Este Mundial…
Temos observado todos os jogos, sem identificar um de maior excelência. Vemos alguns lances com qualidade, mas também falhas graves
MUITAS equipas, mas um futebol pobrezinho e sem inspiração. Poucas seleções se destacaram de forma consistente pela qualidade do jogo. Das iniciativas individuais, com longas corridas com a bola, praticamente sem destino, até a perder pelas linhas, dos passes falhados ao envolvimento nas jogadas com apenas 2 ou 3 atletas, equipas com mil passes, que são um cerco ao futebol, poucas seleções evidenciaram um modelo de futebol que prestigiou o jogo. Em termos de arbitragem, alguns erros, tolerância exagerada perante certas equipas, permitindo excessiva dureza para as habituais seleções, que continuam a manter excesso de agressividade, com riscos de lesões para os adversários. Portugal foi mantendo a sua estratégia coerente, (com exceção do jogo com a Coreia do Sul) com uma gestão inteligente de jogadores, uma dinâmica coerente no seu padrão de jogo, com circulação positiva e os jogadores em dobras eficazes e pressão sobre a bola, para partir com eficácia na direção da baliza adversária, mantendo a estrutura organizacional.
Até à fase de grupos, sem sombra de dúvida, Portugal foi uma das equipas que melhor futebol praticou, sem perdas de identidade. As substituições por lesão ou estratégia, resultaram porquanto há uma ideia consistente e cada uma sabe como desempenhar as funções. Argentina e México com bons jogadores, mantiveram muita dureza que não deveria ser tolerada. A França e o Brasil irregulares, alternando jogo rápido e eficaz com outros momentos mais fracos, previsíveis e com menor rendimento. Recuperar física e psicologicamente, com jogos de 3 em 3 dias, num ambiente global que acrescenta stress e ansiedade, é sempre uma exigência complexa. Saber superar os dramas (lesões e preocupações com os familiares nos países de origem, onde a liberdade é atualmente uma utopia), pressões, prepotências e violação dos direitos humanos, assim como cargas de esforço, em horários e climas diferenciados, podem originar situações pré-depressivas. Por outro lado, além dos esquemas negociais, que permitem inflacionar as transferências, não se ouviu falar da exigência do fair play financeiro. Se o futebol não definir e exigir transparência e rigor, o que poderá estar em causa é a subvalorização do jogo e o crescimento dos investimentos lucrativos, fora das quatro linhas.
O jogo que nos apaixona corre diversos riscos e nesse rumo poderá perder o que o torna a única linguagem planetária. É urgente definirem regras precisas e competições que salvaguardem os atletas, caso contrário veremos menos génios nos relvados, embora tendo a publicidade como estratégia de crescimento. O controlo financeiro dos negócios que envolvem o futebol carece de regras universais. Aventureirismos megalómanos são fugas para a frente, com resultados catastróficos… Não é preciso grande esforço, regressando a tempos anteriores, para se constatar que o jogo tem como adversário de peso o negócio globalizado e a ambição desmedida que sacrifica valores humanos.
Não há donos do mundo (embora haja sempre quem tenha essa tentação), porém o planeta é de todos e não da ganância de alguns líderes que não podem ter tratamento especial, mas devem ser obrigados a cumprir as regras que são património da Humanidade. O futebol não deve servir para alienar e dividir, mas antes para criar condições para surgirem mais talentos. Neste momento, uma das prioridades é a recomposição das equipas para conseguir manter a sua coerência: assim, Portugal vai manter a sua estratégia à qual desejamos o maior sucesso, para a fase de definição dos títulos.
Temos observado todos os jogos, sem conseguirmos identificar um de maior excelência. Vemos alguns lances com definição e qualidade, mas também falhas graves de guarda-redes, que decidiram jogos. CR7, no terceiro jogo, evidenciou as carências da inexistente pré-época assim como a pouca utilização em jogos oficiais, no campeonato inglês.
Como festa de bancada, quer dos adeptos de origem, quer dos grupos motivados para aumentar a alegria e o espetáculo, tem sido agradável, pelo convívio e alegria entre diversas nacionalidades. Perante as reportagens televisivas, o Catar aproveitou a divulgação da capacidade de organizar e da excelente qualidade tecnológica e conforto dos estádios, que permite uma divulgação mediática por todo o planeta. Após a fase de grupos e nas fases sequentes, continuamos à espera de um jogo que seja um hino ao futebol. Até ao momento, o Mundial faz lembrar produto com pouco brilho, dentro das quatro linhas. Em termos emocionais, os jogadores são obrigados a dar o máximo possível, por isso, no regresso aos respetivos campeonatos, valerá a pena acompanhar as prestações dos atletas que estiveram nesta competição e refletir sobre as escolhas de um Mundial e a escolha da localização.
OITAVOS DE FINAL
A seleção dos Países Baixos teve nos seus laterais a chave para o sucesso e chegou ao 2-0: os Estados Unidos reduziram, mas o terceiro golo dos Países Baixos sentenciou o resultado. Estados Unidos revelaram progressos, mas a experiência do adversário foi decisiva. A Argentina venceu uma Austrália unida e com expectativa de seguir em frente. A experiência e o talento de Messi deixavam prever uma vitória dos argentinos, mas o jogo foi diferente do que se pensava. Argentina controlou, sempre com muita intensidade, circulou melhor, mas teve pela frente uma Austrália muito combativa que num rasgo de talento e, nos minutos finais, desperdiçou duas oportunidades. O resultado (2-1) foi consequência do segundo golo que surgiu de erro infantil do guarda-redes australiano e de ingenuidade coletiva; o resultado esteve em dúvida e a Austrália poderia ter empatado e obrigado a um prolongamento.
A Polónia entrou mais forte, jogando no meio-campo da França, circulando sem criar grande perigo, embora com mais posse e perdeu uma grande oportunidade. A França desmarcou Giroud que fez o 1-0. Na segunda parte, a Polónia perdeu intensidade e a França controlou o jogo marcando mais 2 golos, ambos por Mbappé que certamente irá superar alguns recordes, em função da sua idade e talento. Aos 97’ Lewandowski marcou o golo de honra da Polónia, através de uma grande penalidade.
O Senegal iniciou a partida com mais posse, mais veloz e criou lance de perigo. A Inglaterra começou recuada, posicionamento bem organizado, para sair em contra-ataque: aos 39’ marcou o primeiro golo e aos 47’ o segundo. O Senegal tentou avançar com maior eficácia, mas a Inglaterra, muito segura, ainda marcou mais um golo, conseguindo o apuramento.
O Japão, que alcançou o primeiro lugar do seu grupo, surpreendeu, ultrapassou o muro defensivo adversário, marcando um golo e criando mais oportunidades. Na segunda parte, a Croácia, mais experiente, empatou. O jogo terminou com empate e, pela primeira vez, recorreu-se aos pontapés de grande penalidade: Japão falhou 3 pontapés de 11 metros e marcou apenas 1 e a Croácia falhou 1 e marcou 3. Croácia apurada. Uma palavra para a imagem de desportivismo, disciplina e exemplo coletivo, que a seleção japonesa deixou para todos!
O Brasil defrontou a Coreia do Sul: 1 golo ao iniciar, o segundo aos 12’, o terceiro ao minuto 28’ e o quarto aos 36’. A Coreia fez um bom jogo, boa circulação em velocidade, mas o Brasil não deu hipótese e acrescentou fantasia e arte, deliciando-se a jogar e a criar passes únicos. Na segunda parte, o Brasil relaxou e a Coreia do Sul conseguiu marcar um grande golo. Paulo Bento apresentou um excelente trabalho com a sua equipa, que deixou imagem muito positiva.
Marrocos surpreendeu desde o início, fechando espaços à Espanha, com linhas juntas e saídas para o ataque com objetividade e com o posicionamento no relvado, impediu a circulação pelo adversário, obrigando a Espanha a defender mais recuada. Marrocos revelou tranquilidade, competência e organização. Desde o primeiro jogo até ao momento, Marrocos só sofreu um golo. Espanha tentou libertar-se da pressão, mas Marrocos muito eficaz manteve o jogo mais próximo da baliza adversária. No segundo tempo Espanha esteve mais forte, muito mais posse de bola, lances de perigo, mas sem golos. Arbitragem exemplar a merecer nota máxima. Seguiu-se o prolongamento sem se alterar o resultado. Depois, aconteceu o desempate por grandes penalidades que Marrocos venceu, porque a Espanha não conseguiu marcar nenhum golo.
O jogo de Portugal com a Suíça traduziu-se numa goleada (6-1) o que dispensa comentários, a não ser que temos material humano talentoso. A Suíça começou melhor, mas a nossa Seleção revelou coesão, com um meio-campo fantástico e uma organização de qualidade. Portugal jogou com uma estratégia bem definida e acrescentou criatividade, em função da competência dos nossos atletas. Manter a união e a humildade, cada vez mais forte, é imprescindível para perseguir metas mais elevadas.
DESTAQUES
JAPÃO surpreendeu conseguindo o primeiro lugar do seu grupo e merece o aplauso pela sua coerência de viver, a todos os níveis; desde a escola inicial até ao topo da formação há uma visão estratégica a todos os níveis, incluindo o futebol e o desporto em geral, no qual sem muitos craques internacionais, conseguiram superar e vencer, com um espírito coeso de equipa, como forma de vida. A união no jogo e a ligação dos atletas, treinador e staff são assim, porque o modelo de educação também contribui para esse comportamento. Exemplar! E assim alcançou um lugar nos oitavos de final, superando as grandes equipas mundiais. Stephanie Frappart, francesa, árbitra profissional de futebol, após ter apitado jogos na liga francesa e da Champions, Supertaça europeia e recentemente o Costa Rica-Alemanha (resultado 2-4), no presente Mundial, liderou de forma competente e exemplar uma equipa de arbitragem com duas árbitras assistentes. Chegou a vir apitar um jogo da Liga Portugal e, como habitual, recebeu elogios pela qualidade, sobriedade e competência. Primeira parte do Brasil encantou…
REMATE FINAL
Rei Pelé, glória e lenda de todos os tempos e em todo o planeta, foi internado no hospital para tratamentos, afirmou a sua filha, Kely Nascimento, que agradeceu a preocupação de todos os fãs. Pelé é e será para sempre o maior símbolo do futebol, que com a divulgação de ‘ginga’ mudou radicalmente o jogo e o tornou fantástico, como futebol-arte ou futebol-poesia. A relação com a bola tornou o jogo uma arte inesquecível, que muitos autores apontam como atributos indispensáveis, os movimentos do samba e da capoeira…