Eficácia

OPINIÃO22.09.202107:00

O árbitro prejudicou os dragões em Madrid. Um ponto conquistado fora é sempre importante, mas a estratégia de Conceição merecia muito mais

Afalta de liquidez das SAD e dos clubes cria situações complexas e perdem jogadores influentes por valores inferiores. Há equipas que começaram bem mas os prazos alargados para transferências obrigaram os treinadores e dirigentes a inventarem alternativas urgentes. Alguns perderam as referências mais importantes e tiveram de recorrer à formação e ofertas mais acessíveis. É urgente consolidar o equilíbrio financeiro, investir no scouting, na formação qualificada com projetos estáveis, evitando mudar o paradigma inicial. Reforçar financeiramente os clubes, construir equipas coesas e impedir aventuras sem retorno permite controlar as despesas. Privilegiar a qualidade e não a quantidade, num entendimento global que garanta a unidade do clube, fator indispensável para vencer. Os erros decisivos de arbitragem devem implicar responsabilização exigente. Como a memória é curta, de uma semana para outra esquecem-se lances anteriores. Os prazos para as decisões federativas têm de ser mais curtos e, por isso, os cargos deveriam ser exercidos em exclusividade, o que reforçava a imparcialidade. Os dirigentes, especialistas e colaboradores portugueses na UEFA e na FIFA, têm de defender o futebol português e divulgar as suas posições, para se poder ajuizar se são as mais adequadas ao nosso futebol.
 

PROVAS INTERNACIONAIS — CHAMPIONS

NO grupo B, o Atlético de Madrid recebeu o FC Porto. O campeão de Espanha não contava com a coragem, organização e talento dos portistas. O árbitro romeno revelou sucessivas falhas, prejudicando os dragões. Um ponto conquistado fora é sempre importante, mas a estratégia de Conceição merecia muito mais. O FC Porto na Europa mostra o seu valor, contra adversários poderosos e decisões erradas, com uma enorme capacidade de trabalho que permitiu ter o jogo controlado, em casa do adversário.    
No grupo C, o Sporting não foi feliz: aos 9’ já tinha sofrido dois golos, o que abala sempre a confiança. Aos 33’ o Sporting reduziu mas de imediato veio o terceiro golo holandês: ao intervalo 1-3. No reinício, Paulinho obteve um segundo golo que poderia alterar o jogo, mas o VAR anulou e aconteceu a goleada do Ajax em Alvalade, o que obriga a reflexão cuidada. Jogar na Champions como se joga na Liga, saiu caro.
 

FC Porto entrou na Champions com boa exibição e empate em casa do Atl. Madrid


PROVAS INTERNACIONAIS — LIGA EUROPA

NO grupo F, o Estrela Vermelha recebeu o Braga que controlou o jogo. Na segunda parte só faltava o Braga definir melhor o último passe. O adversário, num cabeceamento aos 76’, fez o 1-0. O Braga empatou na jogada seguinte. O descuido de defesa do Braga originou grande penalidade e fechou o resultado: 2-1.
 

LIGA

NUMA breve análise dos resultados (golos marcados, sofridos, desequilíbrios setoriais, inadaptações, sinais de alerta e outros) constatam-se vários indícios e surpresas que poderão ter influência na classificação e na próxima janela de transferências. A classificação, após esta jornada, começa a apresentar tendências: clubes que lutam pelo título, outros que procuram a qualificação para competições europeias, equipas que conseguem estabilizar numa zona de tranquilidade, de gestão e de valorização de ativos e, em último espaço, clubes que podem entrar na zona de problemas de manutenção ou descida de divisão. Os resultados revelam diversas realidades e algumas surpresas.
Dúvida persistente: será que a Comissão Técnica de Vistorias da Liga Portugal vai continuar impávida e serena ou vai ser substituída?


MUDANÇAS IMPARÁVEIS

NAS modalidades de pavilhão as substituições acontecem sem limitação e sem perda de tempo. A tendência de uniformizar torna-se um hábito cada vez mais intenso, padronizando quando deveria entender as especificidades. No futebol podem efetuar-se 5 substituições (mais a substituição extra por concussão). Isso vai favorecer os clubes com maior capacidade financeira bem como a possibilidade de mudar completamente de dinâmica, pois podem substituir metade da equipa. Para os treinadores, são mais possibilidades para alterar estruturas. Mas não deixa de ser mais uma oportunidade para dar vantagem aos clubes mais poderosos. As mudanças devem merecer análise profunda para evitar competições desajustadas. Testar e analisar é o rumo certo. Para além disso, jogar a fase final do Mundial-2022 no Catar, num período desajustado em termos climáticos, poderá originar caos com a interrupção dos campeonatos nacionais e jogos internacionais, cuja interrogação dos clubes europeus se pode resumir à questão básica: como foi possível?
Ainda hoje há quem acredite que a escolha do local para esse Mundial teve a máxima colaboração do ex-presidente Sarkozy...
 

CONHECER É ESSENCIAL

VOLTEMOS ao cartão do adepto. «A lei é para cumprir», afirmou publicamente o Presidente da Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência. Passa a ser obrigatório proceder ao registo dos adeptos que assistem aos jogos nas zonas especiais para claques. O facto de todos os partidos políticos com assento parlamentar concordarem com essa medida é interessante, embora com desconhecimento de pormenores. Podem definir claramente a zona onde terão lugar comportamentos e atitudes mais efusivas e confinar esses adeptos em zonas específicas. A intenção pode ter um fundamento louvável mas continua imperfeita: e os clubes, que há anos possuem claques distintas que não conseguem coexistir pacificamente no mesmo espaço? E os adeptos que pretendem assistir aos jogos mas sem serem obrigados a ir para a zona de claques? Será que conhecem a realidade? Dialogar é uma arte que requer conhecimento, talento e humildade para ouvir; só depois se poderá decidir com acerto.
 

INTEGRIDADE DO DESPORTO

NA semana passada, em Cascais, juntaram-se organizações internacionais para debater o desporto. Emanuel de Medeiros, responsável pela Sport Integrity Global Alliance (SIGA), juntou especialistas e entidades que analisaram temas imprescindíveis para salvaguardar o desporto. Ao longo de uma semana, cada dia mereceu uma análise cuidada de temas específicos: dia 13, governação e corrupção; dia 14, integridade financeira, transparência e sustentabilidade no desporto; dia 15, apostas desportivas; dia 16, media, tecnologia e inovação; dia 17, desenvolvimento da formação e proteção dos mais jovens. Com iniciativas deste género, cria-se um desígnio coletivo «para dizer não à corrupção, à evasão fiscal, à economia paralela, ao aproveitamento de capitais, à evasão fiscal…», afirmou o responsável da SIGA, porquanto todos conhecem a situação e os problemas, mas nunca houve a coragem para atacar frontalmente «um perigoso adversário», com uma liderança coerente e determinada. Participaram neste evento mais de uma centena de organizações internacionais, representantes da UEFA, da FIFA, do Comité Olímpico de Portugal, das Universidades e jornalistas, entre outros. Aguarda-se publicação das conclusões, como mais um contributo para valorizar o desporto com sustentabilidade e prioridade global. Agora tem de ser!
 

REMATE FINAL

— Se há profissão com muitas exigências físicas, emocionais e comportamentais, num universo de incertezas diárias, é a de treinador de futebol. Claro que há personagens que atingiram patamares elevados que lhes permitem vencer mais vezes e projetar futuros. Pep Guardiola manifestou a vontade de, no fim do contrato (2023), descansar, afirmando: «Preciso de parar para ver outros treinadores e aprender com eles. Depois, quero treinar uma seleção, é esse o próximo passo. Gostava de treinar num Europeu, num Mundial ou numa Copa América.» Ainda bem que alguns conseguem ter a independência para escolher possibilidades futuras e deixarem marcas importantes para a evolução do jogo.

— O grande craque Ronaldo Nazário, que nunca ganhou a Liga dos Campeões no Real Madrid, afirmou: «Joguei no Real Madrid durante quase cinco temporadas, na equipa dos ‘galácticos’, e nunca ganhei a Champions. Ganhar nunca é matemático, mesmo se tiveres os melhores na tua equipa. Também se aplica ao PSG (…) O futebol falado é uma coisa e o futebol jogado é outra. São muitos os fatores que influenciam dentro de campo.»

— Há clubes nacionais que, em cada época, dispensam e contratam novos jogadores em número substancial. Dá que pensar: prioridade ao plantel ou entreposto comercial?