Novo quarteto na defesa

OPINIÃO12.06.202004:00

Jorge Nuno Pinto da Costa

Como se previa, foi (re)eleito para mais um mandato (presumivelmente o último) como presidente do FC Porto. Seria redundante falar agora em balanços ou em sentimentos, quando estão em causa mais de três décadas de exercício contínuo de poder. Mas não posso omitir que muito apreciei a eleição de duas lendas vivas do clube, como indiscutivelmente são os antigos futebolistas Fernando Gomes e Vítor Baía. E também de pessoas que respeito e admiro, como são os casos muito particulares de Rui Moreira e Pedro Marques Lopes.

Nakajima

Não sei nada do japonês. Quer dizer, sei que não há ninguém no actual plantel portista dotado de semelhante conjugação de técnica e imaginação. Ou seja, de capacidade de desequilíbrio. O que, num campeonato que pode ser decidido por coisas como um fora de jogo com 3 cm, faz toda a diferença. Leio que tal se deve ao medo de contágio do vírus chinês. Espero e desejo, naturalmente, que nada de mal suceda com ele e com os seus. E também que esta história não seja um biombo que oculte outras motivações ou condições.

Quem quer jogar como defesa?

Para Marcano, titular indiscutível no centro da defesa, a época já havia terminado. Agora, para a próxima jornada, o dragão vai ter de jogar também sem ambos os defesas laterais, por motivos similares (Manafá pelo 5.º amarelo, Alex Telles por expulsão devida a duplo amarelo). Ou seja, vai alinhar sem 3 dos seus habituais titulares. Vamos ver assim actuar, pela primeira vez, o Quarteto Três Irmãos Pepe & Mpemba. Desejavelmente acompanhados pela estreia de Tomás Esteves.

Um par de três boas notícias

No dizer do povo, uma má notícia nunca vem só.  Desconheço se existe simétrica sentença para as boas. Mas esta semana tivemos - tivemos, nós os portistas - não uma, não duas, mas três boas notícias: i) a primeira foi o anúncio da renovação com Tomás Esteves; ii) a segunda consistiu na estreia de Fábio Vieira no último desafio com o Marítimo; iii) a terceira decorre da difícil vitória ante tal adversário.

Zainadine

Por falar na equipa maritimista: há muito, muito tempo, que me intriga o que andarão os olheiros - perdão, o scouting - a fazer durante o calendário de jogos dos madeirenses. Já alguém viu Zainadine com olhos de ver? Depois de três temporadas no Nacional e uma na China, está a completar a quarta consecutiva no Marítimo. Bem sei, bem sei, que não foi formado numa escola de especial renome (o Desportivo do Maputo), que não dispõe do aparato físico hoje inscrito no protótipo dos centrais (tem apenas 1,78m) e que, com 31 anos, já não é uma promessa. Mas ninguém me tira da cabeça que teria lugar em qualquer equipa dos chamados grandes.

Reflexões violentas

Parece difícil de entender, mas a verdade é que, nos dias de hoje, há mais violência fora dos estádios do que nas bancadas ou nas suas cercanias. Sim, em parte, tal deve-se à proibição regulamentar que impede os adeptos de assistir aos jogos ao vivo, circunstância que, por natureza, inibe o confronto directo entre apoiantes de cada emblema. Em contrapartida, regista-se uma proliferação de arenas onde não raro campeiam manifestações que carburam a ódio. Como se já não bastassem algumas crónicas panfletárias em que o desprezo para com os rivais anda de par com uma visão mitómana das suas excelsas personagens. Em todo o caso, não é destes umbigos que irrompe a violência. Infelizmente o mesmo não se poderá dizer de alguns dos chamados painéis, debates ou mesas redondas, onde se exibem em feroz concurso o fanatismo pelas cores próprias de cada um e o insulto aos árbitros e aos adversários.

Não será expectável que discutam o seminal ensaio Sobre a quadrúplice raiz do princípio de razão suficiente - Uma dissertação filosófica, de Arthur Schopenhauer. Creio, porém, que não faria mal nenhum, nem aos menos educados nem aos mais lúcidos, se uns e outros experimentassem transmutar tais ostentações de gritos e berros num cerebral confronto de retórica e dialéctica. Para tal efeito permito-me aqui recomendar um manual de instruções da autoria do mesmo filósofo e que atende pelo seguinte sugestivo título: «Como vencer um debate sem precisar de ter razão: os 38 estratagemas de Artur Schoppenhauer.» Para ficarmos todos com uma ideia, perfunctória que seja, sobre o material em questão, bastará lembrar, creio, que o 1.º de entre esse lote de 38 se reporta à Ampliação Indevida, que postula «levar a afirmação do adversário para além de seus limites e exagerá-la», enquanto o 38.º e último sugere o uso do Argumentum ad personam, deixando de lado o  verdadeiro objeto da discussão para atacar o adversário. Mais invoca o que Temístocles disse a Euribíades: «Patazon men, akouson de.» («Bate, mas escuta»).