Futebol com sustentabilidade

OPINIÃO16.03.202305:30

O Inter, com o seu jogo defensivo e perdas de tempo, conseguiu manter o empate a zero no Dragão e continuar na Liga dos Campeões

NADA se cria se não se definirem prioridades, planos de médio e longo prazo. Vivemos um tempo de mudança imparável na procura do crescimento alicerçado. O tempo urge e a capacidade em antecipar conjunturas é uma base para o progresso. Mesmo com um regime fiscal mais pesado (que deve ser analisado), é urgente a profissionalização dos diversos agentes do futebol e, essencialmente, captar mais receitas comerciais com os adeptos como centro da vida do clube. Os desafios são cada vez maiores e carecem de evolução para podermos avançar de forma estruturada. Mas para isso há muito a fazer, para lá da centralização dos direitos audiovisuais e do controlo das apostas desportivas.

Uma equipa, seja em que área for, tem de ser uma identidade partilhada, coesa, procurando atingir os seus objetivos. Funcionando como peças de relógio, onde todas são imprescindíveis. Só a identidade permite a coesão. O mesmo se passa numa receita de prato típico da restauração, onde a perfeição não precisa de acrescentos, modernices, mas antes de manter a qualidade única que nos motive a desejar. Por vezes, a Comunicação Social esquece ou desvaloriza o trabalho coletivo, para destacar unicamente o autor do golo, sem reconhecer a jogada fantástica que o permitiu, porque o trabalho coletivo é sempre a base do sucesso. Em Portugal, o volume de transferências, no início das épocas, atinge dimensão cada vez maior (mais de uma centena), exceto os clubes que disputam os títulos e apuramentos para competições europeias, porque mais cirúrgicas. Em vez de procurar manter uma base indispensável e torná-la mais forte, com alguns jogadores decisivos para acrescentar mais-valias, salta à vista precisamente o contrário e iniciam-se épocas com um plantel onde se incluem 12 e mais novas opções. O curtíssimo tempo de integração dos novos jogadores dificulta a possibilidade de construir uma equipa equilibrada. Normalmente, nas janelas para novas contratações, volta-se a corrigir, procurando reforçar com novos jogadores. Um diretor desportivo, com qualidade, competência e objetividade, pode ser fundamental.

A maioria desses clubes, ao longo da época, mesmo que o início possa parecer bom presságio, vai tentar evitar as despromoções. Por isso, deve haver o cuidado de renovar com os atletas que foram sendo seguidos, assim como acompanhando o crescimento dos jovens jogadores das equipas de formação, para conseguir receitas e equipas mais estáveis. A escolha do treinador é também muito importante pelo que pode acrescentar e pelo ajustamento com a equipa, num dos momentos mais importantes para conseguir o sucesso desejado. Acompanhar os jovens da formação e progressivamente criar processos de crescimento desportivo é essencial. Definir plano estratégico poderá ser o primeiro passo para a sustentabilidade. Não será o papel de embrulho que vai tornar o futebol mais excelente, com DJs a envolverem os adeptos, com músicas e coreografias, mas essencialmente o jogo dentro das quatro linhas e o desempenho de todos os intervenientes no relvado. Isso pressupõe mudança radical e urgente para acabar com os desempenhos teatrais que roubam tempo ao jogo, alimentam polémicas estéreis e com os habituais cronistas, vestindo camisola de clube, que só conseguem ver para um lado, alimentando novelas sucessivas sem rigor e somente apontando vícios aos adversários, nunca ao seu clube: haverá regresso de cartilhas que tanto maltrataram o futebol?

A sua sustentabilidade precisa de gente que saiba compreender o jogo, que não distorça a realidade e não critique só o adversário e a equipa de arbitragem, ou seja, que consiga ser imparcial. Mas isso ainda será possível? O futebol ganhava outra dimensão e o jogo passava a ser o centro que nunca pode deixar de ser. Sérgio Conceição afirmou que «o ruído tem a ver com o que se fala no futebol português» e que «de futebol fala-se pouco», rematando:  «Para isso estou disponível para falar.» Curiosamente, a prestação da equipa de arbitragem liderada por Bruno Costa (AF Viana do Castelo), no jogo Famalicão-Casa Pia, como tem sido normalmente, foi excelente e passou despercebida: excecional. Sem dar nas vistas, acompanhando os lances no espaço certo e com tranquilidade, sem se dar pela sua presença e usando o VAR com eficácia. Qual a razão deste e outros árbitros não terem direito a apreciação técnica nos jornais e somente os mais mediáticos (seja lá o que isso for) são contemplados com direito a avaliação?

Por vezes, no futebol nacional, surgem notícias de elementos que presidiram a Conselhos de Administração de SAD que são arguidos em processos de investigação, por eventual utilização ilegítima de dinheiro do clube: esse é um jogo que temos todos de vencer, nas ilhas e no continente.


LIGA NACIONAL

OFC Porto, em vésperas de defrontar o Inter de Milão, começou bem e marcou cedo. As lesões no plantel obrigaram a ajustes e sem alguns dos titulares, contrariando a tendência de controlar o jogo, ao fim de 30 minutos, num lance onde não foi assinalada falta, o Estoril conseguiu o empate. Mesmo assim, de imediato, os dragões voltaram a colocar-se como vencedores, através de Franco que, na época anterior, jogava no Estoril. Na segunda parte, o FC Porto não foi tão eficaz como habitual e permitiu dividir o jogo, em alguns momentos: defesa com momentos de instabilidade, perdas de bola por falta de ligação e erros individuais, o que deu espaços ao adversário. João Mário, no início da segunda parte, num lance em velocidade, lesionou-se aparentemente com gravidade, sendo substituído. A parte final foi surpreendente pois o Estoril voltou a empatar, de grande penalidade, e, com a entrada de Taremi, os azuis e brancos estabilizaram, voltaram a criar perigo e o iraniano desfez a igualdade, fechando o resultado por 3-2. Os jogos que antecedem o confronto na Champions acabam sempre por ter influência direta. Recuperar para a eliminatória com os italianos é essencial. 

O Paços de Ferreira, além das alterações dispensáveis de treinador, acabando pelo regresso de quem começou a época, e por um calendário que foi mudado e prejudicou os desempenhos, conseguiu conquistar pontos que poderão ser decisivos para a manutenção. O Arouca foi o destaque da jornada, ao vencer em Guimarães, comprovando a qualidade da sua organização. O SC Braga, goleando em Vizela, mantém-se também na luta pelo apuramento para a Champions. Benfica na Madeira e Sporting em casa, com um golo de eleição a merecer prémio, venceram ambos por margem dilatada. De modo geral, apesar de alguns comentários favoráveis da arbitragem, as falhas e alguns deslizes são indícios que não se conseguem mudar: se temos treinadores e jogadores de grande qualidade, qual a razão de vários árbitros não acompanharem a evolução? Se o conseguirem, certamente que o nosso futebol evolui para patamares superiores. A próxima jornada, inclui o jogo SC Braga-FC Porto que poderá ser decisivo a vários níveis: nacional e internacional, num calendário muito apertado, muito denso e muito exigente, particularmente para os dragões. Por esse facto, a designação da equipa de árbitros e VAR terá de ser criteriosa e com a máxima qualidade.


COMPETIÇÕES EUROPEIAS

COM o estádio completamente cheio, o FC Porto dominou o jogo, mas não conseguiu marcar, apesar de ter criado várias oportunidades, particularmente no segundo tempo, defendidas em cima da linha de baliza e dois cabeceamentos: uma bola ao poste e outra à barra. O Inter, com o seu jogo defensivo e perdas de tempo, conseguiu manter o empate a zero e continuar em prova.
Para a Liga Europa, o Sporting defrontou em Alvalade o líder da Premier League, o Arsenal, com um empate a dois golos e uma exibição de grande qualidade. Agora, tudo está em aberto e deseja-se que os leões consigam, esta noite, um resultado favorável.


A DEFESA DA LEGALIDADE

JÁ era conhecida a notícia de eventual corrupção desportiva envolvendo o Barcelona. Anteriores presidentes e dirigentes desse clube, juntamente com antigo responsável pela arbitragem em Espanha, estão a ser investigados por abuso de confiança, envolvendo elevados pagamentos a antigo árbitro de futebol. O Real Madrid, principal adversário do Barça, divulgou os nomes de anteriores presidentes e ex-dirigentes do Barcelona que poderão estar implicados nesse caso. Por isso, o Real revelou a intenção de se constituir assistente do processo. Os madrilenos manifestam confiança na justiça, tanto mais que os factos em análise são considerados «muito graves». Este caso tornou-se público em função de eventuais milhões de euros que o antigo líder da arbitragem terá recebido, exercendo a função de assessor do clube catalão (entre 2001 e 2018), para eventualmente favorecer o Barça nas decisões dos árbitros. A tudo isto, nos últimos dias, surgiu denúncia de um antigo árbitro, atualmente VAR, acusando também situações de corrupção ativa do ex-líder da arbitragem espanhola. Imaginemos o que poderia ser a Superliga Europeia, caso tivesse condições para se concretizar?!


FINALMENTE

AFIFA está decidida a criar um grupo de trabalho que salvaguarde a saúde dos atletas, com o descanso indispensável. Para isso, pretende-se definir um período de descanso anual, o mínimo de 72 horas entre jogos, um dia de descanso obrigatório por semana. Só desse modo se pode continuar a defender as condições físicas e mentais dos jogadores. O descanso é componente essencial para manter a qualidade do jogo e a proteção dos praticantes, a quem se tem exigido esforços contínuos que potenciam lesões. Aguardemos para ver o que sai dessa reflexão.


REMATE FINAL

— O andebol português venceu novamente a Macedónia do Norte e está apurado para o Campeonato da Europa’24, num percurso excelente nos últimos anos, com o sexto apuramento consecutivo, incluindo Europeus, Mundiais e Jogos Olímpicos.

— Recentemente, faleceram dois dirigentes que deixaram obra com prestígio: José António Pinto de Sousa, dirigente do Boavista FC e antigo presidente do Conselho de Arbitragem da FPF, e António José Sequeira Nunes, antigo dirigente e presidente do Clube de Futebol Os Belenenses.  Condolências às famílias e respetivos clubes.