Contacto legal ou infração?
O futebol continua a brindar-nos com situações entusiasmantes, que ora exigem uma mera opinião técnica, ora obrigam a uma explicação mais fundamentada.
Este fim de semana aconteceram vários lances (não um, mas vários) em que os jogadores tocaram primeiro na bola e depois nos adversários.
A pergunta a colocar aqui é muito simples: quando é que essa ação é legal e quando é que é ilegal? Qual o critério a usar? O que diferencia uma da outra?
Ponto prévio: não leiam as Leis de Jogo. Não vale a pena. Nada dizem, em concreto, sobre o tema. As próprias instruções sobre esta matéria são curtas, o que até se entende: nenhum lance é igual e não dá para carimbar situações assim.
A melhor opção é analisar cada um de forma racional e sensata. A primeira significa fazê-lo com equidistância (ou seja, sem olhar para a decisão que melhor defende o clube do coração); a segunda significa responder a uma pergunta muito fácil: «Qual a decisão que o futebol espera nesta situação?»
Vamos lá então. O que é isso do contacto fortuito, natural e sem infração? É toda e qualquer ação em que não exista uma abordagem imprudente (implica falta de cuidado ou de atenção), negligente (aquela que não mede o perigo ou a consequência) ou feita com força excessiva/violência. É também a que tenta apenas e só tocar/jogar a bola, sendo qualquer contacto posterior fruto inevitável desse movimento inocente. Não há aí espaço para rasteiras ou pontapés, porque esses são expressamente punidos por lei. Há apenas um choque a dois. Exemplos: guarda-redes agarra a bola e colide depois com o adversário que saltou para a disputar também; guarda-redes atira-se aos pés do avançado, bloqueia a bola e depois choca com opositor, jogador corta a bola e esta fica prensada contra os pés do adversário, dando-se o contacto natural. Tudo isso é futebol, é permitido, é legal.
O que é irregular é um jogador, por sua iniciativa, correr o risco individual de abordar um lance e, depois de jogar/tocar a bola, derrubar também o seu adversário (rasteirando-o, carregando-o, empurrando-o, pontapeando-o, etc). Exemplos: abordar um lance com entrada aos pés do opositor, tocando no esférico e depois derrubando-o, fazendo-o cair. Mandando-o ao chão ou acertando no pé, na perna, na coxa. Isso sim, é falta. É sempre falta, seja contra o clube dos rivais, seja contra o clube lá de casa.
Se queremos imparcialidade de opinião, temos de estar preparados para saber respeitar aquela que não satisfaz a voz do coração.