Temo só 20% acima da normalidade
Fotografia António Cotrim

OPINIÃO Temo só 20% acima da normalidade

OPINIÃO13.09.202411:00

O futebol regressou e os surpreendentes 'comentadores olímpicos' e dirigentes desportivos que são rápidos a aparecer ao lado dos atletas na chegada das medalhas ao lado das imagens e em fazer apenas elogios àqueles que que as ganharam mas nunca nas partidas e em campeonatos nacionais devem voltar brevemente ao estado de hibernação.

O anúncio do primeiro-ministro Luís Montenegro da intenção do Governo em «fazer crescer acima de 20 por cento» o valor que esteve alocado aos projetos Olímpico e Paralímpico agora cumpridos sob o ponto de vista da preparação e criação de condições para — usando uma linguagem também desportiva mais positiva — atacarmos os próximos objetivos olímpico e paralímpico para 2028, a cumprir-se até ao final do ano será, provavelmente, a única situação 20 por cento acima do regresso à normalidade desportiva não-futebolística do País.

Outra boa ajuda é o facto do Comité Olímpico de Portugal apoiar a manutenção, no Projeto Olímpico para Los Angeles-2008, de todos os atletas que estiveram em Paris-2024, se o desejarem, independentemente dos seus resultados na capital francesa. E vários há que são atletas de excelência que terminaram as suas prestações aquém do esperado, perdendo assim o apoio total para o início da preparação do próximo ciclo, até alcançarem um resultado positivo num Europeu ou Mundial, ou fazerem um registo de acesso aos próximos Jogos a partir do momento em que tais marcas forem conhecidas.

Agora, quanto ao resto do apoio e atenção nacional que também seriam desejáveis, temo, realmente, que vá ficar tudo igual.

Temo que a maioria dos comentadores televisivos que habitualmente discutem e analisam as jornadas e o mundo do futebol e que tanto falaram durante os cerca de 16 dias dos Jogos Olímpicos — sim, porque nos Paralímpicos o futebol já havia regressado de férias — muitos deles com análises redondas de pasmar e erros de quem mal conhece outras modalidades desportivas e os seus protagonistas ou como treinam, só reapareçam como experts daqui a quatro anos. Poderiam tentar continuar a fazê-lo…

Temo que os programas ou momentos em noticiários catalogados como desporto voltem, ao longo do quadriénio, apenas a ocupar-se de futebol e só tenham espaço ou deem fugaz atenção a algum daqueles que se exibiram em Paris-2024 se foram campeões do mundo e se, nesse dia, não houve um jogo importante. Alguns, praticamente, já desapareceram das notícias e não pararam de competir.

Vêm aí os americanos!

7 agosto 2024, 17:49

Vêm aí os americanos!

Mais do que nunca com os olhos postos na Europa, a NBA pondera investir numa competição ou até criar uma liga europeia de basquetebol e já está em conversações com a FIBA

Temo que os dirigentes desportivos e políticos, ou políticos travestidos de dirigentes desportivos, que também há muitos e que nos últimos quatro anos, melhor, nos passados 30, nunca, mas mesmo nunca vi num campeonato nacional de judo, natação, ginástica, atletismo, fases finais de basquetebol, andebol, hóquei em patins ou, até, num treino de Seleção, continuem desaparecidos. A menos que também lá se desloque o primeiro-ministro ou um secretário de Estado.

Curioso também é que apareçam e tanto procurem dar a cara nas chegadas de medalhados e nas imagens de televisão, fotografias ou redes sociais, querendo falar até em momentos que não são seus. Outro dos meus receios é que, durante a próxima olimpíada, quadriénio entre uns JO e os seguintes, irão continuar desparecidos. Engraçado, também não me recordo de os ver às partidas das seleções.

Temo que aqueles dirigentes desportivos que escreveram elogiosos textos sobre os medalhados nas suas páginas de redes sociais e que pedem os números de telefone para enviarem mensagens de parabéns, mas nunca colocaram uma linha para o que correra mal, continuem a ter dificuldade em aparecer ou se manifestarem antes das festas.

Por fim, temo que daqui a quatro anos os atletas para os Jogos de Los Angeles-2028 voltem a ter um período de desaparecidos em combate e apenas antes dos Jogos lhes comecem a fazer perguntas levando-os a sentir de imediato que, afinal, aquelas pessoas não sabem quem eles são nem como ali chegaram e objetivos que levam.