Futebol precisa de competência

OPINIÃO17.02.202106:05

Usando uma expressão popular, «não haverá quem deite a mão a isto?»

OConselho de Arbitragem (CA) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) convidou o pai do VAR - David Elleray, da International Football Association Board (IFAB) - para ações de formação. Portugal foi inovador na introdução dessa tecnologia. Por mais e melhor formação que façam, o problema reside essencialmente na competência e na capacidade de quem utiliza a tecnologia para decidir sem falhas. Caso contrário é desperdício de milhões.
Em Portugal, precursor do VAR, falta qualidade na seleção de árbitros que permitam transformar um elevado investimento num benefício e não em conflitualidades inaceitáveis. Com exigência, conhecimento, capacidade em assumir decisões, resistência a pressões e imparcialidade, será mais eficaz planear, uniformizar critérios e procedimentos. Urge impedir que a arbitragem ganhe maior influência nos resultados, à medida que o campeonato avança.
As alegadas dores de crescimento do VAR prolongam-se em excesso. Só decisões equilibradas e justas podem ajudar a manter a racionalidade. O futebol precisa de competência, verdade e imparcialidade. 


Segredos na rua

Opresidente da Liga Espanhola de Futebol denunciou estratégia de um novo modelo de distribuição das receitas televisivas, num contínuo ataque da elite de clubes europeus para se apropriar dos lucros. O presidente da La Liga apontou o exemplo da nossa Liga para avisar que a Liga portuguesa corre riscos de sustentabilidade.
A diferença entre os clubes que vencem a Liga e vão sistematicamente à Champions e os outros, anuncia uma morte lenta. Javier Tebas receia que Espanha siga o mesmo destino.
A Liga e a FPF assinaram memorando para centralizar direitos televisivos a partir de 2027/2028. Nessa data, os protagonistas serão outros. A convicção de que tudo estará resolvido até 2027/2028 vale o mesmo do que todas as promessas nunca cumpridas.
Está em causa o suporte financeiro do nosso futebol que não se resolve com palavras, mas com planos definidos e prazos a cumprir. Mesmo com promessa do respetivo secretário de Estado de que «caso não haja bom entendimento ele será feito pela força legislativa», é uma ilusão porque a conjuntura e os atores serão diferentes. A intenção do secretário de Estado é para «os que recebem menos receberem um bocadinho mais». Falta capacidade para pensar Portugal e o Futebol.
Nem os grandes querem perder receitas, nem os mais pequenos podem abdicar de exigir maiores proventos. Nada se cria, muito se perde e tudo se transforma em dificuldades, porque falta coragem. O futebol corre sérios riscos e, usando uma expressão popular, «não haverá quem deite a mão a isto?»
 

Taça de Portugal

EM Braga, logo a seguir ao jogo do campeonato com o FC Porto, voltou a acontecer polémica, por decisões muito discutíveis de arbitragem e não fora o profissionalismo dos jogadores, poderiam ter acontecido casos graves. Mais um árbitro como figura central, o que perturba o futebol. O que se estará a passar no Conselho de Arbitragem da FPF?
FC Porto voltou a começar o jogo a vencer mas depois, tal como no campeonato, vieram expulsões (sempre no mesmo sentido) e o empate nos minutos do tempo extra. Na primeira mão das meias-finais, empate a um golo do Braga com o FC Porto. O Estoril marcou primeiro mas o Benfica acabou vencendo por   3-1. Desta vez, a competição não foi a festa que todos esperávamos!
 

Com este belo primeiro golo pelo Barça (ao Bétis), jovem Trincão deu «a resposta»!


Liga

NO Dragão, o empate do Boavista resultou da sua melhor prestação e de uma fraca primeira parte do FC Porto (as consequências da calendarização imparável sem recuperação, a cobrar essa fatura).
A vitória do Farense no campo do Nacional é uma excelente motivação para o clube algarvio. Vitória de Guimarães, mesmo perdendo em casa com o renovado Rio Ave, mantém com Paços de Ferreira interessante luta por lugar europeu.
SC Braga venceu nos Açores e está a um ponto do segundo lugar do FC Porto, Benfica empatou em Moreira de Cónegos. Sporting, em Alvalade, venceu o Paços de Ferreira, num jogo bem disputado.
A precoce eliminação da Europa, a juventude com qualidade, como alternativa a contratações sonantes em função da crise financeira, a humildade em querer mais para se afirmarem e o tempo para liderar e treinar aperfeiçoando as dinâmicas de jogo, explicam muito da vantagem que têm sobre os adversários diretos.
 

Frontalidade

S érgio Conceição, após o empate com o Boavista, criticou duramente os seus jogadores: «Primeira parte desastrosa, onde entraram as camisolas, mas elas não jogam. É preciso correr, ter dinâmica, e depois da perda da bola, reagir com intensidade. A transição ataque-defesa foi má e estávamos avisados para isso. Para jogar no FC Porto não basta ter contrato, é preciso mais. Não basta ser da formação ou ser bonito nas redes sociais. É a pior primeira parte desde que sou treinador. Não do FC Porto, mas de sempre. Quem não percebe o que é estar no FC Porto, não dignificou o clube na primeira parte e quem não percebe isso, não pode estar neste clube. Cabe-me a mim tomar decisões (...) Na segunda parte melhorámos. Também faltou ponta de sorte e no primeiro golo do Boavista não há canto. Depois o Sérgio Oliveira falhou o penálti... alguns jogadores foram sendo antecipadamente retirados do jogo de forma injusta, não fomos só prejudicados noutros jogos mas também para jogar este (...) Os principais culpados fomos nós, o Boavista não tem culpa. Se jogar sempre assim vai continuar na Liga. Mesmo com o professor Jesualdo, não vi terem esta dinâmica e serem agressivos sem bola. Fizeram o que lhes competia. Nós é que não podemos fazer o que fizemos na primeira parte.»
 

Sem dúvidas 

HÁ cerca de um mês, havia quem aguardasse um grande golo de Trincão para vencer a dúvida dos jogadores que não superam sinais de angústia e preferem o passe, em vez da decisão final,  como prova de superação do medo da baliza.
Ora, Trincão respondeu: grande golo ao Bétis que acrescentou três pontos ao Barcelona, o terceiro e decisivo golo (3-2). Entrado aos 57’, com uma pressão sempre exigente, há que saber esperar. Aos 87’ Trincão tornou-se o homem do jogo, com um remate fantástico que desfez as nuvens de incerteza dos indecisos.
Em 30 minutos, o talento libertou-se e aconteceu futebol do melhor. O primeiro golo de Trincão no Barcelona, muito festejado pelos companheiros, que coloca o Barça colado ao Real Madrid na classificação liderada pelo Atlético de Madrid. 
 

Mundial de clubes 

OPalmeiras foi eliminado da final pelos mexicanos do Tigres (0-1) e o Bayern eliminou os egípcios do Al Ahly (2-0). Em 3.º lugar ficou o Al Ahly que venceu o Palmeiras nos pontapés de penálti (3-2). O título de campeão mundial de clubes foi conquistado pelo Bayern, que derrotou o Tigres por 1-0. O Bayern, além deste título (obtido pela 4,ª vez), venceu Champions, Supertaça Europeia, Campeonato, Taça e Supertaça alemã, com o treinador Hans-Dieter Flick. Grande exemplo de organização, onde antigos jogadores integram estrutura organizacional do clube, sempre acumulando lucros e títulos.
 

Na primeira pessoa. 

O FC Porto de Pedroto jogava de olhos fechados. Hoje, recordo um exemplo da sua influência na minha carreira no futebol. Ele influenciou-me como jogador, como treinador e como homem. Riera e Guttmann disseram-me que, se quisesse, seria um dos melhores do Mundo. E eu não só gostei de ouvir como entendi as palavras como o principal objetivo da minha vida. Foi Pedroto quem me fez ver a parte nociva do individualismo e assimilar que o todo tem de ser mais importante do que a soma das partes. Deu-me a base do futebol, a força da complementaridade numa equipa e fez-me ver que, sem menosprezar as contribuições individuais, a maior relevância do jogo assenta no coletivo. Com visão técnica extraordinária, acrescentou à equipa e ao clube princípios de comportamento indiscutíveis, uma cultura de responsabilidade e um conceito de compromisso que o tempo havia de consolidar. Foi um pedagogo que nos encheu de caráter, construiu uma escola, libertou-nos de traumas sem sentido e, para lá de melhorar a qualidade do futebol, encheu-nos de títulos.