10 abril 2024, 09:03
Sven-Goran Eriksson será homenageado na Luz
Benfica prestará tributo ao antigo treinador sueco no jogo com o Marselha
A dignidade, a simplicidade e a paz de Eriksson perante a morte; um sorriso com mais de 14 anos que não se esquece
Um cinzento metálico cobre uma paisagem idílica de um lago gelado, na outra margem as árvores estão quase despidas e a neve cobre os relvados à frente das poucas casas que conservam uma nobreza sóbria. Há, naquelas imagens, o peso da morte, mas logo virá a primavera, o sol ganhará força, as flores voltarão a exibir-se vaidosas, os pássaros cantarão, as cores recuperarão o brilho. A vida é linda.
É este, em Sunne, Suécia, o local que Sven-Goran Eriksson escolheu para viver os últimos dias. Foi lá que nasceu. Conhecêmo-lo numa reportagem do Channel 4, de Inglaterra, disponível no YouTube há cerca de três semanas. Eriksson abriu a porta a jornalista inglês e abriu o coração com a mais profunda sinceridade. Vale a pena perder quase 17 minutos das nossas vidas para perceber o que vai na cabeça de alguém que conhecemos tão bem e aprendemos a respeitar e que recebeu a sentença de morte quando lhe disseram que a merda do cancro vai derrotá-lo.
Há mais de 14 anos, em março de 2010, tive a felicidade de entrevistar Eriksson. E, hoje, voltando a ler as respostas do treinador quero acreditar ainda mais na sinceridade de cada palavra. Estava quase a completar-se 20 anos da final da Taça dos Campeões Europeus que o Benfica, com Eriksson, perdeu com o Milan. Já não se lembrava da equipa que tinha escolhido, nem se recordou do que disse antes do jogo, mas não foi preciso puxar muito pela memória para reviver o momento em que foi convidado a treinar «o Benfica de Eusébio, Torres ou Coluna», para falar de Bento, Pietra, Humberto Bastos Lopes, Álvaro, José Luís, Carlos Manuel, Chalana, Filipovic ou Nené, para se arrepiar com o «bruuuuuummmm» que faziam mais de 100 mil pessoas na Luz, uma coisa que nunca tinha visto.
10 abril 2024, 09:03
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Eriksson, quero acreditar ainda mais hoje, falou de coração aberto da amizade com Toni, sorriu com carinho quando ao pensamento dele voltou Neno a cantar músicas de Julio Iglesias, soltou uma gargalhada ao confirmar que o brasileiro Lima tocava violão no balneário, partilhou a admiração pelo génio de Chalana, contou histórias bonitas e feias, resumiu, numa frase tantas vezes batida, que o Benfica é especial. Talvez hoje, na Luz, quando o Benfica e os benfiquistas lhe prestarem homenagem possa viver tudo isso outra vez, possa sentir-se bem.
Acabou a conversa a partilhar o orgulho que tem pelos filhos e a manifestar a esperança que também os filhos tenham no pai.
Voltando à entrevista para o Channel 4, Eriksson diz que, agora, dá valor ao acordar de manhã, que isso mudou na vida dele, que aprendeu a viver com o diagnóstico maldito e que não pensa no dia de amanhã, nem no seguinte. Não quer sentir pena de si próprio e não falo muito da merda do cancro. «É o que é, provavelmente não consigo vencê-lo. De qualquer forma, a vida é linda», sentenciou.
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Não é fácil explicar mas quem está ao lado de Eriksson sente uma aura de dignidade, simplicidade e paz. Talvez Eriksson encontre tudo isso e não o peso da morte naquele cinzento metálico com que se levantou todos os dias no final do inverno. Talvez encontre tudo isso hoje na Luz. O que custa mais a acreditar é que a vida é linda.