Ontem o administrador para a área financeira do FC Porto SAD fez a apresentação dos resultados financeiros relativos ao primeiro semestre do ano. Divulgou publicamente alguns números e explicou as rubricas que considera importantes. Infelizmente, até ao momento em que escrevo estas primeiras notas, o Relatório e Contas não foi divulgado, fazendo com que esta primeira análise tenha por base uma projeção dos valores identificados ontem e do padrão do último Relatório e Contas semestral.
SAD prevê capitais próprios positivos de €1,1M após a entrada dos €9,6M do acesso aos oitavos de final da Liga dos Campeões, o que irá acontecer no terceiro trimestre do exercício de 2023/2024
Resultado semestral vs. anual
Como primeiro apontamento, o resultado líquido do primeiro semestre tem um impacto natural nos capitais próprios de 35M €. Assim, tal como Fernando Gomes afirmou que com a contabilização do prémio de passagem para os oitavos de final da Liga dos Campeões (9,6M€) a SAD teria capitais próprios positivos, também teria sido importante referir que se não vender nenhum jogador e mantiver os restantes custos e proveitos constantes até junho, o resultado líquido anual poderá ser negativo ou mesmo nulo. Porquê? Porque de um semestre para o outro existirão menos 40M€ de resultados operacionais (prémios de Liga dos Campeões).
Reavaliação do estádio
O segundo ponto que tornou possível a recuperação dos capitais próprios foi a reavaliação do estádio, ou melhor, a reavaliação do potencial gerador de receitas do estádio. Segundo informação fornecida por Fernando Gomes, esta avaliação teve por base e suporte duas entidades distintas. A Crowe identificou um valor de cash flows com base num modelo e estudo que desconhecemos mas que, com toda a certeza, será publicado ou estará disponível aos sócios do FC Porto. Com base neste modelo, chegou-se a uma estimativa de 167M€ de receitas que o estádio poderá gerar num determinado período de tempo. É importante referir que os valores aqui considerados são subjetivos e são projeções que podem ou não acontecer. Contudo, é importante realçar que o modelo e os respetivos pressupostos foram devidamente aceites e analisados pela segunda entidade envolvida no processo, que é o auditor, a Ernest & Young. É importante referir que esta operação não é única em Portugal. Já existiram outros casos que seguiram pressupostos semelhantes. Tendo sido apurado este valor (167M€), o auditor exigiu uma provisão de impostos (35M€) relacionada com o aumento da receita, que se irá refletir na reavaliação do estádio, fazendo com que a reavaliação tenha um impacto positivo de 132M€ (167M€ - 35M€) nos capitais próprios. Por uma questão de maior transparência teria sido importante que fossem referidas quais as receitas que estão na base desta reavaliação e se existirão algumas rubricas atuais que irão ser reduzidas em função de já estarem contabilizadas nesta projeção (ex. publicidade no estádio). Por fim, uma vez que a reavaliação do estádio foi concretizada no semestre passado, e como esta inclui as receitas relativas à sua utilização, surge a dúvida se a contabilização das receitas já se encontra descontada no semestre que passou.
Primeira conclusão
Em termos teóricos, esta reavaliação melhora a fotografia dos números da SAD azul e branca. Na prática, continua tudo como até aqui, com a FC Porto SAD com problemas e dificuldades de liquidez, com um enorme endividamento e respetivo custo associado, e com muitas receitas futuras antecipadas…