FC Porto sem cobertura
Villas-Boas (Foto Grafislab)

FC Porto sem cobertura

OPINIÃO15.07.202409:45

O cheque 'careca' é um assunto importante para as regras de fair-play financeiro da UEFA e da FIFA.

O FC do Porto vai ter uma nova academia. É pelo menos o desejo de Villas-Boas, tal como era de Pinto da Costa. Onde vai estar localizada e qual o investimento a realizar é que ninguém adivinha. Uma coisa é clara: Villas-Boas recebeu uma herança desportiva excecional. Recebeu também problemas, o maior parece ser falta de dinheiro. Repare, caro leitor, ainda com Pinto da Costa ao leme foi passado um cheque sem cobertura para a aquisição dos terrenos para a futura academia na Maia. Tudo sem cobertura, a obra e o cheque.

O FC Porto iniciou o negócio, vencendo o concurso público da Câmara da Maia, e celebrou o contrato promessa. A primeira prestação prevista no contrato foi paga, mas para a segunda já não, devido ao tal cheque. Qual é o regime legal e como se resolve esta questão? Pagando. Se tal não acontecer é bem provável que o FC Porto perca o sinal, ou seja, as quantias que já entregou. Há outro grave problema com o cheque careca: é um assunto importante para as regras de fair-play financeiro da UEFA e da FIFA. E aí o FC Porto pode vir a ter, novamente, problemas. O fair-play financeiro significa que os clubes que se qualificam para as competições da UEFA têm de provar que não têm dividas em atraso a outros clubes, jogadores e ao fisco. As sanções para quem não o faça vão desde a advertência à multa e à dedução de pontos. Mas incluem também a retenção dos milhões que a UEFA entrega aos clubes – valor muito significativo para os clubes portugueses, nomeadamente para o bem-sucedido FC Porto. Acresce a proibição de inscrição de novos jogadores. O objetivo é dar mais saúde financeira ao futebol europeu evitando salários em atraso e outros problemas. O futebol, já sabemos, é um desporto onde vencer é tudo, não tanto a disciplina financeira. A pressão para pagar mais, para não vender, ou para comprar este ou aquele jogador, é muito grande. Dai a proibição de que os clubes gastem mais do que as receitas que geram. 

 A outra ideia das regras impostas desde 2010 é evitar que dinheiro de fora do desporto venha a alterar os resultados do jogo. Vamos supor que há um grande patrocinador, como uma companhia aérea de um país, cujo fundo soberano é dono de um clube, e patrocina o clube pagando acima do mercado. Aloca, por isso, meios financeiros para comprar os jogadores que quiser, desequilibrando os campeonatos. Tal é proibido, está escrito: se o proprietário de um clube injeta dinheiro no clube através de um patrocínio de uma empresa com quem está relacionado, os órgãos da UEFA podem investigar e ajustar (reduzir) as receitas para um valor mais adequado. E nesse caso esse patrocínio não poderá ser mais de 30% das receitas do clube. Mas há formas de ultrapassar as regras, basta olhar para Paris e Manchester.