Os 'timings', ou a falta deles, nos escrutínios das federações que vão eleger os órgãos do Comité Olímpico e os destinos dos atletas nos próximos quatro anos
Com a realização dos Jogos de Paris-2024 cumpriu-se mais um ciclo olímpico e começa uma nova olimpíada — período de quatro anos que separa cada celebração do maior evento desportivo mundial — até Los Angeles-2028.
O que também significa o momento de eleições para, em certos casos, novas lideranças nas federações, com destaque para as 33 que integram modalidades que fazem parte do programa olímpico e têm especial assento no Comité Olímpico de Portugal e em ajudar o trabalho deste.
Se bem que o êxito de que tanto se fala dos resultados na capital francesa, o melhor de sempre em termos de valor dos pódios: uma medalha de ouro, duas de prata, uma bronze, a que se juntam 14 diplomas (até ao 8.º lugar) — em Tóquio 2020 havia sido 1+1+2+15 diplomas — se deve fundamentalmente às federações, clubes e, em muitos casos, ao investimento do próprio atleta. Não nos enganemos em relação a isso. Faz-me impressão, desde há muito, como é que existem federações que tendo direito a quatro votos na eleição para o COP, e por isso na decisão que quem comandará aquele organismo, só realizem o seu escrutínio um ano mais tarde. Já depois da votação do presidente do Comité ter acontecido.
E que alguns achem normal que alguém tenha poder de decisão na pessoa que vai liderar a preparação da Missão Olímpica, possa já nem estar à frente dessa federação passado uns meses. Isto, salvo a federação de desportos de inverno que, naturalmente, se rege pelo ciclo dos seus Jogos.
Outra situação que também não me parece fazer muito sentido é que, considerando a preparação de atletas tão importante e se pense que quatro anos passam a voar, seja aceite que as eleições para presidente e corpos sociais de uma federação aconteçam em novembro, dezembro… ou até em janeiro. Isto, se não houver necessidade de repetir o escrutínio, como já aconteceu e não, por exemplo, no mês imediatamente a seguir a que terminaram os Jogos.
O futebol regressou e os surpreendentes 'comentadores olímpicos' e dirigentes desportivos que são rápidos a aparecer ao lado dos atletas na chegada das medalhas ao lado das imagens e em fazer apenas elogios àqueles que que as ganharam mas nunca nas partidas e em campeonatos nacionais devem voltar brevemente ao estado de hibernação.
Engane-se quem pensa que o apuramento olímpico e resultados de excelência se constroem num ciclo. Acredito na máxima: os Jogos não são de quatro em quatro anos, mas todos os dias.
Mesmo sabendo que há modalidades cujos calendários a nível nacional e internacional se regem pelo ano civil e não pelo verão, como se pode perder meses em casos em que já se sabe que o presidente daquela federação não continuará ou corre o risco de não se manter. E não se desculpem com o fecho das contas.
Num país onde planear e projetar trabalho a quatro e mais anos é raro e complicado, como podem aqueles que vão liderar os destinos de uma federação e que ainda terão de alterar quem são os selecionadores nacionais, corpos técnicos e tudo mais, permitir que se perca tanto tempo.
Mudar e implementar um plano também leva alguns meses e esses seriam preciosos para todos, incluindo os atletas. Afinal, são eles o foco deste trabalho todo. Ou, se calhar, não são…