Falsos autistas
Futebolistas devem ter interesse em formar-se e os clubes orgulho no proveito que retirarão
O S deveres das SAD perante os seus jogadores encontram-se estipulados no artigo 11.º da Lei 54/2017 (Regime do Contrato de Trabalho Desportivo) e no artigo 12.º do Contrato Coletivo de Trabalho celebrado entre a Liga e o Sindicato de Jogadores. Mas, confrontados ambos os clausulados, concluímos que apenas a alínea e) do referido 11.º daquela Lei se refere à obrigação especial das SAD em terem que providenciar aos seus desportistas menores as necessárias condições à conclusão da escolaridade obrigatória. Distinta visão surge se nos focarmos nos atletas já adultos com (ou sem) a escolaridade mínima. Porque não existe plano ativo no futebol com vista a estimular a simples formação escolar pós-obrigatória. À boleia da tecnologia e perante a fixação de novos métodos de ensino, os futebolistas devem ter interesse em formar-se e os seus clubes orgulho no proveito que daqui retirarão. Nem que seja porque ambas as partes têm dinheiro para isso. Cruyff disse-nos que o futebol se joga com a cabeça e que as pernas estão lá para ajudar. Em abono da verdade, a concentração total deles não deve servir apenas o jogo mas, também, tudo aquilo que lhes seja essencial embora externo à profissão. A carência de pensamento e ponderação dos jogadores é gritante e a experiência que retiro deste meio faz-me culpabilizar a falta de aposta na formação e educação que deve englobar a preparação para a sua futura reforma. Chiellini, mestre em Economia e Comércio, referiu que os futebolistas devem ser encorajados a estudar porque a vida é longa. Iniesta é graduado em Biologia e Ciências Desportivas e Lukaku em Relações Públicas, falando fluentemente mais cinco línguas do que a sua nativa. Por cá, após executar golo monumental e incorporando um verdadeiro autista, Rafa murmurou para as câmaras um deslocado e excessivo «nada tenho a dizer». Lá terá as suas razões e o direito intocável a sentir-se triste ou enfadado, mas deve perceber melhor o meio onde atua e, já agora, que vive em comunidade.