Jogo de estratégias

OPINIÃO03.02.202101:00

O futebol que se cuide e não permita abusos de poder. E por cá, que tal um castigo para quem faz os calendários?!

DEPOIS da UEFA e das seis Confederações Continentais terem feito o funeral à Superliga Europeia, vem aí a Super Champions. Em fase de discussão para as alterações nas competições da UEFA, começa a ganhar divulgação a estratégia para uma renovada versão de liga milionária. No grupo dessa alternativa estarão incluídos Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol e vice da UEFA, Luis Rubiales, presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, e o inglês David Gill (que teve cargos na G14, FIFA, UEFA, FA).
Curiosamente, o presidente da UEFA estará a negociar com os representantes da Associação de Clubes Europeus (ECA): Real Madrid, Juventus, Manchester United, PSG e Fenerbahçe (coincidência estranha porque na maioria eram adeptos da Superliga Europeia).
É apresentado como argumento decisivo a força dos clubes com maior protagonismo para a criação da Super Champions, bem como a criação de uma empresa com a UEFA, passando os clubes a eventuais acionistas. O formato da prova (convém não esquecer que há propostas muito diferentes em discussão) sofrerá reformulação, bem como as competições nacionais, para darem mais espaço aos clubes e à calendarização; por exemplo, as taças nacionais deverão sofrer uma redução e os campeonatos deverão baixar para um máximo de 18 clubes. Intrigante que as alterações tenham a mesma matriz da falecida Superliga Europeia. Será que pensam que os adeptos e a maioria dos clubes andam distraídos?
A tal Super Champions que a UEFA e os clubes mais ricos pretendem pode tornar-se realidade em 2024 (caso as outras alternativas sejam derrotadas na votação), com a possibilidade de se antecipar um avanço com consenso generalizado durante os próximos tempos. O presidente da UEFA, com tanta afinidade de projetos com Andrea Agnelli, líder da ECA, prepara-se desde já para conseguir o apoio de vários clubes, com a Juventus a liderar e com a incumbência de convencer em especial o Real Madrid:  ambos já estiveram do outro lado da barricada. Fica a profunda dúvida se não se trata de criar, com nova roupagem, o modelo que, há dias, dizem ter enterrado?! Há coincidências muito estranhas.
Por que não se divulgaram as propostas para alterar as competições da UEFA, a partir de 2024, para proteção dos campeonatos nacionais e uma mais justa distribuição de recursos, bem como as críticas de algumas Federações que receiam Liga fechada e proteção exclusiva a 24 clubes?
O presidente da European Leagues criticou as propostas: «Mas este modelo é ainda mais perigoso porque é proposto sob os auspícios da UEFA, o órgão que governa o futebol europeu.», afirmou Lars-Christer Olsson.
O futebol que se cuide e não permita abusos de poder, nem privilegiados a comandar…
 

Parabéns Abel Ferreira 
 

CENTENAS de treinadores nacionais formam equipas técnicas que dirigem clubes, em inúmeros países de vários continentes. Alguns conseguem resultados brilhantes e títulos. Abel Ferreira, o primeiro português a treinar o Palmeiras do Brasil, venceu a final da Taça Libertadores contra o clube rival: o Santos. A Jorge Jesus sucedeu mais um português, nessa enorme proeza. Muitos parabéns Abel Ferreira
 

A Taça das surpresas  
 

O nosso futebol apresenta sucessivos períodos de enorme exigência e complexidade competitiva, com muitos riscos para os jogadores. Os responsáveis pela organização das competições deveriam saber ouvir e depois decidir com sensatez.
Os jogadores são essenciais e por isso deviam ser consultados. Lesões de sobrecarga podem complicar a vida a muitos atletas. Quem decide nos gabinetes deveria refletir e analisar profundamente.
Nos quartos-de-final da nossa Taça, o Marítimo recebeu o Estoril, marcou cedo e pensava-se que a eliminatória estava decidida. Mas esta competição é diferente! O Estoril empatou no último sopro dos 90’, seguiu-se um prolongamento e o clube da segunda Liga acabou vencendo por 3-1, apurando-se para as meias-finais. O Benfica venceu tranquilamente o Belenenses, o Braga ganhou a um Santa Clara lutador e o FC Porto foi a Barcelos vencer o Gil Vicente, num jogo bem disputado. 
 

Liga 
 

FARENSE e Famalicão voltaram a perder, mas o Boavista foi vencer a Portimão, ganhando motivação para subir na classificação. O Braga (que goleou fora o Moreirense), Guimarães e Paços de Ferreira disputam o apuramento para lugar europeu.
No dérbi de Lisboa, o Sporting venceu o Benfica, nos últimos segundos após 90 minutos intensos, muito disputados, nem sempre bem jogados. FC Porto, a lutar pelo título, venceu Rio Ave no regresso do treinador Miguel Cardoso a Vila do Conde. A metade inferior da tabela ainda com muita indefinição.
Rápidas melhoras para Jorge Jesus. 
 

 


Infernal!
 

A densidade competitiva cria calendários com jogos com menos de 72 horas de recuperação, potenciando riscos para os jogadores. A reação ao esforço após Covid-19 reduz a capacidade de enfrentar níveis de exigência física e psicológica, criando situações inéditas, favorecendo lesões musculares atípicas.
O FC Porto vai iniciar mais um ciclo infernal: anteontem jogou no Dragão com Rio Ave. Dia 4 vai ao Belenenses. Nos dias 7 e 10 viaja até Braga (jogos para a Liga e para a Taça de Portugal). Dia 14 recebe o Boavista. Dia 17, «para descansar», enfrenta a Juventus (afirmou Sérgio Conceição, com ironia, mas como aviso urgente). Jogos de enorme desafio, sem recuperação completa, potenciam diversos riscos de lesões, porque o futebol joga-se no máximo. Os especialistas construtores de calendários desportivos não entendem, nem se preocupam com os limites de esforço dos jogadores. Pedem vitórias que «prestigiem o nosso país», até camisolas aos ídolos e fotografias com pose de protagonistas.
Ou mudam e aprendem a calendarizar com inteligência e sabedoria ou então deveriam sofrer castigo: 20 voltas ao campo, sem parar! Seria remédio santo, como diziam as avós. Se não conseguem mudar, comecem a treinar as voltas ao campo, porque pode aparecer alguém mais coerente e zás! «Vamos lá minha gente!» 
 

Campeão!
 

NUNO ESPÍRITO SANTO doou 250 mil libras para ajudar a lutar, nestes tempos de pandemia, contra a pobreza na cidade de Wolverhampton. A Fundação Wolves, com parcerias locais, criou o programa Feed Our Pack (Alimentar a Nossa Alcateia). O treinador português dos Wolves, desde a sua chegada ao clube, tem sido um excelente embaixador de Portugal. Sentiu-se acarinhado, faz trabalho de eleição e retribuiu aos adeptos e população o apoio, como forma de ajudar quem mais precisa.
A Fundação Wolves arrancou com uma verba de 500 mil libras: metade proveniente de fundo da Premier League e a outra parte da generosidade do treinador português. Objetivo: aumentar a distribuição de alimentos para superar as necessidades provocadas pela pandemia e criando também um programa de alimentação, desporto e educação aos jovens, para os períodos de pausa letiva.
O presidente do Wolverhampton assumiu estar «impressionado e muito orgulhoso» desta iniciativa da fundação do clube, considerando «fantástica» a forte contribuição de Nuno Espírito Santo. 
Um orgulho para Portugal e para o Mundo. 
 

Remate final 

O professor Jorge Araújo escreveu sobre a importância dos treinadores alicerçarem o seu trabalho em valores, princípios e regras que consideram imprescindíveis: «E que assumam que não é treinador quem quer, ou academicamente se preparou para tal, pois é-lhe exigido um saber ser e estar, e uma capacidade e impacto comunicacionais emocionalmente convincentes. E, principalmente, terem a preocupação de deixarem uma herança de vida expressa através de jogadores e equipas melhor preparadas. Tal como alcançarem os resultados com que se comprometeram, sem nunca esquecerem que gerir e liderar seres humanos exige, sempre, um enorme grau de atenção e acompanhamento e um servir mais do que servirmo-nos.»