«Neymar será rei ou bobo da corte»
Neymar quer ser o sucessor legítimo de Cristiano e de Messi. Tem, porém, um problema sério para resolver: acha que o seu inesgotável talento chega para ser o melhor. Não chega. Cristiano e Messi sabem disso desde o primeiro minuto em que também quiseram ser os melhores. Perceberam, cedo, que têm de ser exemplos de competência, de perseverança, de força mental, de trabalho. Mesmo aos melhores, as coisas nem sempre correm bem e, aí, há que lutar ainda mais para não cair na vulgaridade.
Neymar, quando os ventos estão contra ele, esconde-se em cerimónias de cavalinho de circo e finge não ser melhor porque não quer, ou nem sequer precisa. E isso irrita profundamente o adversário. Irrita-o tanto que o adversário jura a si próprio que aquele ser arrogante e vaidoso não passará. Cada bota de chumbo perante Neymar, torna-se, assim, numa passionaria do futebol, com o seu lendário grito de guerra: «Non passaran!»
Neymar tem condições para ser a figura deste Mundial e ganhar espaço para conquistar o prémio FIFA. Mas não pode continuar a ser o brasileiro indolente, que leva o seu violão para o jogo e no momento de sofrer, samba; e no momento de lutar, canta; e no momento de suar pela equipa, pede para si toda a iluminação do palco.
No jogo com a Suíça, Neymar preocupou-se mais em mostrar o seu feérico corte de cabelo do que em jogar futebol. Teve momentos em que jogou à bola, como se fosse menino de pelada, toques brilhantes de calcanhar e manifestações de habilidade pura. Nunca, como acontece com Cristiano ou com Messi, se atreveu a pensar que a equipa precisava que ele a puxasse para cima, precisava dele como exemplo de maestro e não como solista de orquestra.
Sejamos claros: Neymar tem tudo para estar na primeira linha de sucessão do rei, mas não pode continuar apenas a querer ser. O estatuto que ambiciona é demasiado exigente e, por vezes, ironicamente, torna especialmente fina a linha entre ser o rei ou ser o bobo da corte.
VÍTOR SERPA
Diretor do jornal A BOLA