Gyokeres e Jardel
Mário Jardel ao serviço do FC Porto (IMAGO)

Gyokeres e Jardel

OPINIÃO24.03.202415:15

Cuidado com as comparações; AVB e Vale e Azevedo; Herman, o Bola de Ouro

1 - Viktor Gyokeres é o melhor jogador da Liga, os números sustentam sentença para mim transitada em julgado já em março. Golos com o killer instinct que orgulharia Bobby Robson naquele delicioso português com sotaque que José Mourinho percebia como ninguém, assistências com a classe de um 10 mais ou menos alto, louro e nada tosco. O sueco descoberto no Coventry é o TGV em que viaja o leão rumo ao título nacional enquanto põe os adversários na linha. O futuro do Sporting está nos pés dele e quanto mais vezes for visto a tapar a cara com as duas mãos, melhor estará a correr a vida aos verdes e brancos. Na sala de refeições onde os goleadores matam a fome de golo, Gyokeres senta-se à mesma mesa de Falcão e Jackson, Jonas e Cardozo, Bas Dost e Slimani, só para lembrar os mais contemporâneos.

Sei que deve estar a pensar, então e ele, sim, ele, Mário Jardel Almeida Ribeiro? Peço muita desculpa, já percebeu que sou fã de Viktor Gyokeres, mas qualquer comparação com o brasileiro que deslumbrou nas Antas e no velhinho Alvalade é abusiva. O tempo passa - se passa -, as memórias ficam, ainda hoje se ouve sobre ele o maior dos elogios vindo de quem lhe quer desvalorizar a obra sem se dar conta de que está a glorificá-lo. «Jardel? Não fazia nada, só marcava golos», dizem os pecadores.

Assisti a vários ao vivo, ao serviço de A BOLA, um deles inesquecível, no Estádio Capitão César Correia, em Campo Maior, frente ao Campomaiorense - clube tão especial de uma terra única, colocado no mapa pela família Nabeiro. Sem que nada fizesse prever, de costas para a baliza em posição que não aconselhava tal recurso técnico, Jardel agitou as redes com um pontapé de bicicleta sublime que quase engasgava o então correspondente do nosso jornal naquela vila raiana alentejana, que gostava de saborear umas pevides à medida que acompanhava os jogos. Matador mais letal, entre os jogadores que vi jogar, apenas um - Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro. Saudades de ver Super Mário voar sobre os centrais. Quem viu, viu...

2 - O mesmo João Koehler que, em 2020, na antecâmara das últimas eleições dos dragões, afirmava que a «situação do FC Porto é tão grave que a cidade devia unir-se para resolver o descalabro financeiro» e que «um dos principais agentes do FC Porto é filho do presidente e isso chama-se nepotismo», é agora o rosto da candidatura de Pinto da Costa. Em entrevista a A BOLA, associou André Villas-Boas a Vale e Azevedo, cuja passagem pela presidência do Benfica dispensa apresentações. Talvez quisesse lembrar que AVB e VA têm semelhanças, sem dúvida, pois ambos provocaram fortes abalos no grande rival - um pelos resultados que obteve como treinador azul e branco em 2010/2011, alguns que deixaram marcas profundas nas águias, outro por tudo aquilo que é público e notório.

3 - Setenta anos de idade, 50 de carreira, senhoras e senhores, eis o genial Herman José, eterno Bola de Ouro do humor, um dos portugueses mais importantes na evolução da nossa sociedade no pós-25 de Abril. Ainda hoje rever O Tal Canal, dirigido pelo professor doutor Oliveira Casca, é um prazer… Obrigado, Herman, por nos fazeres rir, tantas vezes de nós próprios, há um pouco de ti em todos nós. Eu é mais bolos, mas tu és e serás sempre o verdadeiro artista.