de arbitragem
O poder da palavra é o espaço de opinião semanal de Duarte Gomes, ex-árbitro e atual comentador de arbitragem
Não há muito que se possa dizer em relação ao tema arbitragem que já não tenha sido dito por muitas outras pessoas.
Convém contextualizar: os árbitros são os patinhos feios desde sempre. Foram inventados para tentar dar ordem ao caos que era o jogo jogado sem regras nem limites. A ausência de ordem era compensada pelo prazer puro do jogo, pela liberdade total das peladas desorganizadas, que só terminavam quando anoitecia ou quando o dono da bola ia para casa. Mas o entusiasmo crescente, o aumento do número de praticantes, a fundação de alguns clubes e o início de competições locais criaram a necessidade de introduzir a figura de um vigilante, alguém que zelasse pelo cumprimento de regras básicas.
Daí para cá é o que se sabe. A diferença é que os desmancha-prazeres passaram a ser corruptos e ladrões. Hoje é tudo diferente. A classe está sob constante fogo cruzado, onde cada lance, cada decisão apertada, é esmiuçada frame a frame.
É nesta selva tecnológica que moram aqueles que ainda têm a coragem de abraçar esta carreira. A tal minoria, que assume o risco de fazer, em detrimento da maioria que prefere criticar — vá lá, inscrevam-se, tirem o curso e venham para este lado.
Há duas formas de olharmos para a classe dos árbitros, para o seu papel no futebol: uma mais intrínseca e outra que vem de fora para dentro.
11 março 2025, 10:25
O poder da palavra é o espaço de opinião semanal de Duarte Gomes, ex-árbitro e atual comentador de arbitragem
Clubes, adeptos, Imprensa, todos esperam uma única coisa das arbitragens: boas decisões. E isso faz todo o sentido! De facto, o que se pretende é que exista justiça, muito acerto, poucos erros e zero impacto na verdade desportiva. Certíssimo!
Do lado de dentro, do nosso lado, esse objetivo é fundamental, naturalmente, mas o caminho percorrido para lá chegar é ainda mais importante. Não conta só o resultado, mas a forma como ele é alcançado.
Reparem: existem cerca de quatro mil árbitros no ativo em Portugal. Têm idades e personalidades diferentes, experiências e maturidades distintas. Uns têm mais propensão física, outros mais destreza psicológica. Uns são mais emotivos, outros mais pragmáticos. Uns são mais introvertidos, outros mais sociáveis. Uns estão mais motivados, outros apenas conformados.
Gerir tanta gente com tantas sensibilidades, oriundas de realidades sociais e regionais contrastantes, não é fácil. Pior ainda é conseguir afunilar pela qualidade, sem ferir a necessidade de termos árbitros em todos os jogos de todas as competições — e são tantas no País.
O desafio é tremendo mas possível, se aplicado com rigor um plano estratégico de ação, faseado no tempo.
O futebol português, tal como o que se joga em todas as outras ligas do mundo, nunca terá arbitragens perfeitas. Haverá erros, alguns dos quais comprometedores e impactantes. Ontem, no dia anterior, na semana passada e na semana antes dessa isso aconteceu. Aconteceu com decisões dos árbitro e com decisões de jogadores de topo, que redundaram em golos dos adversários. Custa, mas faz parte. É o preço da humanidade.
4 março 2025, 08:00
O poder da palavra é o espaço de opinião semanal de Duarte Gomes, ex-árbitro e atual comentador de arbitragem
A boa notícia é que, na arbitragem, é possível atenuar essa falibilidade. Os erros podem diminuir, os acertos podem aumentar e, mais importante, a perceção de credibilidade dos próprios árbitros, a sua imagem e autoridade, pode ser melhorada.
O novo Conselho Nacional de Arbitragem tem em mãos um plano pensado para três ciclos (doze anos), que terá seguramente todo o apoio, em termos de investimento, da Federação Portuguesa de Futebol. Terá por isso todas as condições e meios para criar uma nova arbitragem, um novo modelo de árbitro português, um antes e um depois.
O futebol agradece. Os árbitros também.