Criminosos à solta

OPINIÃO07.01.202001:00

Professores às mãos de alunos, miúdos às mãos de colegas, médicos e enfermeiros às mãos de pacientes impacientes, adeptos às mãos de delinquentes... enfim, a coisa não está para abraços e beijinhos. O cenário torna-se mais cinzento quando vemos e ouvimos notícias de agressões, que acontecem por dá cá aquela palha. Parece que perturbar, ameaçar e bater virou tendência urbana.
Convém não nos esquecermos que Portugal é um dos países mais seguros do mundo. É importante que façamos jus a essa reputação.
Quanto a esta moda, sinceramente não a entendo. Não sei se as pessoas andam em burnout, mais desgastadas ou se apenas deixaram cair a máscara que sempre esconderam. O que sei é que violência grosseira não rima, nadinha, com costumes ordeiros.
Neste momento, a perceção geral é que não parece haver segurança para médicos e enfermeiros, para professores e auxiliares e não parece haver também segurança em ir a à bola sossegado, sozinho ou acompanhado.
Em termos estritamente desportivos - com o futebol à cabeça, pelo seu mediatismo e dimensão - o que custa mais a engolir são as atitudes criminosas como aquelas a que assistimos no D. Afonso Henriques, mas também as que, antes dessas, vimos noutros palcos, em tantas outras ocasiões. E custa a engolir porque contrasta com uma época que, nesta matéria, até tem sido francamente positiva: o número de agressões a árbitros, jornalistas e agentes desportivos é muito inferior ao de anos recentes. Embora haja quem discorde - o que se percebe, porque a tendência é olhar para a parte mediática e não para o todo que existe -, a verdade é que foram lançadas sucessivas campanhas dissuasórias e foram criados um conjunto de instrumentos que visam punir, com outra severidade e celeridade, atos desta natureza. As coisas estão a andar aos poucos mas há que reconhecê-lo: nos últimos tempos, a lei mudou, há mais meios de prevenção e ação, há mais gente a querer fazer mais e melhor, há maior sensibilidade geral para o assunto e há punições mais eficazes.
No entanto e sem prejuízo da bondade real destas medidas, falta fazer mais. Naturalmente. Roma e Pavia não se fizeram num dia, mas basta muito menos do que isso para que alguém perca a vida (como já perdeu), às mãos de uma qualquer bandalho sem escrúpulos.
Aos clubes fica bem, muito bem, a condenação firme de atos hediondos, que assustam famílias e afastam gente boa dos recintos desportivos. No entanto, só por si, é insuficiente. Infelizmente. É preciso identificar os bandidos, bani-los e entregá-los às autoridades. É preciso agir com firmeza e sem perdão. Por cada pequeno monstro que se ponha fora dum estádio ou pavilhão, não se perde um adepto: ganham-se centenas, que são todos aqueles que passarão a lá ir com os seus filhos e famílias, sem medos, sem receios nem temores.
O futebol e o Estado têm que continuar este caminho difícil e corajoso, esta parceria forte. Têm que permanecer focados, com a mesma irredutibilidade, no mesmo objetivo: erradicar, sancionar, criminalizar. Não pode haver perdão para gente que se comporta como vilão.