Coisas que no futebol não têm graça (e outras que têm)

OPINIÃO19.11.202003:00

Entre as coisas que não sei e não compreendo (todas juntas davam uma grande enciclopédia), há esta: por que razão no mesmo preciso grupo da Liga das Nações estão o campeão do Mundo, o campeão da Europa e da própria competição e o vice-campeão do Mundo? Refiro-me à França, a Portugal e à Croácia? Andei a ver se compreendia o critério e apenas sei que a Liga A, ou primeira divisão para ser mais simples, está dividida por quatro grupos que integram as 16 seleções com melhor ranking na UEFA. Fui ver os ditos rankings da UEFA e a Croácia aparecia em 20º no ano passado, claro, e a Suécia em 21º. Portugal estava em sexto e a França em quinto. Continuei sem perceber nada, até que entendi: aqueles rankings não dizem respeito às seleções, mas aos pontos somados pelos clubes dos respetivos países.

Pus-me em busca dos rankings das seleções. E descobri que a FIFA elabora um ranking regional da Europa, onde Portugal é o quarto; a França o segundo; a Croácia o sexto, e a Suécia o 13º…  Assim dá certo, o problema é que há outras incongruências. Não só o facto de um grupo ter o segundo, quarto e sexto lugares de um ranking de 16; mas também uma Federação como a do País de Gales fazer parte das 16 melhores da Europa há mais de um ano e não estar na primeira divisão. Por isso desisti de encontrar uma lógica indestrutível e resignei-me aos factos.

E os factos são estes: Portugal fez na Liga das Nações, de que detém o título, uma prestação irregular entre o excelente e o medíocre. Isto, olhando as exibições. Se virmos os resultados, aí podemos considerá-los bastante melhores. Na verdade, a nossa Seleção perdeu em casa com os campeões do Mundo, depois de ter empatado em França. De resto, à Suécia e aos vice-campeões do Mundo de 2018 (Croácia) ganhou os dois jogos (casa e fora) que realizou. Não é uma glória, mas está longe de ser um desastre.

Dos jogos em si, a meu ver, o pior foi contra a Croácia, anteontem. Se ganhámos foi porque o árbitro não viu uma mão de Diogo Jota a ajeitar o passe para Félix meter o golo e porque a defesa da Croácia consegue ser pior do que a do Benfica tem sido. Contra a França, entrámos mal, Rui Patrício foi um herói, tivemos sorte em não ter levado mais do que um golo, mas também tivemos azar em não empatar (o que para o caso não servia os nossos interesses, pois o empate em França fora a zero).

A Alemanha ainda é o que era?

Segue-se o Europeu, que já devia ter sido (o que faz de Portugal o detentor por mais tempo do título, que vem de 2016). Portugal vai defender a sua conquista no Europeu-2020 que começa em junho de 2021 (para nós, no dia 15 de junho). Por acaso, num grupo simples: além da Hungria, só tem a França e a Alemanha.
Mas isto da pandemia veio trocar planos e estratégias. Se ninguém diria que Rúben Dias, que nunca marcara pela Seleção, salvaria, e logo com dois golos, a honra do nosso convento, menos se apostaria que a seleção alemã perderia em Sevilha por 6-0 contra a Espanha. 6-0? É um resultado do tempo da baliza às costas e contraria, em toda a linha, a célebre frase segundo a qual o futebol são 11 contra 11 e no fim ganha a Alemanha. O que se passou, então? O pior é que não se passou nada de especial. Ou seja, apesar de a Alemanha não levar seis desde que perdeu (mas 6-3) com a França em 1958 - há 52 anos para os mais distraídos -, o jogo foi decorrendo, com um herói, Ferrán Torres, a ser responsável por metade da meia dúzia que a Alemanha encaixou. É daqueles jogos sem explicação, como diria Jorge Jesus (e, nem por acaso, Waldschmidt também participou). Joachim Low, o selecionador alemão, resumiu bem: nada funcionou na equipa alemã.
Por isso, tenhamos esperança, podemos apanhar a Alemanha num dia assim e a França num dia ainda pior. Na terça também começou a perder com a Suécia e o resultado que conseguiu (4-2) é um pouco enganador. Num livre, no último minuto, o guarda-redes sueco subiu à área contrária para tentar o empate a três e com isso fazer com que o despromovido do grupo fosse a Croácia, que acabara de perder com Portugal. A coisa saiu mal e, sem ninguém na baliza dos escandinavos, foi fácil reverter a hipótese de 3-3 em 4-2.

Enfim, nada é o que era. E até já em Portugal, que na minha juventude era o país das derrotas em campo e vitórias morais, se questiona por perder 1-0, no Estádio da Luz, com a França, que é campeã do Mundo. É boa a ambição, mas é má a cegueira. A nossa Seleção tem talento, tem bons jogadores, mas não é o suprassumo do futebol. Vai perder algumas vezes. O que interessa, acima de tudo, é não se render, não se entregar. É isso o mais difícil.

Sporting até ao Natal… de 2021

Como já escrevi acima, o Sporting será líder isolado pelo menos até dia 5 de dezembro, quando jogar em Famalicão. Mas pode e deve sê-lo por mais tempo. Para já, com quatro pontos de avanço sobre Benfica e Braga, teria de perder pontos em casa com o Moreirense, no próximo dia 28, para chegar a dezembro em risco de perder a liderança. Como acredito que tal não aconteça, como creio que ganhará em Famalicão, e depois em Faro, e depois contra o falso Belenenses, só a 3 de janeiro do ano de 2021 terá um embate, ainda assim em casa, contra uma das equipas que têm argumentos: o Braga. Passado esse cabo (e espero que com distinção) acaba o mês - é mesmo no dia 31 - a enfrentar o Benfica, também em casa.

A minha tese, que nada tem de científica, é que há uns tempos gozavam com o Sporting ser campeão até ao Natal. Como este ano, devido à pandemia, não deverá haver festejos natalícios dignos desse nome, temos de acreditar que a equipa se mantenha na ribalta da classificação até haver um Natal de jeito. Perguntarão: isso significa ganhar o campeonato? Assim, em tese, significa. O problema é o facto de a teoria não ser mesmo científica.

De qualquer modo, o Sporting é uma associação com uns adeptos a quem nunca faltam motivos de crítica e cizânia. Agora, nas redes sociais, os do costume dizem que o presidente não voltou para o Exército voluntariamente, mas por ter sido obrigado. Como se compreende, isto é extraordinariamente importante. Outra aspeto bastante criticado foi o facto de João Mário - o João Mário! - não ter colocado como objetivo vencer o campeonato. Escrevem eles: «No meu tempo o objetivo era vencer campeonatos.» Mais velho sou eu e sei que desde 2001 pudemos apregoar esse objetivo, mas não ganhámos nenhum. Prefiro ganhar sem apregoar. Aliás, um dos problemas que vamos ter pela frente é o de as outras equipas já não subestimarem o Sporting, como pareceu acontecer no início da época, e depois do desastre do LASK. Agora, cada vez mais se prepararão para uma equipa que os pode derrotar. O que obriga jogadores e treinador a ter soluções cada vez mais eficazes e imaginativas. Hão de tê-las.

Volto a salientar que o Sporting, além do futebol sénior masculino, continua bem nas outras modalidades - no feminino foi derrotar o Benfica por 3-0, a casa das encarnadas. No futsal, no basquete, no hóquei, no andebol e em várias outras modalidades continua competitivo e em luta pelos títulos. Era o que queríamos? Por mim, nunca quis mais nada desde que haja honestidade de processos… O resto, é só terem sentido de comunicação, humildade e gratidão. Mas sou dos que sei que não se pode ter tudo.