Equilíbrio e bom senso

OPINIÃO20.10.202004:00

IMAGINO que não seja fácil ser dirigente desportivo em Portugal. O cargo requer tempo, amor à camisola, compromisso e sacrifícios pessoais. Conheço muitos e sei bem a loucura que é o seu quotidiano. Ainda assim, persiste na sua imagem exterior uma ideia negativa. A opinião pública tende a vê-los como a face negra do jogo. Essa consideração, baseada em premissas mais antigas que recentes, parece-me injusta. Há muitos que entregam à sua função competência e integridade. Como em tudo na vida, haverá sempre uma minoria que acha erradamente que pequenos atalhos os levam mais longe em menos tempo.

Vem isto a propósito de uma reflexão que gostaria de levantar. Uma reflexão que parte de alguém que esteve lá dentro muitos anos e que está cá fora há tempo suficiente para perceber que ainda há um caminho a percorrer:
- Penso que está na altura de haver uma evolução qualitativa no discurso (pontual) de alguns responsáveis. Uma evolução que deve seguir o sentido da elevação, urbanidade e modernidade.

A forma excessiva como alguns ainda reagem às incidências dos jogos parece-me desequilibrada e desajustada face à responsabilidade que agora carregam sobre os ombros.

O direito à crítica é inabalável e deve ser exercido. Ninguém deve ficar silenciado se sentir que foi lesado. A questão é o local e a forma como usam essa prerrogativa. É aí que deve sobressair o caráter, ainda que o populismo de uma intervenção acalorada indicie o oposto. É pura ilusão, acreditem. Nós não nos definimos por meia dúzia de afirmações intempestivas, ditas num tom acalorado ou de maneira intempestiva, ao estilo de murro na mesa.

Um dirigente pode comportar-se como adepto mas não quando está em funções. Aí é líder.

As críticas às arbitragens são legítimas, mas não devem servir para camuflar pressões ou problemas estruturais. Usá-las como arma de arremesso não é a resposta para questões maiores. Estar indignado é compreensível e humano, mas repetir chavões de um passado gasto já não faz sentido. Está demodé.

Hoje a opção deve passar por se dizer o que se pensa e sente com educação e savoir faire. Não há outra forma. A ideia enraizada de que quem é bonzinho não se safa no futebol ou, pior, de que quem grita mais alto é que ganha, não é apenas ridícula: é ofensiva!

Fica o repto, que não tem destinatário específico.
A liderança faz-se pelo exemplo e é esse que todos esperam ver quando a pressão aumenta.