O 7 é muito mais que um número no Real Madrid, principalmente nas grandes noites europeias (Foto: IMAGO)
O 7 é muito mais que um número no Real Madrid, principalmente nas grandes noites europeias (Foto: IMAGO)

O Bernabéu não tem explicação

OPINIÃO16.04.202509:30

O Real Madrid é o único clube que não precisa de jogar bem para fazer acreditar quem o apoia e quem está contra de que virar um 0-3 é mais uma noite no escritório

É uma cultura especial, talvez única: o Real Madrid, no alto do seu impressionante palmarés de 15 UEFA Champions League,  orgulha-se de sofrer só para poder mostrar de que massa é feito em casa própria, diante dos seus adeptos. Aquilo que nasceu como uma circunstância nos anos 80 do século passado tornou-se parte do seu ADN e nem mesmo nos tempos em que contou com o seu melhor jogador de sempre, Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro de seu nome, evitou conquistar a orelhuda sem passar pelo crivo do impossível em muitas fases do processo.

No alto da sua genialidade, Jorge Valdano caraterizou o ambiente do Santiago Bernabéu como «medo cénico», algo que apenas acontecia nas noites europeias nos tempos em que além dos 100 mil lugares sentados  somavam-se mais 10 ou 20 mil de pé. Coisas de outra época. Duas Taças UEFA foram assim conquistadas há 40 anos e os episódios que se seguiram nas décadas seguintes serviram para fazer crescer a lenda.

Quando se recorda, por exemplo, como o Barcelona ganhou os seus troféus a primeira coisa que nos vem à cabeça é a qualidade do seu futebol; no Real, é a aura do Bernabéu. Nuns, o talento dos seus jogadores; noutros, uma transcendência de um local que pede meças ao divino, independentemente de os protagonistas se chamarem Ronaldo, Benzema, Mbappé ou Juanito, o autor da máxima «90 minuti  en el Bernabeu sono molto longo», dirigindo-se aos jogadores do Inter, naquela fúria espanhola e cujas palavras viriam a tornar-se frase de placa — e por isso ao minuto 7 (o número da sua camisola) se ouve sempre um sonoro aplauso no estádio.

O Real Madrid será porventura o único clube no mundo que mesmo estando a jogar mal é capaz de acreditar e fazer acreditar todos os que o apoiam e os que não o apoiam de que alcançar uma reviravolta após derrota por 0-3 é apenas mais um dia no escritório. Ainda para mais com Carlo Ancelotti, um treinador que não ficará na história por obras de autor do ponto de vista futebolístico, mas será lembrado como um dos melhores gestores de balneário da história deste desporto. E como os blancos hoje não precisam de tática, mas de alma, é legítimo pensar que Carlo Ancelotti estará mais uma vez na sua praia, preparando-se para a enésima aula de como sacar o extra mile a cada um dos 11 ou 16 jogadores que colocar em campo — ou como normalmente se diz: coisas que o futebol não explica.

O adversário também importa. Porque se de um lado emerge um predador que tem vitória escrito no seu código genético em letras garrafais, do outro está um clube cuja dimensão social e financeira é superior às suas conquistas, alimentando um certo complexo de inferioridade. Se há clube que pode dar a volta a um 0-3 é o Real Madrid, se há clube que pode perder uma vantagem de 3-0 é o Arsenal, é o que dizem as línguas mais viperinas (mesmo que os gunners já tenham eliminado os merengues no passado).

PS: Donnarumma foi a grande figura da derrota que soube a vitória do PSG em Birmingham, diante do Aston Villa. Foi mais uma prova do quão completa é esta equipa esculpida ao detalhe por Luis Enrique. Quanto mais passa o tempo, mais acredito que é o principal candidato à conquista da Champions. Desde que o destino não o encaminhe para o medo cénico.

'Gunners' empataram pela segunda vez consecutiva na Premier League, desta vez em casa diante do Brentford, antes de visitarem o Bernabéu. #DAZNPremier
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