Começou bem

OPINIÃO06.08.201901:05

A época já tinha começado a vários níveis (jogos particulares, Taça da Liga e algumas competições internacionais), mas o arranque mais esperado era o que colocava, frente a frente, Benfica e Sporting. A Supertaça - que não é uma final mas sim um jogo com história, tradição e pergaminhos - entrega o primeiro troféu oficial do ano desportivo.
A partida, que por acaso até foi dérbi, foi dirigida pelo algarvio Nuno Almeida. Eu sei que não deram conta (o que é ótimo sinal), mas no jogo de domingo a equipa de arbitragem estava sob forte escrutínio e isso hoje só não é assunto porque, felizmente, as coisas correram muito, muito bem. Mas sejamos francos: se naqueles noventa e tal minutos tivesse acontecido um lance - bastava um só - mais duvidoso ou mal avaliado, parte significativa dos adeptos, intervenientes e até imprensa (lato sensu) não estariam agora a discutir opções táticas, qualidade dos golos ou prestação individual de jogadores, mas sim a dimensão épica desse equívoco e o seu impacto imoral no resultado. Na verdade, do que se estaria agora a falar era de pura descrença.
Era do regresso ao passado de velhos hábitos, da podridão do sistema e de tantos outros choradinhos que somos pródigos em alimentar. Estes processos de vitimização, alternados pela hipocrisia do silêncio quando as coisas correm de feição - foi, é e vai continuar a ser assim - é algo que está irreversivelmente enraizado no nosso ADN.
É uma espécie de defeito genético, que é tão inconsciente/inocente para o adepto comum (porque sucumbe facilmente às emoções), como estratégico e orientado para quem está noutros patamares do jogo.
Evidências à parte, o certo é que Nuno Almeida deu uma verdadeira lição de bem arbitrar, mostrando ao país e aos seus pares como deve ser dirigido um jogo especial, com dimensão galática e demasiada efervescência à sua volta. O juiz algarvio, que é - de longe - um dos melhores do quadro atual, não esteve perfeito mas esteve muito melhor que a esmagadora maioria dos intervenientes.  Está muito motivado e fisicamente bem preparado.
Isso notou-se na forma como se movimentou, na forma como aplicou a lei da vantagem (esteve soberbo aí), na concentração permanente e, sobretudo, na maneira como controlou as operações: com autoridade mas sem laivos de autoritarismo.
Arbitrar bem não é sinónimo de apitar sem erros. Arbitrar bem é saber gerir homens e as suas emoções, é perceber os diferentes momentos do jogo, é aplicar as regras com consistência e equidade, é ser credível a todo o tempo. Os jogos começam a ganhar-se bem antes do apito inicial, onde o respeito começa a imperar e a imagem de rigor a somar pontos.
A arbitragem precisa que os vários agentes do jogo (internos e externos) lhe ofereçam a paz que ela procura e merece. Isso só depende do caráter de quem melhor souber lidar com vitórias e derrotas, alegrias e tristezas.
Que seja o prenúncio de uma época de grande nível para a mais injustiçada de todas as equipas em jogo.

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