«Coutinho a encantar e Neymar a prometer»
No mesmo dia em que a Alemanha, campeã do Mundo em título, se despediu sem honra nem glória do Mundial da Rússia, depois de uma derrota histórica frente à Coreia do Sul, o Brasil foi melhor que a Sérvia e garantiu a passagem aos oitavos-de-final, onde medirá forças com o México. O Escrete segue em frente e a Mannshaff vai para casa, e está encontrada a forma dos torcedores da canarinha se vingarem do Maracanazo de há quatro anos que continua a povoar-lhes os piores pesadelos.
O Brasil tem em Neymar a sua grande figura; mas tem em Coutinho o jogador que faz a diferença, um médio de ataque que assiste e marca, um futebolista que é capaz de ver aquilo que passa ao lado dos outros. Aliás, foi assim que Brasil chegou à vantagem em Moscovo, um passe genial de Coutinho para Paulinho, numa jogada made in Barcelona que colocou o Escrete na frente do placard. O passe de Coutinho (que sucede, no apelido, a um grande nome no futebol brasileiro e do Santos de Pelé) foi digno de Gerson, Rui Costa, Platini, Aimar, Zidane, Zico ou João Alves. Geometria no espaço…
Com uma matriz essencialmente europeia, evidenciada pelas preocupações defensivas, não só do quarteto que protege Allison e do duplo pivot que se coloca na cabeça da área (Casemiro horizontal e Paulinho vertical), o Brasil fez jus ao registo de Tite, que vai em 19 vitórias, quatro empates e apenas uma derrota, sendo que não sofreu quaisquer golos em 17 dessas partidas.
A solidez da equipa é óbvia e nem mesmo a lesão de Marcelo (entrou Filipe Luís), o melhor lateral esquerdo do Mundo, abanou a estrutura canarinha.
Mas os pentacampeões também tiveram o seu momento feliz. Depois de passarem por alguns apertos durante 17 minutos (entre os 51 e os 68 minutos), arriscando-se, em três situações a encaixar o golo do empate, o 2-0 chegou de bola parada, por Thiago Silva, acabando com todas as dúvidas que pudessem subsistir. O Brasil, que naqueles minutos mais críticos perdeu algum do rigor defensivo, recompôs-se após o 2-0 e passou a brindar o público com o futebol de passa, repassa e chuta que continua a ser a sua imagem de marca… histórica.
Explicadas as boas sensações deixadas pelo Escrete, uma nota mais para Neymar. Apareceu mais sóbrio, no penteado e na atitude, e apenas numa circunstância, aos 32 minutos, após uma falta de Ljajic, sentiu necessidade de voltear no relvado, quase uma dezena de vezes. O astro do PSG precisa de minutos, precisa de recuperar o ritmo que perdeu na sequência da lesão prologada que sofreu e Tite está a ajudá-lo a crescer. Frente à Sérvia bem tentou o golo, em vão. Mas, apesar de quase 30 perdas de bola, percebe-se que está a subir de produção e é muito capaz de se apresentar em grande forma quando o Brasil mais precisar.
Referência ainda para quem esteve em campo com ligações a Portugal. No Brasil, o ex-FC Porto B, Thiago Silva, até marcou um golo, enquanto que o ex-dragão Casemiro mostrou solidez e concentração. Na Sérvia, boa exibição do antigo sportinguista Stojkovic, enquanto que o ex-benfiquista Matic esteve muito perto de ver o cartão da cor da camisola do seu ex (e atual) clube; Luka Jovic, com ligação ao Benfica e Andrija Zivkovic, que é pupilo de Rui Vitória, tiveram também hipótese de pisar o palco mundialista.
JOSÉ MANUEL DELGADO,
Diretor Adjunto do jornal A BOLA