«Eu quero é ver o Guardiola aqui...»
Tiago Nunes no Athletico Paranaense (IMAGO)

«Eu quero é ver o Guardiola aqui...»

OPINIÃO08.06.202411:53

Alguns treinadores brasileiros, como Tiago Nunes, desafiam os europeus a experimentar a América do Sul. JJ e Abel ganharam com folga; 'Jam Sessions' de João Almeida Moreira

Tiago Nunes, treinador brasileiro de 44 anos que desde que orientou, com muito sucesso, o Athletico Paranaense, em 2019, fracassou no Corinthians, no Grêmio, no Ceará, no Sporting Cristal e no Botafogo, disse nesta semana que gostava mesmo era de ver Pep Guardiola, treinador do Manchester City, de 53 anos, na Taça dos Libertadores.

«Queria vê-lo contra o Bolívar, em La Paz, ou contra o Binacional, no Peru, a quatro mil metros de altitude, ou contra o Rosario Central, em Rosário, ou diante do Boca Juniors, na Bombonera», afirmou o treinador da Universidad Católica, em entrevista à ESPN Chile. «Vejo os caras lá [na Europa] muito calmos, tudo funciona, gostaria era de vê-los aqui mas, claro, não vai acontecer», rematou.

Nos tempos de escola havia uma piada em que um miúdo, que apanhava uma tareia de outro, muito maior, reagia nestes termos: «Bateste-me porque és maior do que eu, agora vou chamar o meu irmão mais velho, quero ver tu bateres-me à frente dele.»

A seguir, perante o irmão mais velho, o miúdo pequeno voltava a levar do maior. «Bateste-lhe porque estás aqui ao pé dos teus amigos, quero ver lá em cima no monte», desafiava então o mais velho.

Chegados ao monte, sem piedade, o maior batia no menor outra vez. A cena repetia-se em mais uma, duas, três ocasiões até que o irmão mais velho dizia para o mais novo, todo queixoso, dolorido e ensanguentado, «epá, vamos mas é para casa, se não este gajo ainda te parte todo».

A história lembra a relação dos treinadores brasileiros com os europeus porque, já em 2011, Muricy Ramalho, do Santos, às vésperas de ficar todo queixoso, dolorido e ensanguentado após a derrota por 0-4 para o Barcelona no Mundial de Clubes, disse, ainda sobre Guardiola, que «ele é dos melhores do mundo, agora, trabalhar na Europa é mais tranquilo, lá eles trabalham com os melhores jogadores, têm dinheiro e tempo para planear».

E concluiu: «Para mim, eles [treinadores europeus] só vão ganhar uma nota máxima quando forem para o Brasil, disputarem um Brasileirão e ganharem.»

Anos depois, Jorge Jesus não só passeou no Brasileirão de 2019 como ainda ganhou a Libertadores, fora outros títulos. Depois veio Abel e, com mais tempo de trabalho, dobrou a aposta: venceu duas vezes o Brasileirão e duas vezes a Libertadores, fora outros títulos.

Jorginho, aquele antigo lateral-direito que em 16 experiências como treinador no Brasil ganhou um Cariocão pelo Vasco, disse então, quando treinava o Atlético Goianiense, que «no Fla e no Palmeiras é fácil, queria vê-los era em clubes pequenos».

António Oliveira chegou e levou o Cuiabá à Copa Sul-Americana. E Pedro Caixinha disputou o título do Brasileirão de 2023 até à última jornada pelo Bragantino.

O melhor é estes treinadores brasileiros mudarem de discurso (e de atitude) se não estes gajos ainda os partem todos.