OPINIÃO Fa(c)tos sobre Nuno Santos
Marcar um golo digno do prémio Puskás pode até ser uma obra do acaso, mas Nuno Santos esteve em Londres por mérito indiscutível. A finalização de letra no Sporting-Boavista de março de 2023 foi plena de intenção, e a presença na Gala da FIFA pode assim ser vista como uma justa recompensa para um jogador que teve de levantar-se várias vezes para ali chegar.
Por duas vezes o Rio Ave foi a mão firme que o ergueu. Primeiro quando teve de dizer adeus ao FC Porto, com 17 anos, e depois quando se fecharam as portas da equipa principal do Benfica.
A história na Luz podia ter sido bem diferente, não fosse a lesão grave sofrida no final de 2015, ao serviço do Benfica B, quando já tinha sido utilizado duas vezes por Rui Vitória na equipa principal, o que até lhe valeu o estatuto de campeão nacional.
Mas Nuno Santos não se rendeu à primeira contrariedade, nem tão pouco quando sofreu nova rotura de ligamentos no joelho esquerdo, em Vila do Conde, menos de três anos depois. Reassumiu protagonismo no Rio Ave e completou a trilogia em 2020, ao assinar pelo Sporting, como um dos primeiros pedidos persistentes de Rúben Amorim.
Sem desprimor para o trabalho de alfaiate do conceituado Paulo Battista a elaborar o fato apresentado ontem pelo jogador, na capital inglesa, é justo dizer que já antes o treinador do Sporting tirara as medidas certas a Nuno Santos. Potenciado pelo esquema de três centrais, o esquerdino preenche o corredor como poucos, assim comprovam os factos: 30 golos e 33 assistências em 163 jogos de leão ao peito.
Nuno Santos repete frequentemente que o «futebol dá muitas voltas», e é com orgulho que vê isso refletido na sua carreira. É verdade que protagonizou alguns excessos de personalidade, por assim dizer, mas esses são efeitos secundários (perfeitamente dispensáveis) do carácter que permitiu ultrapassar tantos altos e baixos.
Voltou a sagrar-se campeão nacional — está entre os 13 jogadores que conquistaram o título por Benfica e Sporting, ao longo da história —, e aos 28 anos não desiste da Seleção Nacional. «Um dos maiores sonhos», como repetiu em Londres, ao ser questionado se gostaria de marcar um golo de letra com as quinas ao peito.
O contexto tático faz diferença, mas Benfica e FC Porto não têm nenhuma opção melhor para o lado esquerdo da defesa, muito menos portuguesa. As alternativas da Seleção são superiores, mas os problemas físicos de Nuno Mendes e Raphael Guerreiro já justificaram a chamada de Nuno Santos, em detrimento de um terceiro ou quarto lateral direito para a lista.
O jogador do Sporting acabou por não conseguir trazer o prémio para Portugal, mas talvez a nomeação posso dar uma ajuda a chegar à Seleção, mesmo que não seja na convocatória para o Europeu.
Letra por letra, talvez o P de Puskás venha a ser o P de Portugal.