Liga aquece motores

OPINIÃO24.02.202114:55

Que o clássico que aí vem seja um jogo memorável e sem manchas!

Àmedida que a competição avança, as equipas concentram-se na classificação. Boavista e Gil Vicente vencem para fugir à despromoção. Paços de Ferreira, no confronto direto, ganhou distância ao V. Guimarães no acesso a lugar europeu. Famalicão surpreendeu Rio Ave. O SC Braga ganhou ao Tondela, mantendo dinâmica de vitória e elevada classificação.
 O Benfica, a sofrer consequências de um início de campeonato com indecisões e sem estabilidade, empatou em Faro, sem golos e com falta de confiança, perante um adversário que soube fechar espaços e tentou criar lances de perigo. Sporting venceu Portimonense em jogo muito disputado. O FC Porto, na luta pelo título, foi à Madeira derrotar o Marítimo, num jogo intenso até ao fim.
FC Porto marcou cedo e Marítimo igualou de seguida. Num relvado a exigir esforço, houve emoção, raça, muitas paragens, mas o talento e a criatividade do jovem Conceição, conseguiu superar a forte organização defensiva local e, nos momentos finais, criou o lance que permitiu o golo da vitória. O envolvimento dos jogadores do campeão nacional é exemplar.
A Liga está a entrar numa fase de decisões muito importantes. A arbitragem precisa de manter estabilidade nos jogos, competência, coerência de critérios, imparcialidade e muita concentração, para evitar falhas que podem ter consequências decisivas e desastrosas. Que o clássico que aí vem seja um jogo memorável e sem manchas.
 

Provas europeias 

NA Champions, o FC Porto, no Dragão, venceu a Juventus, pela primeira vez, com um plano estratégico rigoroso e eficaz. Com linhas juntas e saídas em bloco para o ataque, FCP surpreendeu o adversário.
Excelente prestação de equipa compacta, arbitragem de grande qualidade e só uma falha individual de marcação possibilitou o golo italiano. Em Turim, aguarda-se um FC Porto ainda mais forte.
Na Liga Europa, o SC Braga perdeu em casa por 0-2, perante a Roma resultadista que manteve o controlo do jogo pela ineficácia adversária.
No estádio Olímpico de Roma, o Benfica defrontou o Arsenal, chegou a estar em vantagem mas em dois minutos deixou-se empatar. Foi a estreia do central Lucas Veríssimo, a precisar de reforço de preparação para se integrar com eficácia. Na segunda mão, esta semana, está tudo em aberto.
 

Controlar vícios

1A Liga Portuguesa de Futebol Profissional pretende organizar, em março, mais um encontro de treinadores. Esses encontros anuais, fugazes e mais de confraternização do que análise profunda, foram designados Thinking Football. Será sempre preferível um conjunto de reuniões temáticas, para elaborar um manual de recomendações para o futuro do nosso futebol. As mudanças formais nunca são estruturais: nada muda, nada se acrescenta. É urgente muito mais. 

2As Federações que integram a UEFA não se podem distrair com estratégias que andam a ser preparadas há anos, como denuncia o presidente das Ligas Europeias, à volta da Super Champions, alertando para o aumento do número de jogos (de 125 jogos para 225 por época).
A UEFA e a Associação de Cubes Europeus (ECA) pretendem criar seis séries de seis equipas; os dois primeiros de cada série são apurados para os oitavos da final, juntamente com os quatro melhores terceiros classificados.
Dez jogos garantidos para todas as equipas e dezassete jogos para os finalistas. Com a ilusão de mais jogos e maiores receitas, tornar-se-á difícil harmonizar os calendários da UEFA com os campeonatos nacionais. A dimensão da Nova Champions (ainda por aprovar) beneficiará as grandes equipas. Os países que não conseguirem esse apuramento, verão as dificuldades económicas agravar-se e a nova competição ser palco exclusivo de clubes ricos.
O que poderá vir a seguir, talvez seja o início do declínio do futebol e a crescente importância do negócio. Quem promete defender o futebol e depois muda de camisola, pode contar com adversários humildes, mas dos que são capazes de preservar esse património mundial, sem parar. Cargos à medida é o novo ataque à democracia.
 

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Memórias a manter

TAÇA DE INGLATERRA: um clube da League Two (o Cheltenham Town, da 4.ª divisão, com estatuto profissional) obrigou a poderosa equipa do City a dar o máximo para vencer, pois aos 81’ o clube da casa ganhava por 1-0. Manchester City obrigado a dar o máximo, conseguiu nos últimos minutos uma vitória difícil e transpirada (3-1). No fim do jogo, Guardiola elogiou adversários e questionado sobre o estádio onde o jogo se realizou, afirmou:
«Todos nós viemos das divisões inferiores, meu amigo. Ou achas que nos sub-16 e sub-18 andamos a voar em jatos privados? Jogámos nestes estádios durante toda a nossa carreira, não jogámos sempre em grandes estádios. Nós viemos de sítios como Cheltenham, as pessoas não podem esquecer isso. É um prazer jogar. Tivemos a sorte de ter sucesso na nossa profissão, de chegar às divisões cimeiras, mas já estivemos nesta situação muitas vezes. Mudámos de roupa em bares quando éramos miúdos e jogávamos futebol com enorme satisfação. Amamos este jogo. Nós mudámo-nos nestes balneários durante grande parte da nossa carreira.»
Este é o futebol eterno.
 

Ciclos imparáveis

O  fim de ciclo e início de outro pode causar transições rápidas e problemas: renovação de jogadores e mentalidades. Cada vez será mais complexo formar equipas compactas, evitando tentações individuais que ambicionam fama, lançando precocemente jovens nas competições, com tiques de vedetismo e sonhos de milhões.
Aos treinadores resta a tarefa do milagre em construir a equipa. A vaidade revela muitos indícios. Os contratos inflacionam-se, a exposição social valoriza mais a fama do que o golo decisivo. Esconde-se o fundo, onde abundam dramas dos que acordaram tarde.
A contratação de um jovem de 14 anos para uma grande equipa, por valor impensável, já se prevê. O jovem será utilizado enquanto se julga eterno, sem entender o risco. Analistas asseguram que um jogador dessa idade, da Liga norte-americana, em dois anos será novo ídolo: marketing é terrível! O oásis desportivo já pensa em reduzir o número de clubes. Destruindo a matriz do jogo, o controlo entrará noutra dimensão.
Por outro lado, temos jogadores, com longo percurso, que teimam em perdurar, em mostrar que são essenciais e que a idade não os penaliza, porque ainda continuam a encantar, a engrandecer o jogo e a ensinar quem os vê. O sueco Zlatan Ibrahimovic (Milan) lesionou-se em novembro e está de regresso ao jogo.
Com 39 anos, continua a ser uma mais-valia nas equipas que integra. Polémico, extravagante, percorreu mundos deixando recordações de talento, por vezes situações bizarras, mas essencialmente golos únicos, impossíveis de copiar. Atribui a sua longevidade ao valor da ambição, à dimensão psicológica, ao espírito de sacrifício e à entrega ao jogo. Confirma manter a paixão pelo jogo, o querer fazer sempre mais. Para ele o segredo reside no quanto se está disposto a sacrificar.
E Diogo Dalot, companheiro no Milan, confirma: «É sempre um dos primeiros a chegar ao centro de treinos. Este tipo de coisas ajuda-nos a ver que temos de ser profissionais como ele, porque, se queres ganhar troféus, tens de fazer isso durante muito tempo. É uma boa forma de perceber como podes ter sucesso no futebol, como queres ser dentro de 10 ou 15 anos. Tem sido uma boa surpresa trabalhar com ele.» 
 

Remate final  

Mauricio Pochettino, treinador argentino do PSG, revelou, na conferência de imprensa, após a vitória folgada (4-1) em Camp Nou, para a Champions, a premonição que Kylian Mbappé teve no treino de segunda-feira. O jovem e talentoso jogador perguntou-lhe quantas vezes tinha ganho em Camp Nou. E o treinador respondeu-lhe que só uma. Mbappé afirmou: «Não te preocupes, amanhã vais ganhar a segunda vez.» E que vitória!
Ao grande campeão Alfredo Quintana e sua família, um forte abraço e que tudo corra bem!