De Ronaldo a João Félix
Quem defende quando há muitos criativos no «onze»? A outra equipa!
D OIS dos maiores talentos portugueses enfrentam situações semelhantes em momentos bem diferentes da carreira - Félix tem tudo para conquistar e Ronaldo já conquistou quase tudo -, e há algo mais que os une: ambos têm gerido mal a própria imagem perante as dificuldades, esquecendo-se que quando não corre bem todos os holofotes os procuram. Dito isto, os dois aparentam estar cada vez mais afastados na parábola que os liga neste texto. Se é cada vez mais complicado montar equipas à volta de CR7 - pela importância que a contrapressão ganhou e pelo pensamento mais associativo existente no modelo da moda, aquele que fica a meio caminho entre o ataque posicional e a transição vertiginosa -, é quase criminoso não fazê-lo com o jogador do Atlético Madrid.
Alguns vão dizer que Félix escolheu mal o novo clube, como se ele tivesse tido alguma vez alguma hipótese de bloquear uma transferência de 120 milhões. Não sei se sequer lhe passou pela cabeça dizer não ou se diria sempre sim, mesmo sabendo que quase todos os futuros colegas e o próprio treinador falavam uma língua futebolística diferente. O que é certo para mim é que deixar tanto talento de fora em nome do momento defensivo, e pode passar-se o mesmo com Vitinha, por exemplo, já que estamos em antecâmara de Mundial e há esse risco, é ridículo. Houve há tempos resposta genial a pergunta recorrente sobre quem defenderia quando se perspetiva apostar em muitos criativos no mesmo onze: «A outra equipa!» Óbvio!
Mais. Todos estão ainda dispostos a tomar o lado de Simeone, intocável apesar de os colchoneros jogarem cada vez pior, ao contrário de Ten Hag que, em ano de estreia, tem de ter o grupo consigo, implementar a ideia e ganhar. Mesmo com a sua maior lenda autoexcluída, durante semanas, do processo.