Kokçu colocou em causa a hierarquia e a disciplina do grupo, e deve ser punido. Mas tem razão na maior parte do que disse...
Confesso que concordo com a maior parte dos argumentos expostos por Orkun Kokçu na entrevista ao De Telegraaf. De facto, não faz sentido que um clube, a pedido do treinador, embarque no maior investimento da sua história, e depois coloque aquele que foi pago como jogador-referência do projeto de Roger Schmidt, como tapa-buracos, uma vez aqui, outra vez ali. E que não lhe seja dada continuidade onde, realmente, rende mais. E que se lhe retire a confiança, substituindo-o com frequência, ou deixando-o no banco. Roger Schmidt pediu Kokçu, campeão e melhor jogador da Liga dos Países Baixos na última época, a Rui Costa, dando como garantia a profundidade com que conhecia o jogador e a forma como iria encaixá-lo na equipa; e, afinal de contas, a colocação, o rendimento, e o resultado do investimento encarnado tem andado a milhas daquilo que seria expectável. Dito isto...
Numa grande entrevista à publicação neerlandesa 'De Telegraaf', o médio internacional turco do Benfica confessa-se revoltado, não poupa Schmidt e reclama maior protagonismo na equipa
Não sei quantas conversas terá havido entre Schmidt e Kokçu, antes do internacional turco ter dado o grito do Ipiranga na entrevista ao De Telegraaf. Presumo que o treinador alemão não seria alheio ao mal-estar do seu jogador pelo facto de estar a ser utilizado fora da posição onde pode fazer, realmente, a diferença. Mas, nestas coisas, manda quem pode e obedece quem deve, com mais ou menos Kompensans no percurso. É da vida, só podem entrar em campo onze jogadores, e há cinco substituições que podem ser feitas, e quem tem a última palavra, quer na escolha dos titulares, quer na sua colocação no terreno, quer nas trocas ao longo da partida, é o treinador. Nunca hei de esquecer uma frase que ouvi a Johann Cruyff, no dia da apresentação de Luís Figo em Barcelona, num contexto em que o técnico neerlandês andava de candeias às avessas com o presidente blaugrana, Josep Lluís Núñez: «Neste clube, em relação à equipa principal de futebol, o presidente só tem um poder: despedir-me. O resto é tudo comigo.»
Resumindo, por mais razões que lhe assistam (e, como já disse, simpatizo com a maior parte delas...), Kokçu errou quando levou para a praça pública coisas que devem ser resolvidas entre as quatro paredes do balneário. E colocou em causa a hierarquia. Sem ela, instala-se a indisciplina e a anarquia, e o naufrágio é certo. Por tudo isto, deve ser punido, na medida certa. Vendo a floresta, e não a árvore.