O balneário

OPINIÃO08.06.201804:00

RICARDO QUARESMA recordou em recente entrevista como Pedro Barbosa o recebeu no balneário da equipa principal do Sporting. Diz ele que recebeu o cesto do equipamento e ficou à espera de saber onde se iria sentar. Não sabia qual o cacifo que lhe estava destinado, e não podia ocupar o lugar de qualquer outro jogador, sobretudo dos mais antigos ou de maior prestígio. O capitão recebeu-o e indicou-lhe o lugar.

Tudo isto parece algo muito simples, mas tem um valor enorme na construção de uma equipa. A chamada mística começa quando se entra pela primeira vez no balneário. Quem nos recebe, e como nos recebe, marca o inicio do processo. Os clubes, e as equipas, têm referências e uma identidade que determina a atitude do grupo. Não há nada mais importante do que a relação humana, e a liderança do grupo assume e impõe valores que os mais novos nunca esquecem, sendo eles próprios a passarem esses mesmos valores anos mais tarde. Muda-se de treinador ou presidente, de médico ou fisioterapeuta, mas os valores do clube e da equipa são passados em primeiro lugar pelos jogadores com mais anos de clube, que nem sempre são os mais velhos.

A rotação de jogadores dentro das equipas tem vindo a aumentar com a globalização do jogo, é bem verdade, mas também porque quem dirige não percebe a importância das referências dentro de um balneário. Tem até receio da sua importância, seja junto dos restantes jogadores, seja junto dos adeptos. Um erro cada vez mais comum. As equipas precisam de reforços mas não precisam de revoluções contínuas. Mesmo quando não se ganha com frequência há muito que se consegue aproveitar. Por quem sabe e por quem percebe estarmos sobretudo no campo das relações humanas.

Com mais dinheiro conseguem-se, em teoria, melhores equipas. Mas sem um bom balneário as possibilidades de sucesso reduzem-se vertiginosamente. Os jogadores são o elemento mais importante do jogo e os líderes fundamentais para o sucesso.