Há coisas mais importantes na vida
André Alves/Grafislab

OPINIÃO Há coisas mais importantes na vida

OPINIÃO21.02.202409:00

Era impossível passar ao lado do segundo brilharete de Diogo Ribeiro nos Mundiais de Natação —  e sobre ele já aqui escrevi —, mas devo confessar que praticamente não vi desporto nos últimos dias, por motivos pessoais. Mas ao tentar voltar à atualidade, depois do último adeus a um familiar que incentivou o meu gosto pelo desporto e pelo jornalismo, deu gosto ver um comportamento que vai ao encontro de um princípio que essa mesma pessoa procurou sempre incutir-me: rivais não são inimigos.

Após mais uma vitória, a oitava consecutiva do Sporting na Liga, e com o prémio de Homem do Jogo na mão, Pedro Gonçalves dedicou as primeiras palavras da flash interview da Sport TV a dois rivais, António Silva e João Neves, jovens do Benfica que perderam recentemente familiares próximos. «Há coisas mais importantes na vida», disse o jogador do Sporting. Um gesto de elevação, em nome de todo o plantel, sublinhado depois pelo treinador: «Cada vez gosto mais dos meus rapazes, antecipam-se em tudo.»

Desta vez pode não ter sido Rúben Amorim a assumir a dianteira, pelo menos publicamente, mas o gesto de Moreira de Cónegos vem reforçar a ideia de que o grande impulsionador desta postura sportinguista é o treinador. Acredito que a administração de Frederico Varandas esteja em sintonia, mas é a forma de estar de Amorim que marca a linha comunicacional.

Isso já tinha ficado bem evidente na sequência do adiamento do jogo de Famalicão. É verdade que o presidente do Sporting também recusou alinhar em teorias da conspiração, e até foi mais além, ao dizer que esperava chegar ao jogo em atraso já com a liderança recuperada, mas antes já o treinador tinha acertado o tom, ao desvalorizar as circunstâncias em que o Benfica assumiu a liderança, com dois pontos de vantagem e um jogo a mais.

Apenas uma semana depois a diferença estava anulada, com a goleada leonina ao SC_Braga e o empate do Benfica em Guimarães.

Continuo a ter muita dificuldade em aceitar a ideia de que uma equipa pode começar a ganhar jogos na comunicação —  muito menos quando tem o propósito único de pressionar árbitros —, mas há muito tempo que o Sporting de Rúben Amorim renunciou à ideia de entrar em campo já derrotado.

Não serve este elogio ao discurso para minimizar as virtudes técnico-táticas da equipa do Sporting, antes para manifestar a convicção de que o líder do balneário vale tanto pelo que diz quanto pelo que faz. Mais do que não seja pela coerência que tem demonstrado entre uma e outra coisa.

Amorim comete erros como todos os outros, dentro e fora do campo, mas com ele o leão prescindiu das desculpas fáceis, das teorias da conspiração, do medo da própria sombra.

Ninguém sabe se isso será o suficiente para recuperar o estatuto de rei da selva daqui por uns meses, mas tem sido o suficiente para conquistar o respeito dos outros pretendentes ao trono.