OPINIÃO João Dias no Euro-2024
O trajeto internacional do João começou há mais ou menos 20 anos, aquando da organização do Euro-2004 em Portugal
Esta é uma daquelas crónicas que dá um gosto tremendo escrever. Isso acontece porque o João Dias, figura central deste texto, é uma daquelas personagens que, na sombra e com a maior discrição possível, faz mais pela arbitragem portuguesa do que qualquer um de nós possa imaginar.
Para quem não conhece ou ouviu falar, o Professor João Dias é há muito o responsável máximo pelos treinos físicos dos árbitros portugueses (quer da FPF, quer da Liga Portugal), estando localmente encarregado do Centro de Treinos do Luso.
Mas este professor de educação física, natural de Cantanhede, há muito que saltou para outros palcos, tendo conquistado a confiança da UEFA para treinar árbitros de elite em vários seminários, cursos e competições internacionais de relevo.
O trajeto internacional do João começou há mais ou menos 20 anos, aquando da organização do Euro-2004 em Portugal. Na altura, foi o único português selecionado para apoiar na preparação física dos árbitros nomeados para a prova. Quem achava tratar-se de uma benesse de cortesia relativamente ao país anfitrião, rapidamente percebeu que se enganou. É que, desde então, o Professor João Dias já participou em pelo menos 17 (!) competições organizadas pela UEFA, exercendo funções de maior e maior responsabilidade em cada uma delas.
O voto de confiança do guru internacional Werner Helsen (líder máximo da preparação dos árbitros a nível mundial) está bem patente no currículo invejável que o João foi granjeando ao longo do tempo: além de 2004, esteve também presente nos Euro-2016 e 2020 (na França e na Turquia), na Regions Cup da UEFA (2011, em Portugal), em dois Campeonatos da Europa de sub-21 (2015 e 2019, na República Checa e em Itália), em dois Europeus de sub-19 (2016 e 2018, na Alemanha e na Finlândia) e na final da Champions League (2020, em Portugal). Ao nível do futsal, as participações em certames relevantes não ficam atrás: esteve nos Campeonatos da Europa em 2007, 2014, 2016 e 2018 (em Portugal, Bélgica, Sérvia e Eslovénia, respetivamente), além de ter também participado no Euro de sub-19 na Lituânia.
A preparação física dos árbitros é provavelmente a ferramenta mais importante que dispõem para tomar melhores decisões em campo. Quando o corpo está apto, a mente tem maior lucidez e discernimento para a tomada de decisão. A proximidade aos lances, a destreza da comunicação clara (sem sinais de fadiga) e a colocação no local adequado do campo são meios imprescindíveis para alcançar o sucesso na função. Um árbitro fora de forma, lesionado ou exausto não tem o foco total na tarefa e, por isso, não é capaz de acompanhar as jogadas ou de fazer os melhores julgamentos. Quando a mente está toldada, estará sempre mais perto do erro.
Tal como tudo no futebol, também as metodologias de treino estão em permanente evolução, o que obriga craques como o João a um esforço diário de atualização com aquelas que vão-se provando serem as melhores práticas a nível mundial. Não é à toa que o modelo das provas físicas/de aptidão realizadas por árbitros e assistentes sofreram alterações significativas na última década.
Mas o João tem essa versatilidade, a da adaptação fácil. O mérito é todo dele e está bem patente na confiança crescente que continua a receber das instâncias internacionais.
No próximo Campeonato da Europa (2024, na Alemanha) não será apenas a Seleção de todos nós que estará presente. Por lá também estarão o portuense Artur Soares Dias (árbitro), o Paulo Soares e o Pedro Ribeiro (árbitros assistentes), o Tiago Martins (videoárbitro) e o mais catedrático e experiente de todos... o nosso Professor João Dias.
Que orgulho, meu amigo.