Fernando Gomes

OPINIÃO01.12.202205:30

A saudade invade a memória e fico mais pobre. A nossa amizade era e será sempre fraterna e inesquecível

FOI um dia muito triste para o nosso futebol. A notícia correu célere e todos os adeptos, sem fanatismos que dividem, souberam unir-se e prestar um tributo silencioso muito sentido ao grande goleador Fernando, o Bibota, que venceu duas Botas de Ouro: duas vezes o melhor marcador do futebol europeu. Tive o privilégio de construir com ele jogadas que se transformaram em golos únicos. Nestes dias, a saudade invade a memória e fico mais pobre, porque além do jogador a nossa amizade era e será sempre fraterna e inesquecível.
 

CATAR

SEGUNDO declarações do presidente da FIFA, este Mundial com 32 países poderá aumentar para 48 equipas em 2026, incluindo países vizinhos do Catar. Nada é definitivo mas a preocupação aumenta porquanto, caso isso venha a acontecer (o que não esperamos), o negócio torna-se a prioridade e o futebol apenas uma faceta do Mundial. Se com 32 equipas o campeonato se torna longo, com influência direta na qualidade do jogo, com as 46 equipas previstas, os atletas correm sérios riscos de lesões e os campeonatos nacionais perderão importância, ferindo o futebol. Por outro lado, a Dinamarca retirou apoio a Infantino, tendo como último momento de discórdia, a proibição do uso da braçadeira de capitão de apoio aos diretos humanos. A Dinamarca declarou publicamente que não voltará a apoiar Infantino e está mesmo a analisar a saída da FIFA, com apoio dos países nórdicos e com os riscos inerentes. Esses países reafirmam a necessidade de fortalecer a confiança e credibilizar a FIFA. O presidente da federação da Dinamarca afirma que cada vez que o presidente da FIFA fala publicamente as suas intervenções são muito infelizes (o que se confirma facilmente).
Um último paradoxo: e se Messi, como embaixador do turismo da Arábia Saudita, apoiar a candidatura ao Mundial-2030, não poderá prejudicar a candidatura sul-americana? Os negócios crescem de forma assustadora.
Neste polémico Mundial, aconteceram momentos que revelam coragem e capacidade de defender os direitos humanos. Entre vários, a Alemanha perfilou para as fotografias com todos os jogadores a colocar a mão à frente da boca, como alternativa à proibição do capitão Neuer usar a braçadeira polémica para o Catar. Simultaneamente, na bancada, a ministra alemã do Interior usou essa braçadeira como sinal de protesto.
 

RUMOS E RISCOS

Ofutebol ao longo dos tempos passou por diversas fases, umas muito boas e outras com problemas graves, mas evoluindo muito em termos técnicos, táticos, físicos, psicológicos, organizacionais, comportamentais, na recuperação de lesões, na medicina e de mentalidade. O jogo é mais intenso em cada ano que passa, os posicionamentos cada vez mais específicos, as dinâmicas muito trabalhadas, nas quais tudo é treinado para criar dificuldades aos adversários com o elemento surpresa, os desequilíbrios a criarem momentos de insegurança e as equipas são identificadas pelo modelo de futebol que utilizam. Nestes longos anos decorridos foram inúmeros os jogadores (e treinadores) que se distinguiram pelos golos e vitórias que entusiasmaram e são inesquecíveis, assim como as defesas extraordinárias naqueles voos únicos dos guarda-redes de eleição. O sonho do jogo da rua passou para os estádios mais modernos e com tecnologia de ponta. A evolução é evidente e a qualidade do jogo cada vez mais intensa e constante. As bolas e os equipamentos dos jogadores, anualmente, sofrem modernizações para tornar o jogo mais intenso e veloz, também elaborados com o apoio da ciência. São milhares os jogadores que marcaram épocas, a nível nacional e internacional, e que se tornaram semideuses para os adeptos. Nos diversos mundiais, sempre aconteceram inovações surpreendentes, jogadores que se tornaram ídolos à escala planetária. Dos seus pés e da sua cabeça criaram-se golos únicos e vitórias inesquecíveis. Neste Mundial, até ao momento, um jovem jogador espanhol, Gavi, com apenas 18 anos, marcou um dos golos à Costa Rica o que é sempre uma notável proeza, que avivou a memória e nos transportou para o golo de Pelé, ainda com 17 anos, há muitos anos. E se muitos jogadores e treinadores têm contribuído para o desenvolvimento imparável do jogo, há sempre novos exemplos, contudo, a memória trouxe-me de imediato às jogadas que eternizaram Pelé e um dos seus sucessores, Maradona, que elevaram o futebol para patamares de outra galáxia. Estar num Mundial é algo inesquecível. O jogo entre a Espanha e a Alemanha foi intenso, dividido, pressão elevada e com diversas oportunidades terminando num empate a um golo.
 

PORTUGAL

MANIFESTAÇÃO de confiança do nosso selecionador, tranquilo e bem-disposto, horas antes do jogo inicial da nossa Seleção perante o Gana, que conseguimos vencer por 3-2. A confiança refletiu a qualidade do trabalho realizado, ainda com acertos a merecer atenção imediata e bom ambiente na equipa nacional. Temos uma equipa forte, com diversas alternativas e um conjunto de jogadores do mais alto nível. O essencial foi conseguir manter coesão e entendimento que protegeu a nossa baliza, embora com necessidade de correções urgentes. Portugal deu passo importante e nada melhor do que começar bem. Defrontar o Gana não foi fácil, porque o adversário apresentou argumentos e força física, num ritmo intenso, nunca dando por perdido qualquer lance, revelando uma evolução estratégica muito forte. Com a situação resolvida a contento, Cristiano está em condições de dar o máximo e motivar os mais jovens para manter a equipa centrada no essencial: a vitória. Este Mundial, caso Portugal consiga o melhor desempenho dos talentos que o constituem, pode tornar-se uma grande alegria em cada jogo para a nação portuguesa. O nosso primeiro jogo foi momento de crescimento coletivo e de libertação dos talentos que a equipa possui e que podem criar uma estrutura cada vez mais forte, a todos os níveis. Com maior concentração, a nossa equipa poderá manter um rumo que nos orgulhe e nos motive, numa indestrutível unidade. Portugal não tem de sonhar, basta dar o máximo, manter o foco na vitória e lutar sempre para vencer. Bruno Fernandes foi enorme numa equipa de gigantes, embora com erros a corrigir. CR7, com 37 anos, continua a ser exemplo de disciplina e aplicação, procurando melhorar sempre. O golo de João Félix define a sua qualidade. Portugal depois de vencer o Gana, num jogo intenso, consolidou a sua matriz e enfrentou o Uruguai, com equilíbrio no meio-campo, defesa segura, avançados criativos e posse de bola, circulando à largura e profundidade. No primeiro tempo, o Uruguai criou um lance de perigo em que Diogo Costa foi excelente e fez uma enorme defesa. Portugal aumentou a velocidade e procurou visar a baliza adversária. Bruno Fernandes, além dos golos, ainda criou mais oportunidades de perigo, incluindo um remate ao poste. A nossa Seleção foi um exemplo de consistência, de segurança, de eficácia e, com uma dinâmica personalizada, venceu os dois jogos iniciais, o que garantiu já a presença nos oitavos de final. Força Portugal! Vencer a Coreia será uma motivação acrescida.
 

DESTAQUES

JAPÃO conseguiu reverter o resultado e vencer a Alemanha. França sofreu um golo da Austrália (que grande entrada) mas depois a máquina francesa terminou o jogo a vencer por 4-1. Espanha goleou a Costa Rica, com resultado que acontece raras vezes. A França já está apurada. O segundo golo do brasileiro Richarlison (que superou vida difícil e que o futebol descobriu o seu talento e perseverança) foi, para já, o melhor golo do Mundial. Pela negativa, a equipa de arbitragem que deixou o jogo inclinar para a Bélgica, prejudicando o Canadá. Bruno Fernandes, além dos golos, ainda criou mais lances de perigo, Pepe manteve a segurança defensiva com eficiência e o jovem guarda-redes Diogo Costa impediu os adversários de marcar, numa equipa que funciona coletivamente com equilíbrio. CR7 é sempre uma preocupação para os adversários, criando espaços para os nossos jogadores. Com duas jornadas disputadas, só Portugal, França e Brasil somavam seis pontos. O Irão, que ocupava a segunda posição no grupo, foi eliminado pelos EUA, após um jogo muito disputado de princípio ao fim e sempre com a dúvida quanto ao apuramento de uma dessas equipas.
 

FALTOU COMPETÊNCIA

Ogoverno do Catar considerou impróprias as declarações do Presidente da República e do primeiro-ministro de Portugal, tendo convocado o embaixador português no Catar por considerar não aceitáveis as declarações dos nossos governantes. Com a firmeza devida, teria sido preferível não irem ao Catar, numa manifestação de coerência para com os direitos humanos! Mesmo sem se deslocarem, mantinham coerência, prestigiavam os valores que Portugal defende, apoiavam a Seleção e evitavam uma crítica inaceitável. Faltou aquilo que o povo costuma afirmar: «Sentido de Estado.» Afinal quem ficou desagradado foi o Catar, como se fosse exemplar! Reflexão atenta evitava essa lamentável situação de considerar que as declarações dos nossos governantes «não são aceitáveis e só não terão consequências devido à amizade histórica dos dois países». Um triste golo na própria baliza, perfeitamente evitável.
 

REMATE FINAL

— FC Porto em basquetebol, qualificou-se, pela primeira vez, para a segunda fase da Taça Europa.

— Rummenigge, atual diretor executivo do Bayern, afirmou que a Superliga não se realizará, independente das decisões dos tribunais, pois nenhum clube alemão, inglês ou francês participará nessa competição. Considerou que esse projeto tinha como finalidade evitar o descalabro financeiro de alguns clubes (citou Barcelona e Juventus). Muito importante foi a sua declaração: «É simples: queremos ganhar, mas sem pedir dinheiro aos bancos, à boa maneira alemã. Depois, investimos o que ganhamos. E os adeptos têm responsabilidade no clube, até a nível financeiro (…) há 30 anos que tem balanço positivo.»

— No fim do jogo que eliminou o Irão, Carlos Queiroz afirmou: «Nunca na vida vi jogadores que dessem tanto e recebessem tão pouco. Merecem todos o meu respeito e a minha admiração».

— Sérgio Conceição deixou uma contradição que merece reflexão: «Em Mafra sou expulso por meter uma bola para fora. Hoje viu-se de tudo no banco.»