Noção > Lucro
John Textor (Foto: IMAGO)
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OPINIÃO08.12.202309:20

Quem já se sentou à mesa com o presidente do Nápoles, Aurelio Di Laurentiis, prova o que é transparência bruta e crua. Na hora de considerar como se ganha um Scudetto em Itália de forma regular, Aurelio junta a sorte à batota. Para ele, não se consegue ganhar todos os anos se «não fizeres batota». 

Aurelio não será punido pois o meio onde convive é, historicamente, pródigo em corrupção: em 1980 destapou-se esquemas de match fixing, depois veio o Totonero em 1986, mais tarde, em 2005 e 2006, desvendaram-se relações ilegais entre dirigentes e árbitros, já em 2011 a Série B trouxe novamente a manipulação de resultados e em 2015 prenderam-se 50 com base em lucro com apostas desportivas. 

Aurelio, ao falar «com a sua verdade», certamente não será punido. Já John Textor pode ficar indignado com o Brasileirão mas apelidá-lo de «piada» depois do brutal investimento que fez no Botafogo, não é inteligente. Este referiu que a parte final do seu clube brasileiro foi «incrivelmente desapontante» mas está fora dele quando decide contratar uma empresa para criar um relatório que prove que o Botafogo deveria ter terminado com mais 21 pontos do que o Palmeiras para vir impugnar o campeonato junto dos tribunais comuns. 

Textor já havia considerado como «corrupção e roubo» o jogo que perdeu frente ao Palmeiras, tendo sido suspenso 30 dias pelo Supremo Tribunal da Justiça Desportiva. Mais vale avaliar primeiro o setor onde se vai meter. A forma, quantias e timings como investiu através da sua Eagle Football Holdings LLC revelam pressa em ganhar. 

No futebol não é suficiente ter dinheiro para ganhar. Há ligas cuja maior valia é a sua própria cultura. O RWD Molenbeek (Bélgica) e FC Florida (EUA) não acarretam grande valor (desportivo e financeiro). Mas 46% do Crystal Palace permitem aposta sólida num interesse financeiro (juro fixo) pela forma como a Premier funciona. Aqui não investiu para ganhar. 

Já o Botafogo e Lyon são barris de pólvora num habitat onde florescem torcedores e ultras. O clube francês tem histórico (e adeptos) a respeitar, nem que seja pelas suas sete ligas consecutivas. Não há dinheiro que seja suficiente para respeitar a história, pois não são possíveis de serem adquiridos.