Hoje é dia de Portugal, mas o dia da seleção é terça-feira

OPINIÃO10.06.202107:00

Somos uma potência no mundo do futebol? Em parte somos e, caso noutros setores da atividade nacional tivéssemos performances semelhantes, éramos um país rico

O Ocenário era a apresentação do simultaneamente terno e duro livro de Vítor Serpa, diretor deste jornal. O meu interlocutor era José Manuel Delgado, o diretor-adjunto; apesar de o livro descrever, muito bem, as sensações, o modo, as angústias e as esperanças de Vítor, quando foi internado em Santa Maria, em plena pandemia Covid, nós falávamos - adivinhem - de futebol. Tanto mais que Fernando Gomes, presidente da Federação nos cumprimentara e deixara um lamento pela derrota, no dia anterior, da nossa seleção de sub-21.
À conversa juntou-se o meu consócio, amigo, como eu colaborador de ‘A Bola’ e grande sportinguista José Dias Ferreira e os três decretámos que o jogo perdido por 1-0 com a Alemanha, longe de ser uma tragédia, demonstrava como tínhamos excelentes jovens futebolistas e como a transição das camadas jovens para os seniores está a correr bem (esta apreciação que me parece bem feita, foi de Delgado). Além disso, tivéramos muita sorte nas meias-finais, ao vencer a Espanha, e a Alemanha também tinha merecido vencer. O futebol não tem de ser sempre irracional, e podemos apontar defeitos às nossas equipas e nossos jogadores. A parte menos racional é aquela que faz com que todos tivéssemos ficado satisfeitos, caso tivéssemos empatado por acaso (como o golo que fizemos contra Espanha) e depois vencêssemos, nem que fosse por moeda ao ar.
Feita a campanha dos sub-21, que persistimos em nunca ganhar (já é a terceira final), inaugura-se a do Euro 2020, que chega com um ano de atraso. Aí, os defensores do título somos nós, campeões desde 2016, quando o improvável Éder afastou com um golaço os franceses, numa final em Paris. Poderemos ter o mesmo destino? É difícil. Ontem à noite, em jogo que não tive oportunidade de ver (há mais coisas, alegres e tristes, além do futebol) defrontámos Israel. A tarefa, parecendo fácil, não o é assim tanto; no conjunto dos seis jogos, até então, tínhamos uma derrota e dois empates.
Mas o verdadeiro dia, o que conta, o dia da seleção, é terça-feira. E se hoje é dia de Portugal, terça é dia de estarmos com Portugal. A jogar contra a Hungria,  às cinco da tarde, no Puskas Arena, em Budapeste, com bancadas cheias dos da casa, temos de demonstrar o que valemos. E se a estatística nos é favorável (nove vitórias e quatro empates), a Hungria tem a moral de jogar em casa, num grupo mortífero. Três horas depois, em Munique, a França defronta a Alemanha, e assim se completa a I Jornada do Grupo F. Sábado seguinte, jogaremos com a Alemanha, e na quarta a seguir com a França.
Quem disser que é fácil passar à fase a eliminar, é inconsciente ou otimista inveterado. Não é o meu caso; acho que podemos passar, mas necessitamos de esforço, sorte e momentos de magia. A ver vamos…
 

 


QUESTÕES MENORES

ESTE tipo de controvérsias têm, entre nós, tendência para se tornarem centro de discussões. Por isso me antecipo. Desde que se sabe que o Boavista, devido a problemas fiscais e financeiros, pode ser (é?) obrigado a baixar de divisão e ir jogar, portanto, para a II Liga, que se abriu uma guerra de secretaria, daquelas antigas e boas. Vejamos:
Se o Boavista descer, quem deve ficar? Em princípio, o menos mal classificado daqueles que descem. Nesse caso, seria o Rio Ave a ficar? Os vilacondenses, na tabela, estavam em antepenúltimo e foram obrigados a disputar um play off com o Arouca (que perderam), possibilitando assim o regresso dos arouquenses ao convívio entre os grandes. Porém, o Farense é o menos mal classificado dos clubes que descem automaticamente (o outro, que ficou em último e por isso não tem pretensões, foi o Nacional). A questão é que o Rio Ave jogou o play off  e perdeu, argumenta-se em Faro. Os algarvios não tiveram sequer hipótese. Por isso sai Boavista, fica Farense? Ou Rio Ave? Um caso a seguir, na eventualidade de num daqueles volte-faces em que somos pródigos, não seja o Boavista a ficar.
Outra grande sensação, foi a ida de Bruno Lage para treinador do Wolverhampton. Este treinador, corrido do Benfica depois de alguns maus resultados, que se seguiram a um conjunto de vitórias notáveis, merece ter sorte. Hoje há mais treinadores como ele foi no Benfica: serenos, sem vaidade e sem egos gigantes; sem fúrias. Como Rúben Amorim, por exemplo.
Já o facto de Sérgio, depois de um namoro italiano ficar no FC Porto, também me alegra. É uma daquelas pessoas que faz falta ao futebol, mas desde que não se exalte. A minha receita seria dar-lhe tranquilizantes. É que Sérgio, na linha de Pinto da Costa, quando este tinha toda a energia que a idade lhe vai roubando, fez escola na equipa. Vejam a reação de Moncho López, treinador de basquetebol do Porto, depois de perder a negra com o Sporting, que foi campeão (mas esta época, o Sporting ser campeão é uma trivialidade, e ainda bem). Voltando a Moncho, a fúria foi tal que vários objetos foram corridos a pontapé (quando o basquete se joga com as mãos). Não sei se foi ele ou um dos seguidores (que os teve) que maltratou a taça, permitindo a quem estava a ver em direto um espetáculo único do mundo: uma taça ser soldada antes de entregue ao campeão. Enfim, coisas para não se repetirem.
 

E O MEU SPORTING?

Ébastante reconfortante ver a paz de quem vence. Não há grandes questões na equipa. Há consensos e, caso assim não seja, os problemas são tratados nos lugares devidos, longe da praça pública.
É natural perdermos algumas estrelas - já se sabe que Nuno Mendes é difícil de segurar; é normal que outras sejam difíceis de segurar, como é o caso de João Mário; era bom que se confirmassem (e eu no futebol só acredito quando os vejo jogar) Adán, Coates, Porro, Gonçalo Inácio, Pote, Nuno Santos, Tiago Tomás e outros. É fundamental uma certeza: a manutenção de Rúben à frente da equipa técnica. Rúben puxou o Sporting para o lugar que lhe compete. E estou convencido que Nuno Dias, no futsal; Luís Magalhães, no basquete; Paulo Freitas, no hóquei; assim como os treinadores de outras modalidades em que fomos campeões (ou mesmo não sendo, como no Andebol, conseguimos bons resultados), foram positivamente influenciados pela alegria e paz que Rúben trouxe ao clube, sem esquecer quem trouxe Rúben, ou seja, em última análise, Frederico Varandas.
É um caso de estudo, acreditem. Estou convicto que o próprio presidente não sonhou com tanto sucesso aos três anos de presidência. Como ele, todos os seus apoiantes, e ainda menos os adversários; e pessoas como eu, que muito crítico em certas decisões que tomou, não me considero em nenhuma das categorias anteriores. O Sporting, para mim, como para inúmeros adeptos, está acima de qualquer pessoa, por mais importante que ela seja. Não significa ingratidão, pelo contrário, agradeço sinceramente ao presidente o que ele fez no último ano, sobretudo. E, enquanto ele servir os interesses do Sporting, como o fez, estar-lhe-ei agradecido, o que não significa acrítico.
A qualidade - se é que disso se trata - de acrítico e agradecido, guardo-a para outro grande sportinguista: o nosso roupeiro Paulinho, que já não sei há quantos anos vejo vibrar pelo clube. De certo modo, ele é um símbolo, e penso que todos os adeptos o têm como tal.
 

JOGAR FORA

Santos — Antes de começar o Europeu quero deixar, com sinceridade, um voto de sorte a uma pessoa que também mudou o nosso futebol. Sei que é criticado, e que qualquer tropeção poderá ser o seu fim neste projeto. Mas Fernando Santos, o engº da bola, é um homem que transpira sensatez e bondade, nas palavras e nos atos. Só isso chega para que mereça ter a felicidade que será a de todos nós. Força, grande selecionador. E sorte, de que todos precisamos, mesmo aqueles que - como é o caso - acreditam em Deus.