Diferentes abordagens ao mercado

Diferentes abordagens ao mercado

OPINIÃO18.06.202306:30

Roger Schmidt não quer passar pelo mesmo processo da última pré-época, em que teve de trabalhar com 40 jogadores

Operíodo de férias dos jogadores e das equipas técnicas é um dos mais importantes para as denominadas estruturas, que têm como missão a preparação da próxima época. O profissionalismo, a organização e atenção ao detalhe são fundamentais para se obter sucesso. Cada clube tem um contexto específico que tem muita influência na preparação da época e na forma como lida com as adversidades e oportunidades.
 

BENFICA - A OPORTUNIDADE À ESPREITA 

Oúltimo ano foi muito positivo para o clube da luz. Recuperou Lourenço Pereira Coelho que trouxe organização, profissionalismo, dedicação e discrição. Selecionou criteriosamente o treinador e os reforços de início do ano. Enzo, Bah e Neres trouxeram talento, força e irreverência, complementando um grupo de jogadores com qualidade, mas que estava desacreditado. O grande mérito vai para Roger Schmidt (RS) que teve a capacidade de agarrar o grupo, através de um estilo de jogo atrativo e que conquistou os jogadores. A preparação deste ano parece seguir o mesmo caminho: escolha criteriosa das posições que necessitam de reforços e com a identificação dos nomes que fazem sentido. Tudo isto de uma forma precoce até porque, ao invés do último ano, o objetivo é começar a época já com o grupo bem definido e restrito (25 a 30 jogadores). Ao contrário do que muitos dizem, os resultados positivos não significam que tudo está perfeito. Por outras palavras, apesar do Benfica ter tido sucesso, há sempre coisas que podem ser melhoradas. Neste caso, RS não quer passar pelo mesmo processo da última pré-época, em que teve de trabalhar com 40 jogadores. Neste momento, o Benfica está totalmente focado nas compras que tem de fazer para dar ao treinador todas as condições de poder repetir o sucesso deste ano, até porque na próxima época só uma equipa terá entrada direta na Liga dos Campeões. É importante realçar que este caminho só é possível porque o sucesso desportivo se refletiu no sucesso financeiro, com a venda de Enzo Fernández, que dá ao Benfica dois benefícios: o primeiro é a perceção que as contas do ano estão fechadas, não havendo necessidade de vender ativos à pressão até ao fim do mês de junho; o segundo ponto prende-se com a liquidez que o Benfica tem para ir ao mercado procurar e fechar os seus alvos. Para uma fase posterior, ficará uma possível venda, por um preço próximo da cláusula de rescisão (possivelmente Gonçalo Ramos) e com os alvos que o possam substituir bem definidos. Reforço que a organização, planeamento, profissionalismo e visão não garantem vitórias, mas permitirão estar mais próximo de as alcançar.  
 

F.C. PORTO - DAR TIROS NOS PRÓPRIOS PÉS 

A PESAR de ter ganho três títulos, no último ano, ter feito uma boa Liga dos Campeões e lutado pelo título até ao último minuto, a realidade do FC Porto é bem diferente da do Benfica. Se dentro dos relvados consegue ter sempre uma competitividade incrível, nas outras áreas não consegue convencer. A pressão e o foco estão sempre em vender jogadores ao invés de complementar o plantel. Isto acontece por dois motivos: primeiro, porque precisa de fechar o ano fiscal (termina a 30 de junho) com as contas equilibradas; segundo, porque necessita de liquidez para suportar a operação diária e um possível ataque ao mercado. A má gestão financeira tem vindo a ter um peso, cada vez maior, na preparação e planeamento da época. No futebol, como em todas as empresas, é fundamental perceber que a comunicação é imprescindível. É essencial ter visão, perspicácia e saber passar as mensagens no momento certo, tentando sempre valorizar a marca e a entidade que se representam. Ora, quando Fernando Gomes refere que o FC Porto tem de vender jogadores até 30 de junho, o que está ele a fazer? Por um lado, está a ser sincero, dizendo aquilo que não pode dizer! Por outro, está a mostrar aquilo que nenhum gestor deve mostrar: desespero. O desespero desvaloriza ativos, faz com que os possíveis compradores se tornem mais duros, menos flexíveis e mais confiantes. Assim, ao contrário do Benfica, o foco da preparação do FC Porto está na venda de jogadores, que permitirá a salvação e a atribuição de louros aos seus administradores que, muitas vezes, parecem apenas preocupados consigo mesmos e não com a direção que o clube está a levar. Posteriormente, logo se verá a questão do plantel e da preparação da época…
 

SPORTING - ERROS DEFINEM CAMINHO 

N O último ano, o Sporting cometeu alguns erros que contribuíram para que a época tenha sido muito negativa. Vender no mesmo ano Palhinha e Matheus Nunes, com a agravante deste último ter sido vendido já com a época em curso e a três dias de um clássico, foi um dos maiores erros e que nunca foi explicado. Pior do que cometê-lo foi ter-se passado a ideia de que não existiam alternativas pensadas e que se gastou dinheiro só por se gastar, sem critério, que foi algo que o Sporting teve nos anos anteriores e que lhe permitiu obter sucesso desportivo. Em função da má performance desportiva, este ano, a preparação começa com naturais dificuldades. Se no que respeita ao ano fiscal 2022/2023 o Sporting está equilibrado pelas vendas dos dois médios, no próximo ano, o cenário será idêntico: Porro e Ugarte permitirão ter um ano fiscal positivo em 2023/2024. A dificuldade do Sporting tem a ver com a ausência da Liga dos Campeões e a redução de receitas, que implica, em consequência, uma abordagem ao mercado com menor margem para falhar. Nos últimos dias, o Sporting cometeu mais um erro: ter o plano para o atual plantel todo nos jornais, não é a melhor forma de trabalhar nem aquela que gerará maior sucesso. Por um lado, muitos jogadores devem ter percebido, através dos jornais, que não são fundamentais, perdendo margem de negociação no próximo passo da carreira. Por outro lado, definir preços de jogadores limita as negociações do Sporting com outros clubes. Estas fugas de informação não contribuem em nada para a estabilidade e confiança que devem existir para se preparar uma época difícil como a que se avizinha. Volto a reforçar, a atenção ao detalhe, a preparação atempada da época e a antecipação de cenários, não garantem vitórias, mas aumentam a sua probabilidade. 

SPORTING DE BRAGA - ESTABILIDADE 

OBraga tem vindo a conseguir manter uma estabilidade financeira e desportiva. As vendas de Vitinha e David Carmo dão margem para ter um ano fiscal positivo e, em simultâneo, atacar os alvos pretendidos no mercado. Sem entrar em loucuras, passo a passo, o Braga vai-se tornando mais forte e consistente. Este será um ano importante com a possibilidade de entrar na fase de grupos da Liga dos Campeões. Proporcionar um plantel equilibrado, para a difícil época que o clube bracarense terá pela frente, é fundamental. Na restante operação, e no que a vendas diz respeito, a forma intransigente com que o Braga tem negociado, revela-se determinante nos bons negócios que vem fazendo e na valorização dos ativos. Uma entrada na Liga dos Campeões irá dar maior visibilidade e valorização aos seus melhores ativos - os jogadores.
 

 A VALORIZAR 

 


Zicky Té. Fez uma obra de arte frente ao Benfica num jogo decisivo. Um golo que ficará na memória de quem gosta de futsal. 
 

 


Rui Jorge. Na entrevista a A BOLA Rui Jorge referiu que uma das grandes vitorias do seu trabalho nestes 13 anos à frente da seleção de sub 21 é que «respeitamos e somos respeitados por todos». Vencer não e tudo no desporto. Dar o exemplo é fundamental. Rui Jorge não quer protagonismo e acrescenta muito ao nosso futebol.
 

A DESVALORIZAR

 


LPFP - Mário Costa. O futebol português tem tido dificuldade em atrair investidores bons e credíveis. Com frequência, referimos que o compliance sobre esses investidores deverá ser cada vez melhor e mais apurado. Critérios como a idoneidade ou as características que Pedro Proença colocou no seu prospeto de campanha - credibilidade, transparência, integridade e profissionalismo - devem estar sempre presentes. O que me incomoda mais é que no seio da própria Liga estes critérios não são seguidos à risca, ficando a pergunta: «Quem escolheu e avaliou as pessoas para a estrutura da Liga?». O caso do ex-presidente da Mesa da Assembleia Geral é muito grave, pior ainda, porque como constava nos corredores do futebol, Mário Costa preparava-se para se candidatar a presidente da Liga de Clubes….