Enigmas
Se desde o início da época as diferenças entre analistas são tão díspares, como podemos defender e pacificar o nosso futebol?
N OS últimos anos temos assistido ao reforço de grupos empresariais para controlarem clubes, em diversos países, como se fosse a marca de um produto comercial e multinacional. Modelo de concentração que pode colocar em causa muito do património do futebol e do movimento associativo. Há países onde os clubes deixaram de pertencer aos sócios e passaram a ter donos absolutos. Há anos atrás ninguém pensaria que os destinos dos clubes dependeriam de quem os comprou. A partir daí assistimos à transformação do futebol-jogo em indústria-futebol, que não se pode limitar a um serviço para arrecadar lucros ou alimentar vaidades dos que possuem grandes fortunas. A La Liga aceitou a proposta do fundo internacional CVC (fundo multinacional com sede no Luxemburgo, especializado em empresas não cotadas), que vai investir 2,7 milhões de euros no negócio-futebol, passando essa Liga a ter o valor no mercado de 24.250 milhões de euros, a troco de uma participação de 10% (empréstimo com prazo alargado). Esse apoio destina-se a dinamizar negócios, apoiar financeiramente os clubes, cumprir as regras definidas para investimentos nas infraestruturas, no plantel e ainda compensar os prejuízos da pandemia. O CVC participa em diversos setores da economia. Falta saber a posição dos clubes: o Real Madrid anunciou ações judiciais contra o presidente da Liga, o gestor do Fundo CVC e o próprio Fundo. Noutras paragens, a situação tem contornos contraditórios e o presidente do Galatasaray sugeriu aos seus jogadores mais caros, como Radamel Falcao (antigo avançado do FC Porto) para tentarem encontrar uma solução, pois o clube não pode continuar a pagar salários tão elevados. Dá que pensar!
LIGA
D E dia 6 a dia 9 deste mês de agosto aconteceu a primeira jornada do campeonato. O pontapé de saída (com público no estádio, numa lotação de 33%) aconteceu em Alvalade e o adversário foi o Vizela, recém-promovido ao escalão principal. O campeão em título começou bem em termos coletivos e Pedro Gonçalves voltou a marcar golos de grande qualidade, garantindo a vitória sobre um Vizela com futebol organizado. Aos 59’ Palhinha viu o cartão amarelo e o futuro revelará os procedimentos de quem tem de aplicar a justiça de igual forma para todos. O jogo do Arouca com o Estoril foi muito disputado mas o Estoril foi mais eficaz e venceu. O Moreirense começou o jogo praticamente a perder e o Benfica ampliou a vantagem, embora o Moreirense tenha reduzido a diferença no marcador. O Marítimo com o Braga foi um jogo com ritmo e, na segunda parte, o Braga marcou dois golos que lhe garantiram a vitória, um dos quais num excelente livre direto de Ricardo Horta. O Vitória de Guimarães dominou a primeira parte e desperdiçou várias oportunidades de golo frente ao Portimonense, que, na segunda parte, equilibrou e marcou o golo da vitória. O Tondela venceu por 3-0 o Santa Clara, que acusou o esforço dos jogos da Conference League. O FC Porto venceu por 2-0 o Belenenses SAD, controlando o jogo com eficácia e com golos de Martínez e Luis Díaz. O Paços com o Famalicão foi jogo equilibrado na primeira parte mas, na segunda, o Paços foi superior e ganhou bem. O Gil Vicente venceu o Boavista por 3-0.
CONTRADIÇÕES
N O jogo do Sporting com o Vizela, cerca dos 30’, com o resultado em 0-0, aconteceu um lance que os adeptos podem interpretar livremente, mas os especialistas de arbitragem têm a obrigação de manter o rigor, sempre! Para um ex-árbitro num jornal, o jogador do Vizela «não usou o braço para amparar queda no solo». «O defesa projetou-se, em salto, para intercetar remate de Paulinho, crescendo em volume (…) Pontapé de penalti indiscutível e advertência. Arbitragem de enormíssima qualidade…». Para ex-árbitros que analisam arbitragem noutros jornais, deparamos com três análises unânimes e opostas à anterior: «O jogador do Vizela não podia ter o braço de outra forma… jogador no chão em posição defensiva com braço apoiado no relvado, nada podia fazer… não houve ação deliberada do jogador do Vizela que justificasse marcação de penálti.» Se em questões fáceis de opinar os especialistas divergem, a imparcialidade torna-se miragem. O destino fez justiça e o penálti foi para fora. A questão essencial é a razão por que não concordam em situações tão simples. Se desde o início da época as diferenças entre analistas são tão díspares, como poderemos defender e pacificar o nosso futebol?
PROVAS EUROPEIAS
N A 3.ª pré-eliminatória da Champions, o Benfica deslocou-se a Moscovo para defrontar o Spartak local. A primeira parte revelou algum equilíbrio mas o clube português foi sempre superior e desperdiçou várias oportunidades. O Benfica entrou forte e com organização. No segundo tempo, uma jogada construída de trás, com passes sucessivos, criou espaços livres e Rafa marcou o primeiro golo (51’). A diferença de qualidade das equipas foi evidente. A equipa da Luz pressionou alto e controlou toda a segunda parte. Os russos não conseguiam sair do seu meio-campo de forma sustentada. Com João Mário como maestro, Pizzi avançou com mais liberdade e os três centrais foram suficientes para fechar a baliza, com Vlachodimos muito seguro. O Benfica voltou a marcar, por Gilberto (74’), em mais uma jogada criada no meio-campo e isolando o marcador. Jorge Jesus não esqueceu Vieira e por isso, quer queiram ou não, marcou um golo solidário. Na Luz o Spartak entrou melhor do que na primeira mão, mas o Benfica, com mais controlo no segundo tempo, voltou a vencer, com um golo de João Mário e outro após remate do reforço ucraniano da Luz que tabelou num adversário e confirmou o 2-0. O Benfica jogará o play-off com o PSV.
Na terceira eliminatória da Conference League, o Santa Clara eliminou os macedónios do Shkupi e venceu a primeira mão com o Olimpija Ljubljana. No outro jogo dessa nova liga, o Paços de Ferreira, na primeira mão, em casa, venceu folgadamente a equipa irlandesa do Larne. Sobre esta Conference League será oportuno questionar a sua criação, pois o processo acaba naturalmente por dar mais uma oportunidade aos grandes clubes, precocemente eliminados da Champions e da Liga Europa, deixando a ideia (ou a ilusão?) de criar oportunidade para clubes de menor dimensão…
Benfica ultrapassou Spartak Moscovo e marcou encontro com o PSV no ‘play-off’
GRANDES CRAQUES
H Á clubes que não aparentam restrições económicas. O PSG é um desses. Mesmo assim nem sempre consegue o título, embora tenha jogadores fantásticos. Com as novas aquisições de Hakimi, Sérgio Ramos, Wijnaldum, o treinador Pochettino passa a não ter margem para falhar o título. O PSG contratou um dos maiores craques do futebol mundial, Lionel Messi, que cortou a ligação que tinha com o Barcelona ao fim de 21 anos. Agora teremos outra fase que é aguardada com expectativa, até porque avançados como Messi, Neymar e Mbappé juntos... é outra dimensão. A Torre Eiffel brilha ainda mais na cidade luz. Ainda recordo quando os clubes tinham de cumprir o fair-play financeiro, mesmo que alguns conseguissem magias especiais…
REMATE FINAL
A Missão Olímpica portuguesa foi a mais produtiva de sempre em termos de medalhas, diplomas e recordes batidos, mesmo com as habituais discussões sobre verbas atribuídas e reduzido número de atletas federados, alcançando mais medalhas (1 de ouro, 1 de prata e 2 de bronze). Pedro Pichardo é o atual campeão olímpico do Triplo Salto. Contudo, mais do que a ambição pelas medalhas, é imprescindível uma política desportiva com fundamentos de crescimento. Tivemos muitos resultados excelentes, que passaram despercebidos pela mediatização das medalhas, que mereciam maior destaque, pois representam muito talento e sacrifício e que se pode resumir nesta afirmação simples só ao alcance de grandes campeões: na prova equestre, no 13.º obstáculo, um toque leve fez cair uma barra e a final transformou-se no 10.º lugar para Luciana Diniz, que afirmou: «O erro foi da cavaleira, o cavalo estava perfeito (…) Vertigo é um dos melhores cavalos do Mundo.» Que grande lição que o desporto permite!
Foram todos e todas excelentes, porque deram o seu máximo e sem os apoios indispensáveis a este nível competitivo. Obrigado Tóquio e felicidades Paris2024, onde também se possa valorizar uma reflexão profunda sobre o Olimpismo.