Erros a mais
Não vale a pena dar a volta à questão quando a questão é clara para (quase) toda a gente: nesta altura do campeonato, há demasiados erros de arbitragem para o que era expectável e desejável. A constatação assenta, sobretudo, no facto de haver agora uma tecnologia de ponta que foi introduzida no futebol precisamente para ajudar a diminuir falhas graves cometidas em campo.
É importante não esquecer que esta função, a de arbitrar jogos, é muito mas mesmo muito difícil: a pressão exterior é exasperante, a tolerância à decisão é quase nula e a paixão das pessoas parece descompensada. Tende a ver o que o coração dispara. Os portugueses podem até gostar de futebol, mas gostam mais do seu clube e da rivalidade tóxica que estes alimentam com quem lhes faz mais concorrência.
A nossa cultura desportiva roça a do vão de escadas e as vozes que a afundam quotidianamente são mais fortes do que aquelas que pontualmente a tentam resgatar. O futebol é o espelho cristalino da nossa sociedade e a expressão só é cliché porque é verdade.
Olhando para tudo isto com alguma distância e frieza, é importante perceber que a nossa expectativa, a expectativa das pessoas e da perceção pública em geral, está calibrada por cima, bem acima daquilo que o Protocolo VAR pode oferecer nesta altura.
Não esqueçamos, havia a promessa de melhorar muito, não de erradicar o erro do árbitro por completo. Ainda assim, e dando de barato as limitações a que estão sujeitos, as dificuldades inerentes a um sem número de decisões impossíveis e todos os lapsos que razoavelmente devemos aceitar como naturais, tem-se visto erros inadmissíveis para uma competição que conta agora com o auxílio precioso da vídeoarbitragem. Erros que se repetem há semanas e em vários estádios.
Em cada jornada, parece haver lances que são, aos olhos de todas as pessoas sensatas e razoáveis, francamente mal avaliados. Lances daqueles unânimes e cristalinos, cuja decisão não faz sentido nem pode acontecer. Lances que cabem claramente nos pressupostos protocolares, que são óbvios em qualquer imagem e que deixam toda a gente à espera de uma só decisão: da decisão certa.
Estou a falar de pequenos escândalos que mancham a credibilidade de uma classe que não se pode dar ao luxo de cometer erros que não têm explicação nem justificação exterior.
A arbitragem tem feito, ao longo das últimas décadas, um esforço notável para crescer em condições, meios e apoios. Dá aos árbitros qualidade de trabalho e de acompanhamento. Em troca, tem o direito a exigir qualidade, compromisso e competência. Acima de tudo, competência.
Esse filtro deve continuar a ser feito, para que meia dúzia de jovens bem-intencionados mas sem qualidade para a função não destruam o trabalho, dedicação e imagem de muitos bons profissionais que andam lá dentro.