Está na hora de Varandas ter mais poder

OPINIÃO07:30

O tirocínio de presidente está mais do que feito. Transfigurou o Sporting e chegou o momento de assumir o futebol

O Sporting está bem e recomenda-se. Frederico Varandas aproveitou, e bem, o momento para marcar posição. Na sequência da acusação de corrupção da Benfica SAD e de Luís Filipe Vieira, no caso dos e-mails, o presidente dos leões deu uma entrevista muito lúcida à RTP. Para muitos Frederico Varandas não ganhou nada ao atacar o eterno rival e, embalado, também o FC Porto, recordando o Apito Dourado e mais uma vez apontando o dedo a Pinto da Costa — até André Villas-Boas foi visado, por não se demarcar claramente das práticas do ex-presidente dos dragões. Eu considero que fez bem. Afinal, o futebol é muito volátil e o que está hoje cor de rosa amanhã pode estar cinzento.

O Sporting esteve décadas afastado dos títulos, perdeu influência e tornou-se um fidalgo arruinado. Os reis e poderosos eram os rivais, com os leões a serem apenas um parceiro. Em muitas ocasiões utilizado estrategicamente, conforme as conveniências. Umas vezes amigo, outras inimigo. FC Porto e Benfica definiam as regras.

Foi com isto que Frederico Varandas cresceu e foi isto que vincou na entrevista. Nunca esquecerá esses tempos e sabe que os sportinguistas também não. Por isso não podia perder a oportunidade de pôr o dedo na ferida. Marcou uma posição e isso poder-lhe-á trazer benefícios futuros, pois, como já referi, tudo muda muito rápido e não se sabe como será o Sporting sem Hugo Viana, talvez sem Rúben Amorim e provavelmente sem Gyokeres num futuro próximo.

Frederico Varandas parece outro. Está mais confiante e os especialistas que tanto o condenaram após as (poucas) aparições públicas já têm mais dificuldades em apontar-lhe defeitos. O presidente dos leões escolheu bem as palavras e foi certeiro na mensagem. Tanto para fora como para dentro. Tanto nas questões desportivas como nas financeiras, como o perdão da dívida da banca, que tanto é arremessado pelos adeptos rivais. Considero-o «um bom negócio» e deu o mérito a Francisco Salgado Zenha, o administrador financeiro. Aprecio o estilo low profile de Varandas e elogio-lhe a forma como tem gerido o clube, delegando responsabilidades. Ao seu estilo, tem conseguido levar a água ao seu moinho e foram muitos os obstáculos que encontrou, começando pelos internos. A guerra que ganhou às claques após o ataque à Academia está mesmo a fazer escola.

O presidente dos leões também não se cansa de elogiar e até agradecer a Rúben Amorim ou a Hugo Viana o trabalho desenvolvido, como também já aproveitou para dar confiança a Bernardo Palmeiro, o futuro diretor-geral, ou Flávio Costa, o diretor de scouting. Varandas é discreto, não procura os holofotes, mas considero que está na hora de ter mais protagonismo. Afinal, a última palavra é dele e, agora…, ninguém questiona as suas escolhas. Acertou na mouche com Amorim e transfigurou o clube. O tirocínio está mais do que feito e chegou a hora de ter mais poder, de assumir o futebol.