Dicas técnicas
Ajudem o árbitro, respeitem o futebol, honrem o espetáculo. Todos ficam a ganhar
PORQUE os tempos ainda são de acalmia desportiva (só em termos de futebol, porque as más condutas parecem ter-se estendido a várias modalidades de pavilhão), queria aproveitar esta crónica para deixar algumas dicas sobre leis de jogo, na sua aplicação mais prática.
Não é segredo para ninguém que, em algumas situações técnicas (muitas até), há uma distância considerável entre a letra e o espírito da regra. Entre aquilo que está escrito e o que o bom senso exige que aconteça nas quatro linhas.
Se pelo menos der para refletir, já valeu a pena:
1. Na celebração de golos, há várias situações em que um(a) jogador(a) tem que ver o cartão amarelo: quando despe a camisola ou usa-a para cobrir a cabeça; quando trepa a vedação que separa o relvado da zona dos adeptos; quando se aproxima perigosamente da área onde se encontram, levantando problemas de segurança; quando atua de forma provocatória; e quando usa uma máscara na cara ou cabeça.
A ideia da lei, que é universal e abrange todos os cantinhos do globo, é punir excessos e situações de risco (no caso das provocações ou proximidade a adeptos) ou atitudes que firam tradições, religiões ou crenças culturais/ideológicas (no despir da camisola).
Claro que todos têm direito a manifestarem alegria no momento mais alto do jogo, mas a ideia é que o façam com algum controlo emocional. Importa acrescentar que estes cartões nunca são anulados, mesmo que o golo o seja: os amarelos e vermelhos exibidos por força de condutas/comportamentos individuais mantêm-se, independentemente do que aconteça há jogada que os originou.
Os únicos cartões apagados com a invalidação da jogada (pelo árbitro ou através do VAR) são os que foram exibidos por questões táticas (faltas imprudentes que cortem ataques prometedores ou claras oportunidades de golo).
2. Um(a) jogador(a) que esteja numa barreira (aquando da execução de um pontapé-livre) só pode sair dessa posição quando a bola for pontapeada pelo adversário, nunca antes. Até que isso aconteça, o defesa deve manter os braços em posição natural, não ganhando volumetria desnecessária (por exemplo, colocando-os fora da área de proteção do corpo). Caso o(a) atleta abandone a barreira de forma prematura, será advertido (cartão amarelo).
3. Como já repararam, os árbitros têm instruções firmes para avisar os(as) jogadores(as) que estejam a portar-se mal em situações de bola parada (ex: pontapés de canto ou pontapés-livre para as áreas). O objetivo é claro: evitar males piores. Mais vale ser proativo com o jogo interrompido do que penalizador com o jogo a decorrer. Certo?
Os(as) jogadores(as) sabem que há cada vez mais árbitros e meios que permitem detetar infrações dissimuladas nas áreas (agarrões, empurrões, bloqueios, cargas ilegais, etc). É importante que tenham isso em conta, para não se colocarem em risco nem prejudicarem as equipas que representam.
4. Simulações: há quem ache normal tentar cavar uma falta. Há quem ache que faz parte. Não faz. Simular é fazer batota e quem faz batota é batoteiro. É tão simples quanto isso. Inventar uma infração para retirar benefício, prejudicando injustamente o adversário, contraria a natureza e espírito do jogo, adultera a verdade desportiva e engana toda a gente: árbitros, adversários, adeptos e até colegas de equipa. Pior: pode provocar conflitos desnecessários dentro e fora do relvado. O cartão amarelo é curto, mas infelizmente ainda é a sanção que a lei determina.
Um bom profissional não precisa de subterfúgios para mostrar a sua qualidade técnica e grandeza desportiva. E uma grande equipa não precisa de viciar as regras para vencer o jogo. Ajudem o árbitro, respeitem o futebol, honrem o espetáculo. Todos ficam a ganhar. A tecnologia pode automatizar demasiado os contactos, mas se for conduzida por VAR’s capazes e com sensibilidade para a função não continuará a permitir que contactos provocados, ténues ou até inexistentes beneficiem de créditos que não merecem.