Era uma vez três
Noite de fracasso sportinguista logo após o FC Porto ter dado enésima prova de classe europeia: Atletico Madride 1.º lugar no bolso
OSporting teve tudo na mão - qualificação e primeiro lugar do grupo (!), cortesia do golo de Arthur Gomes - e (quase) tudo deixou fugir, numa noite cruel para os adeptos leoninos, sempre incansáveis no apoio à equipa mesmo quando era visivel que o Sporting já não tinha forças nem lucidez para dar a volta ao Frankfurt. É verdade que os leões tiveram azar com as lesões - perder Nuno Santos e Manuel Ugarte num jogo de grande intensidade fisica como o de ontem é duro - e muito «azar» com a actuação desastrada do árbitro esloveno Slavko Vincic, que assinalou um penalty muito discutível a Coates depois de este sofrer uma falta de Kamada (o VAR serve para quê?), e perdoou de forma escandalosa o segundo amarelo ao central Kristian Jakic (derrube a Trincão), que teria deixado o Frankfurt a jogar com dez no último quarto de hora. Mas, sejamos realistas. O Sporting nem a ganhar jogou com a tranquilidade que o resultado impunha e acabou vitima da intranquilidade e falta de confiança que atormenta a equipa desde o inicio da época. Houve nervos e ansiedade a mais, classe e maturidade a menos. O Frankfurt foi muito melhor após o intervalo (a entrada de Sebastian Rode e o adiantamento de Kamada viraram o jogo do avesso), fez pela vida, e acabou por justificar a qualificação, apesar de beneficiado por erros arbitrais.
Quando o jogo de Alvalade terminou o Sporting estava eliminados da Europa, mas ainda havia uma surpresa para aliviar o sofrimento leonino. Um formidável pontapé do médio dinamarquês Pierre-Emile Hojbjerg aos 90+5m em Marselha, aos 90+5m, não somente deu a vitória ao Tottenham como ressuscitou o Sporting para a Liga Europa. Um fraco consolo para os leões de Ruben Amorim, que sofreram ontem a oitava derrota e a maior decepção desportiva/financeira da época. O futebol português esteve à beira de uma proeza inédita - três clubes nos oitavos-de-final - e ficou-se pelo quase em mais uma daquelas situações em que «bastava» o empate…
FC PORTO: CLASSE
OAtletico Madrid pode agradecer à falta de pontaria de dois jogadores portistas (Evanilson e Galeno) o facto de não ter saído goleado ontem do Dragão (grande ambiente!). O FC Porto, na sua melhor versão europeia, superiorizou-se de forma cristalina ao rival espanhol, que beneficiou de um erro de Marcano para maquilhar um resultado que podia ter sido muito mais expressivo, dada a superioridade portista em jogo jogado, em inteligência táctica e em oportunidades de golo. Sérgio tinha dito que ia jogar para ganhar o jogo e o grupo e assim aconteceu. Contas feitas, o FCP terminou onde merecia porque mostrou ser a melhor equipa do grupo. Excepção feita ao horrendo tropeção caseiro com o Brugge (corrigido de forma exemplar na Bélgica), a verdade é que houve mais Porto nos quatro jogos com Atletico e Leverkusen. O triunfo no grupo dispensa o campeão de enfrentar tubarões como Bayern, Chelsea, Real Madrid, Manchester City e Nápoles nos oitavos. Mas pode vir o Liverpool…
O FC Porto ganhou o grupo de apuramento pela 6.ª vez no seu historial numa noite especial para Sérgio ‘Special’ Conceição: conseguiu a 20.ª vitória em 40 jogos na Champions (jogos de qualificação excluidos) e tornou-se o segundo treinador português depois de José Mourinho (81) a atingir a vintena de triunfos nesta competição. Para o FC Porto, foi a 96.ª vitória em 216 jogos na Champions, mais do que todos os outros clubes portugueses todos juntos (Benfica: 43; Sporting: 19; Boavista: 4; Braga: 4) neste modelo estreado há 30 anos.
BENFICA, MANTER O FEITIÇO
GANHAR em Haifa perante uma equipa que sonha com a Liga Europa é a missão do Benfica, mesmo que Roger Schmit proceda a uma ou outra alteração no onze. O treinador alemão sabe que é importante manter a incrível dinâmica vitoriosa da equipa, feitiço que traz a nação encarnada num estado de empolgamento a roçar o delirio. Perder o jogo não traria consequências no que toca ao objectivo prioritário do apuramento - conseguido - mas quebraria certamente a aura de invencibilidade (e de confiança ilimitada) que acompanha presentemente o Benfica e que tanta mossa tem causado nos adversários. Alguns deles parecem quase perturbados com aquilo que as águias têm feito: as dinâmicas vitoriosas, quando são longas e enfáticas, tendem a incutir nos adversários o convencimento de que será muito dificil «ganhar-lhes». É este o feitiço que Schmidt quer manter o máximo de tempo possível. Já agora: não perdendo em Haifa, o Benfica fixa um novo recorde de invencililidade na Champions: serão 11 jogos seguidos sem perder (com eliminatórias de qualificação incluidas), uma marca que suplanta o anterior recorde (dez), estabelecido pelo Benfica de Jorge Jesus em 2011-12. Esta série começou com um 3-3 em Anfield na despedida da época passada.
É claro que manter a invencibilidade será bonito (lembre-se que o Benfica soma 21 jogos sem derrota), mas terminar no primeiro lugar do grupo (com a ajuda da Juventus, claro) será ainda mais bonito. O Paris SG, que joga em Turim com a Juventus, também sabe disso. É que pode ser a diferença entre «levar» ou não com Bayern, Chelsea, Real Madrid, City…