Custou… custou, mas foi! Estamos apurados e vivos

OPINIÃO24.06.202107:00

Portugal fez os mínimos olímpicos, como, aliás, há cinco anos, quando ganhámos o Euro. Na altura, na fase de grupos, fizemos três pontos. Agora melhorámos… fizemos quatro

AINDA não consigo acreditar no jogo que perdemos com a Alemanha. É que não estamos habituados a perder, nem com os campeões do Mundo, como se viu ontem. Empatar é o nosso forte e, na verdade, contra os germânicos, marcámos dois golos e eles outros dois. O desnível deveu-se aos que marcámos na nossa própria baliza.
De qualquer modo, a equipa foi irreconhecível, não pressionava, não tinha força anímica, parecia um conjunto de deslumbrados por estar a jogar contra a poderosa Alemanha, como se aquela seleção tivesse alguma vantagem adicional sobre nós. No fim, no grupo, ficaram iguaizinhos a Portugal: quatro pontos e a diferença de um golo a mais entre marcados e sofridos. Com este pormenor: perderam com a França e empataram in extremis (84’) com a Hungria estando até então fora da qualificação. Ou seja, só ganharam mesmo a Portugal, ao passo que nós vencemos a Hungria e empatámos com a França; só perdemos mesmo com a Alemanha. Esse foi o jogo do nosso descontentamento.
Ontem, Portugal foi menos pressionado e pressionou mais. A França entrou no jogo em primeiro lugar e a saber que lhe bastava não perder com a nossa seleção para se qualificar, sendo que ganhando mantinha o primeiro lugar. A surpresa veio - quem diria? - da Hungria, que começou a ganhar aos germânicos, aguentou quando eles marcaram o empate e voltaram para a frente da partida. Só no final os magiares se deixaram empatar. O resto da surpresa veio de Portugal, que começou a vencer à França, para depois permitir dois golos e, mais tarde, voltar a empatar. Incrível como, ao longo da noite, estivemos em todos os lugares do grupo: primeiro, segundo, terceiro (onde acabámos devido ao facto de a Alemanha, com os mesmos pontos, nos ter ganho) e mesmo em quarto, quando a França nos ganhava e a Hungria vencia a Alemanha.
O resto é Ronaldo, que chegou ao recorde do célebre iraniano Ali Daei, que conseguiu 109 golos marcados na seleção (como os tem agora o nosso capitão, que ainda vai marcar mais); e João Moutinho, que foi verdadeiramente um esteio. De salientar Renato Sanches e, de um modo geral, a defesa, que foi muito mais sólida, nomeadamente Nélson Semedo, que tinha sido um pouco réu do jogo contra a Alemanha e esteve bem até não poder mais e ser substituído por Dalot.
Agora, no próximo domingo, em Sevilha, que é mesmo aqui ao lado, encontramos a Bélgica. Equipa forte e difícil, primeira no ranking da FIFA (Portugal é 5.º). Veremos se os deuses continuarão connosco.
 

Empate com a França permitiu a Portugal passar, de novo, em terceiro lugar do grupo


E QUANDO FOMOS CAMPEÕES?

ANTES do jogo com a França tivemos dois momentos distintos. O primeiro, após o jogo com a Hungria, coisa promissora aqueles três golos em 10 minutos; mas chegou a Alemanha e atirou-nos para a depressão. Estas súbitas mudanças dos estados de alma com a nossa seleção são frequentes. Eu não lhes escapo e na semana passada descrevi os meus estados de espírito ao longo, apenas, do jogo com a Hungria. Equiparei-os a movimentos musicais. Agora não consigo voltar sequer a esse sentimento etéreo em que a música se compara com a nossa forma de estar em campo. Apenas me consolo em ir verificar os resultados do Euro-2016, que por acaso ganhámos.
Esta expressão por acaso não está aqui por acaso. Acho mesmo que foi um acaso. Vejam isto: no primeiro jogo desse glorioso Euro, cinco minutos depois do intervalo, a Islândia empatou com Portugal e manteve o 1-1 (o golo português fora de Nani) até ao final do jogo. Um ponto contra a Islândia, teoricamente o mais fraco do grupo. No segundo jogo, contra a Áustria, nem um golo se viu, o final foi 0-0. É, por isso, aceitável que jogadores portugueses (Pepe) digam que com dois jogos ter três pontos nem é assim tão mau. No último jogo do grupo (fez antes de ontem cinco anos), conseguimos, fantasticamente, um resultado de 3-3 contra… a Hungria. Quaresma passou a São Ronaldo, que recolocou o empate a três bolas. Antes disso, andáramos sempre atrás do prejuízo. 1-0 para a Hungria, 1-1 por Nani; 2-1 para Hungria, 2-2 por Ronaldo e 3-2 para a Hungria, para Ronaldo bisar. No final, tínhamos três pontos, menos um que agora, e éramos o terceiro do grupo, atrás da Hungria e da Islândia, que tinham cinco pontos cada. Enfim, digamos que uma cena mais deprimente do que esta para ser repescado para a fase seguinte, é difícil. É certo que nunca perdemos, mas também é verdade que nunca ganhámos.
Depois disso, encontrámos a Croácia, que derrotámos 1-0, golo de Quaresma a três minutos do fim do prolongamento. Nos quartos de final, depois de Lewandowski logo aos dois minutos ter posto a Polónia no comando do jogo, conseguimos empatar 31 minutos depois, por Renato Sanches, e aguentar o resultado até ao fim do prolongamento. Nos penáltis, Patrício defendeu o remate de Jakub Blaszczykowski, que era o quarto da Polónia, depois de Ronaldo, Renato Sanches, Moutinho e Nani terem todos marcado as suas penalidades. A quinta, que daria a vitória na partida, foi impecavelmente marcada por Quaresma. E assim fomos às meias-finais.
Nas meias, contra o País de Gales, depois de uma primeira parte a zero, o jogo ficou decidido em três minutos: Ronaldo aos 50’ e Nani aos 53 minutos. E assim passámos à final, contra a França, que derrotara a Irlanda (2-1), a Islândia (5-2) e a Alemanha (2-0), sempre nos tempos regulamentares. Da final todos nos lembramos, porque o golo de Éder, também no prolongamento (109 minutos), é inesquecível. Assim como a lesão de Ronaldo…
 

AS VENDAS

DEIXANDO o Euro-2020, que se joga neste 2021, e voltando às ligas nacionais e internacionais, mas por clubes, estamos na chamada época do defeso, que este ano durará menos.
Este tempo é caracterizado pela venda, barganha, regateio e leilão de jogadores. Algo que a mim me parece indecoroso, pela forma como é feita. Entendo que têm de existir regras e que um jogador não pode abandonar um clube quando lhe apetece. Mas também sou da opinião de que os contratos feitos têm algo de anacrónico, ou seja, fora deste tempo. Se um jogador quiser sair de um clube, ou porque não gosta do treinador, ou das instalações, ou dos dirigentes, ou dos adeptos, tem de ter todo o direito a fazê-lo, ainda que tenha de pagar parte do contrato que não foi cumprido. Os jogadores não podem ser de um clube e estar numa espécie de prateleira, sem jogar, ou relegados para uma equipa secundária do mesmo clube, sem poderem rescindir e - neste caso - com justa causa.
O mercado de transferências de janeiro é, ainda do meu único e exclusivo ponto de vista (que é sempre como escrevo), inaceitável. Os clubes podem remodelar-se completamente e, à força de dinheiro, dar cabo da vida dos outros clubes. Escusam de afiar a língua para me dizer que o Sporting beneficiou duplamente dessa janela, ao comprar e vender jogadores fundamentais. É verdade! Mas o que defendo deve aplicar-se a todos os clubes por igual, ricos e pobres, seja em que liga ou campeonato joguem.
Naturalmente, isto implica que a distribuição dos dinheiros do futebol seja algo compreensível e equitativa. Já muitas vezes falei da centralização dos direitos televisivos, que me parece uma boa medida. Assim como boa seria, se a distinção entre os clubes dependesse apenas do seu mérito desportivo, que pode ser avaliado de diversas formas - através das ligas nacionais, como é óbvio, mas também da presença nas competições europeias.
Não há qualquer moralidade nestas transferências. Clubes ricos, como o Manchester City, têm jovens sistematicamente emprestados (caso de Porro, entre muitos) porque nem lugar para eles têm. Uma limitação de jogadores por clube, a partir de certa idade (tendo em conta as competições para as quais é apurado ou disputa, como equipas B, Ligas Revelação, etc.), seria um passo ousado mas, do meu ponto de vista, justo.
Na verdade, não peço outra coisa senão o que existe em quase todas as atividades económicas: regulação. E, neste caso, tendo em conta as características do fenómeno futebolístico, deveria ser uma regulação europeia, que submetesse às suas regras a regulação nacional. Será pedir muito?
 

JOGAR FORA

O ano bom. Hoje é dia de São João, mas peço muita desculpa pelo facto destas linhas serem dedicadas a um clube de Portugal inteiro, que comemora o Santo António, o São João e o São Pedro, e mais quantos houver. Falo do Sporting (Clube de Portugal) que arrecadou quase todos os títulos que havia para vencer. Faltou-nos o andebol, que foi para o Porto, e mais um ou outro. De resto, foi extraordinário. Estão de parabéns todos os que contribuíram para este ano sportinguista.

Fernando Santos. Depois desta fase de grupos, a minha confiança e admiração por Fernando Santos não se alterou. Claro que podia fazer melhor, mas verdadeiramente conheço, sobretudo, pessoas capazes de fazer muito pior.