Não há de ser desta

OPINIÃO23.03.202205:30

Portugal não falha uma fase final desde 1998, mas para ir ao Catar tem de puxar dos galões e impor-se. Sem receios nem cautelas excessivas

S E tudo nos correr bem, na manhã da próxima quarta-feira milhões de cidadãos italianos, a caminho do emprego, lerão nas bancas manchetes lacrimejantes como: Ancora Italia KO: Addio Mondiale! Otto Anni Senza Mondiali!, Che fiasco: l’Italia non c’è !, Catastrofe a Porto: Italia eliminata!, Cristiano punisce gli Azzurri, Perché Roberto?!?... e lamúrias assim. Quererá isso dizer que Portugal ganhou os dois jogos do play-off no Dragão (Turquia e Itália) e que os italianos, obviamente, ganharam a sua meia-final em casa (no Estádio Renzo Barbero, em Palermo) contra a simpática Macedónia do Norte.
É claro que para nós era preferível que a simpática Macedónia do Norte fizesse o obséquio de eliminar os italianos e jogasse a final connosco - acreditando que é mais fácil derrotar os macedónios do que os campeões da Europa; mas devemos ser realistas e dizer que Portugal-Itália é a final mais plausível, sublinhando, já agora, que a Turquia de Stefan Kuntz deve ser encarada com muito respeito pela selecção que não conseguiu sequer cumprir o mínimo de empatar com a Sérvia em casa: nós.
Há outra hipótese relativamente às manchetes da próxima quarta -feira que não são nada do nosso agrado, mas temos de imaginá-las: «24 anos depois, Portugal falha o Mundial»; «Adeus Mundial» (com um primeiro plano das lágrimas de Cristiano); «O fim de uma era», «Não vamos lá», «Portugal KO: adeus Catar», «Veneno Italiano», «Não Mereceram», «Fim de Ciclo», «Adeus e Obrigado» e por aí fora. Se forem estas as manchetes, será realmente o fim do ciclo de Fernando Santos como seleccionador (ele disse que saía se Portugal não se apurasse) e, mais que provavelmente, o último jogo mundialista de Cristiano pela Selecção, dada a idade do capitão (37 anos). O resto se verá.
A eliminação da Selecção será sempre um revés desportivo e financeiro (para a FPF) relevante, mas não será drama nenhum - drama, meus amigos, é o que os bravos ucranianos estão a sofrer há um mês às mãos do agressor russo; a eliminação apressará, quando muito, a renovação da equipa nacional e o início de uma nova era, mas não significa mais do que isso. Repito: nenhum drama. A Itália falhou o Mundial de 2018 e três anos depois ganhou o Europeu. Creio que na federação todos têm consciência disso. Portugal é uma potência futebolística estável e sólida e não será um eventual falhanço a pôr em causa tudo o que se conseguiu nos últimos vinte anos. Tem jogadores para continuar a ser feliz por muitos anos.
Também consigo imaginar as manchetes da Imprensa internacional consoante o ausente seja a Itália ou Portugal. Se for a Itália, todos sublinharão o facto de ser a primeira vez que a  azzurra falha dois Mundiais seguidos - ainda por cima na condição de campeã europeia! A não qualificação será uma tragédia para os emotivos adeptos italianos e uma forte contrariedade para o país organizador, já que a Itália é, ao lado do Brasil e da Alemanha, uma das três selecções realmente icónicas (ia escrever imprescindíveis) da prova.
Se for Portugal a falhar, os jornais de todo o Mundo colocarão o enfoque na ausência de Cristiano Ronaldo e no tremendo golpe (desportivo-mediático-financeiro) que representa para a competição e para as expectativas dos cataris. Se fosse Messi a falhar seria exactamente a mesma coisa.
Ronaldo, recentemente consagrado pela FIFA como o maior goleador de todos os tempos, ainda é a estrela máxima do futebol mundial, uma figura seguida e idolatrada por milhões de adeptos nas redes sociais e nos quatro cantos do planeta.
Portugal não falha uma grande competição desde o Mundial de 1998, mas para ir ao Catar tem de puxar dos galões e impor o seu futebol. O foco primordial deve ser esse, e não a neutralização dos pontos fortes do adversário. Sem receios nem equilíbrios (perdão: cautelas) excessivos. Boa sorte, Selecção. E obrigado por tudo engenheiro Fernando Santos, consiga ou não a qualificação. O senhor deu-nos tanto!
 

Fernando Santos anunciou que deixa a Seleção se Portugal não se qualificar para o Mundial


QUINTA SINFONIA (INCOMPLETA)

Fernando Santos luta pela quinta qualificação para uma fase final desde o Europeu de 2016 e pela primeira vez disputa um play- off. Se for bem sucedido, é o primeiro a conduzir Portugal a dois Mundiais e a dois Europeus. Santos é o nosso seleccionador mais bem sucedido em todos os aspetos (títulos, jogos, vitórias, qualificações e presenças em fases finais de grandes competições) e regista um único falhanço em campanhas de apuramento (Liga das Nações de 2021). Em cima a lista dos seleccionadores que disputaram pelo menos duas campanhas de qualificação com a Selecção Nacional.


FRANÇA, QUE POTÊNCIA!

I MPRESSIONANTE a autoridade com  que a selecção francesa de râguebi, liderada pelos magníficos Antoine Dupont e Romain Ntamack, cilindrou a Inglaterra (25-13) e  limpou o Torneio das Seis Nações com vitórias em todos os jogos (primeiro Grand Slam desde 2010). Depois desta demonstração de superioridade sobre os velhos rivais continentais, o XV que Fabien Galthié  transformou numa máquina ganhadora em apenas três anos é agora favorito n.º 1 no Mundial que a própria França organiza em 2023, já que nem a própria Nova Zelândia (a não ser que mude de treinador…) parece ter argumentos para travar o cilindro bleu. Os próximos tempos prometem emoções fortes à velha e chauvinista Gália, já que no outro desporto favorito dos franceses - o futebol - a fortíssima selecção de Didier Deschamps (Mbappé, Benzema, Griezmann, Coman, Giroud, Pogba, N’Golo Kanté, Camavinga…) parte favorita à revalidação do título no Mundial do Catar, em dezembro próximo.
Se pensarmos que desde a viragem do milénio a França ganhou 224 medalhas olímpicas (ouro: 62; prata: 80; bronze: 82), todas as competições no futebol (Mundial, Europeu, duas Taças das Confederações e uma Liga das Nações), mais cinco títulos mundiais e três títulos europeus no andebol, e títulos europeus no voleibol (2015) e no basquetebol (2013), é caso para ter muita inveja do diário L’Équipe, que pode fazer as manchetes com tudo o que não seja futebol. França, que grande potência desportiva!