Este nosso grandioso e competitivo campeonato

OPINIÃO19.09.201901:44

O Famalicão chega à sexta jornada da Liga sem derrotas (coisa que apenas o Boavista também consegue) e com quatro vitórias. Como é possível? O orçamento dos famalicenses é relativamente baixo - sete milhões de euros -, mas mesmo assim o oitavo maior da nossa terra. É duas vezes mais que o do Moreirense e mais de duas que o de várias equipas como o Boavista, o Santa Clara, o Portimonense ou o Tondela. Em contrapartida é 13 vezes menor do que os de Benfica e FC Porto (que lideram esta tabela orçamental) e 10 vezes menor do que o do Sporting. Isto significa que, em teoria, e se o campeonato fosse de seis jornadas, o Sporting tinha sido ruinoso, o Benfica e o FC Porto idem e o Famalicão altamente produtivo. Porém, e como faltam 29 jogos, as contas far-se-ão no fim.
Um retrato atual poderia dar a ideia de que temos um campeonato altamente competitivo e equilibrado. Uma equipa que veio da segunda divisão lidera. Outra, que veio também dos escalões secundários, impôs uma derrota ao FC Porto que, por sua vez derrotou o campeão do ano passado na Luz. O Sporting perdeu em casa com o Rio Ave, o qual na jornada seguinte perdeu em casa com o Tondela que, por sinal, é o clube com menos dinheiro na I Liga. Porém, tudo isto é enganador. Basta ver que quem mais subiu o orçamento (quase 57%) foi o SC Braga, equipa que tem o pior arranque de campeonato desde há muitos anos - é, neste, momento o antepenúltimo.
O problema é que sabemos que ao fim das 34 jornadas o retrato vai ser completamente diferente. Claro que um clube vindo da segunda Liga, como o Famalicão, ter o oitavo maior orçamento, à frente de clubes com longas permanências na I Liga diz qualquer coisa. Além dos três grandes, e de SC Braga e V. Guimarães, só o Rio Ave e o Marítimo o batem.
Há explicações para o feito. No início da época passada 51% da SAD (ou 85%, de acordo com outras fontes), foram adquiridos pela Quantum Pacific Group, de que o principal acionista é o israelita Idan Ofer, o mesmo que tem 32% do Atlético de Madrid e é considerado o verdadeiro dono do clube de Madrid desde que este voltou à ribalta.
Quem desafiou Ofer para vir lá de Israel até à cidade de Famalicão terá sido Jorge Mendes, o empresário português incontornável no futebol europeu e mundial. E as coisas correm bem lá na cidade…


E o Sporting recebe o líder...

E depois de visitar, hoje o PSV Eindhoven, onde não tem tarefa fácil, o Sporting volta a Alvalade para receber este Famalicão, que é de um milionário, o que não quer dizer que o clube seja milionário. É certo que vai à frente, mas tão certo como isto é a obrigação do Sporting vencer a partida. Porque em Alvalade o Sporting tem de jogar sempre para vencer (e não é todos os dias que se cometem três penáltis, como contra o Rio Ave) e também porque a equipa anda sob brasas e precisa de estabilidade. Nomeadamente Leonel Pontes não tem grande margem para, tendo empatado no Bessa, perder em casa.
Aliás, eu deixaria um apelo não só à Direção, como também aos adeptos: eu sei que é difícil ter calma e, sobretudo, confiança depois de uma série de resultados maus. Mas sei, igualmente, que a equipa mudou radicalmente, sobretudo nas alas e na frente. Não me parece que um resultado menos bom face ao Famalicão, que tem demonstrado não ser pera doce, ponha imediatamente em causa o lugar do treinador (interino ou não, não faço ideia). Acima de tudo, não podemos viver num clube onde cada peripécia é uma crise, onde grupos mais ou menos organizados aproveitam para atacar, criticar, insultar e até agredir. Pelo que escrevi aqui na semana passada (e reitero), dizendo temer que o Sporting seja o primeiro dos grandes (porque a prazo serão todos) a perder a maioria na SAD houve quem me insultasse forte e feio. Aproveito para agradecer àqueles que, não concordando comigo, acharam que eu tinha direito à opinião e tenho a certeza de que a maioria dos associados são assim. Por isso mesmo, a Direção ou os sócios deixarem-se impressionar por uma estratégia de constante desestabilização é ruinoso. Podemos passar a vida a discutir se deveríamos ter despedido José Peseiro e, depois disso, Keizer (e, porque não, antes disso, Paulo Bento ou Marco Silva, para citar dois dos muitos que passaram por Alvalade), mas nada resolveremos se não conjugarmos três pilares essenciais:
- O primeiro é ter um rumo e saber o que queremos. Isso não implica calar opiniões minoritárias como a minha e de outros que o expuseram antes de mim (como Dias Ferreira ainda há dias aqui deixou claro);
-  O segundo é exigir que aqueles que não concordam com a direção definida, sendo livres de criticar não estejam constantemente a pôr em causa decisões; nem os que tomam decisões constantemente a mudar de rumo;
- A terceira é uma absoluta firmeza na defesa da verdade desportiva, impedindo que nos tornemos no bombo da festa das arbitragens manhosas. Como a de Jorge Sousa no jogo do Bessa. Não digo que empatámos por causa dele, mas a forma como o árbitro permitiu que o adversário tratasse Bruno Fernandes é de molde a irritar um santo. E Bruno está longe de ser um santo e tem de aprender a não discutir por tudo e por nada.

A vergonha de uma decisão

Depois de se tomar conhecimento da douta sentença que iliba a SAD do Benfica da conduta antidesportiva de que foi acusado um dos seus principais assessores fica-se boquiaberto. É inacreditável. Será que a Liga e a FPF não compreendem que esta descredibilização do futebol é má para todos? Para a modalidade, para os seus agentes? Sei que dirão nada poderem fazer uma vez que a Justiça se pronunciou. Mas podem, nem que seja preventivamente. Agora que sabemos o que é possível, de que forma se deturpam resultados, os olhos de quem controla a arbitragem e os organismos responsáveis pelo futebol deveriam estar duplamente abertos. Infelizmente, não estão.
Não ponho sequer em causa a qualidade jurídica da decisão; sei que uma coisa é acusar e outra diferente é provar. Mas, ainda que seja impossível provar a intervenção da SAD do Benfica, todo o mundo do futebol sabe que ela teria de existir. Nenhum colaborador por mais audaz que fosse faria aquilo de que é acusado Paulo Gonçalves sem que os seus dirigentes soubessem. Aliás, como aqui ontem notou Miguel Sousa Tavares, a própria sentença que iliba o Benfica diz que Gonçalves agiu para impressionar os seus dirigentes. A pergunta que faz: como impressionaria alguém sem que esse alguém saiba o que está a ser feito, é totalmente pertinente.
Não, esta Liga não é competitiva, trata de forma desigual os seus clubes; permite que o dinheiro que gera seja distribuído de forma desigual; permite que clubes com menos sentido de fair play consigam favores de quem devia ser isento, os árbitros.
E tudo isto está a contribuir para a degradação do nosso futebol.