Guerra de tronos
Benfica não ganha uma Supertaça ao FC Porto desde 1985 e só venceu um dos últimos dez clássicos. Sérgio tem sido um trauma para os encarnados mas…
FALTA uma semana para a abertura oficial da época em Aveiro, com a ansiada final da Supertaça entre Benfica e FC Porto (o 251.º duelo entre os dois). O desempenho dos velhos rivais nos jogos de pré-época não foi particularmente entusiasmante, mas jogos particulares não contam para nada, apenas fornecem indicios sobre o que está bem e sobre aquilo que precisa de ser corrigido e melhorado. Tanto Schmidt como Sérgio vão aproveitar estes dias para as afinações possíveis e, quando chegar a altura, creio que podemos esperar um duelo rijo e intenso, à altura da reputação dos candidatos.
De um lado, o campeão nacional desejoso de vergar o FC Porto numa final, o que não sucede há muitos anos - a última vez aconteceu na Taça da Liga de 2010, no Algarve: 3-0 para os encarnados, com Jorge Jesus a levar a melhor sobre o amigo Jesualdo Ferreira. Do outro lado, o «papa taças» da última temporada (três conquistas), desejoso de mostrar ao Benfica que continua a ser a potência dominante apesar da perda do último campeonato.
É um facto público e notório que o clássico tem sido muito mais vezes penoso para o Benfica do que para o FC Porto (as águias venceram apenas um dos últimos dez duelos), assim como é indesmentível que Sérgio Conceição tem um jeito especial para lidar com os rivais da Lisboa, ou não fosse ele (já) o treinador com melhor rendimento em clássicos na história do futebol português: 10 vitórias, três empates e três derrotas em 16 jogos com o Benfica (62% de vitórias); 10 vitórias, nove empates e duas derrotas (mais 4 em desempates por penalties) em 21 jogos com o Sporting (47% de vitórias). Um saldo que infunde respeito e que, na realidade, traduz um dos maiores trunfos do treinador portista: a capacidade de preparar milimetricamente a equipa para os grandes jogos, os grandes momentos. A final de Aveiro não será excepção e é natural que Roger Schmidt, por esta altura, tenha aprendido com a experiência da época passada. Nos dois clássicos com Sérgio (apesar do saldo equilibrado, uma vitória para cada lado) percebeu-se que o treinador alemão teve dificuldade em perceber o perfil competitivo e o modo de actuação do adversário. Isso viu-se especialmente no duelo da Luz, em que uma vitória do Benfica teria deixado o rival a 13 pontos de distância e «fechado» as contas do campeonato. Aconteceu um potente golpe de autoridade do FCP (virou de 0-1 para 2-1) e mais uma derrota traumática dos encarnados com o rival nortenho na Luz.
FORÇA MENTAL. Essa fragilidade psicológica parece ser um problema que afecta, há muito tempo, o Benfica nos confrontos directos com o FC Porto. Uma maleita dificil de entender, mas que os próprios adeptos benfiquistas reconhecem existir. Essa fragilidade não é de agora, embora se tenha agravado particularmente na «era Conceição». Lembre-se que mesmo nos quatro anos de dominio absoluto encarnado (o «tetra» entre 2013 e 2017) nem Jorge Jesus nem Rui Vitória conseguiram inverter a tendência de perder com o FCP, que, mesmo na mó de baixo, continuou a ganhar mais vezes (4) do que a perder (3).
Conseguirá Roger Schmidt inverter essa tendência? Conseguirá esta equipa, que foi campeã nacional com toda a justiça, igualar o FCP em agressividade / coragem / combatividade e dar, finalmente!, um golpe de autoridade num jogo decisivo perante o rival que tantos desgostos lhe tem causado?
O histórico e a tradição apontam inequivocamente para um triunfo dos portistas, que não perdem uma Supertaça para o Benfica desde dezembro de 1985 (vai para 38 anos, portanto; desde então ganharam as oito finais que jogaram com encarnados: em 1986, 1992, 1994, 1995, 1996, 2004, 2010 e 2020). Portistas que, lembre-se, venceram as três últimas finais com o Benfica (2020, Taça de Portugal e Supertaça; 2010, Supertaça) e as últimas seis (!) que disputaram, em mais um recorde da casa signé Sérgio Conceição. O Benfica, curiosamente, encontra-se no pólo oposto: perdeu as últimas quatro finais a que chegou (2022, Taça da Liga com Sporting; 2021, Taça de Portugal com SC Braga; 2020, Supertaça e Taça de Portugal com FCP) num registo inédito na história do clube.
Quer isto dizer alguma coisa? Não. O Benfica tem o plantel mais rico e versátil do país e qualidade suficiente (sobretudo individual) para conseguir desequilibrar uma final a seu favor. A dúvida é se conseguirá libertar-se do velho trauma e superiorizar-se ao rival naquilo em que ele costuma ser imbatível: a atitude.
Cá estaremos para ver se é desta… ou mais do mesmo.
SUPERTAÇA ELEGE NOVO LÍDER NOS TÍTULOS
UM dos aliciantes da final de Aveiro prende-se com o empate actual entre Benfica e FC Porto no total dos títulos conquistados no futebol (84-84). O vencedor passará a liderar a corrida com 85 e ficará um pouco mais próximo do «centenário». O Sporting (54) surge bem mais atrasado nesta corrida. O Benfica tem superioridade clara nas competições domésticas - é o recordista de campeonatos (38), Taças de Portugal (26) e Taças da Liga (7) - sendo o FC Porto, por sua vez, claramente superior no contexto internacional (apresenta 7 títulos contra 2 do Benfica e um do Sporting, sendo o único com finais em todas as competições europeias… em todos os formatos).
O Benfica tem liderado esta corrida desde os anos 30 do século passado e só foi ultrapassado pelo FC Porto (68-69) na época de 2010-11 (o «tetra» de André Villas Boas). Mas recuperou a liderança logo a seguir nos anos do «tetra», sendo novamente apanhado na época passada graças ao «tri» nas Taças de Sérgio Conceição. A contabilidade futebolistica do FC Porto tem um antes e um depois de Pinto da Costa: até abril de 1982, o FCP apresentava uns esquálidos 16 titulos contra 32 do Sporting e 47 do Benfica. Desde a eleição de Pinto da Costa, o FCP soma 68 titulos contra 37 do Benfica e 22 do Sporting. Ou seja, recuperou uma desvantagem de 33 troféus em 41 anos. Na presidência de P.C, Benfica e Sporting, juntos, têm menos títulos (59) que o FC Porto (68). Maioria absoluta que a final de Aveiro pode amenizar… ou reforçar.