Clásssico sem emoções fortes

OPINIÃO03.03.202106:05

É realmente importante refletirmos sobre a qualidade do jogo na nossa Liga!

Abola começou a rolar no jogo que maior emoção despertava. Numa fase em que todas as equipas começam a fazer cálculos, o FC Porto recebeu o Sporting que entrou em campo com dez pontos de avanço. Todos os jogos são finais é a expressão utilizada, embora nem sempre praticada.
De um lado o campeão em título, do outro lado o primeiro classificado na atual tabela classificativa. O jogo foi pobre tecnicamente, com pouco tempo útil, muita estratégia e interrupções contínuas. O clássico merecia muito mais, jogar para os pontos é importante mas não se pode abdicar da intensidade porque desvirtua o jogo. O nosso futebol perde qualidade porque lhe falta ritmo de jogo mais intenso, menos interrupções e árbitros a apitar, não para dar conselhos. A emoção vai continuar, mas é urgente uma reflexão profunda.
 

Liga 

ALÉM do clássico, os jogos foram muito disputados porque a margem de erro é cada vez menor e estão em jogo muitos interesses e imensas dúvidas. Os árbitros não são imunes ao crescendo das exigências de concentração.
Um erro pode ser fatal para uma equipa e uma decisão menos certa do árbitro (ou de um jogador) pode alterar radicalmente a classificação. O Santa Clara goleou o forte Paços de Ferreira, permitindo ao Vitória manter o despique pelo lugar europeu.
O Braga alcançou o segundo lugar mas falta muito para decisões finais. No fundo da classificação, apenas uma vitória pode mudar tudo. O Benfica venceu, após uma primeira parte mais perigosa do Rio Ave, não descolando da luta pelos primeiros lugares.
 

O FC Porto-Sporting foi um clássico pobre tecnicamente e com pouco tempo útil


O alvo a atacar 

APÓS eufórica contratação de Jorge Jesus para liderar o voo das águias para o título, em campanha eleitoral decisiva para a continuidade do presidente, as promessas perderam limites. A construção de uma equipa recheada de valores para se impor no futebol europeu de topo nunca foi cumprida. A pandemia de Covid-19 obrigou a isolamento do treinador e com críticas que não foram justas. Prometeram-lhe equipa para vencer na Europa mas, por diversas razões, ficou muito aquém das expectativas. Gastou-se um balúrdio numa miragem, porque uma equipa é muito mais do que juntar bons jogadores. A pandemia fez estragos em todas as equipas e um dos planteis que mais sofreu foi o do Benfica. A recuperação deixou marcas que reduzem capacidades.  Pedir a demissão do treinador, horas antes da segunda mão com o Arsenal, seja em que clube for, é esquecimento do dever de adepto.
 

Liga Europa 

1Em Atenas, Benfica enfrentou o Arsenal. No jogo anterior o resultado não deu margem de segurança. Arsenal, equipa previsível, procurou baixar o ritmo do jogo, circulação para manter a posse e progredir em bloco. Na frente, Aubameyang marcou cedo. Bola escondida ao Benfica mas boa reação e o empate num livre direto de Diogo Gonçalves renovou esperança.
Arsenal sempre a manter posse num ritmo tranquilo. Segunda parte, Benfica muda, faz substituições, cria mais perigo. Mais direto e decidido consegue marcar o segundo golo (Rafa, 62’). Os centrais do Arsenal, lentos e sem grande segurança, erravam passes. Cinco minutos depois, uma falha de marcação permitiu ao adversário, dentro da área do Benfica, empatar,  mas continuando  apurado. Aos 88’, num lance fortuito, porque os encarnados não seguraram a bola nem pressionaram forte, o Arsenal marcou o decisivo golo que afastou a equipa portuguesa.
 

2Em Roma, os anfitriões receberam o Braga. Roma tinha vencido em Braga por 2-0. A tarefa era complicada mas podia acontecer. O Braga tem valor para isso, tentou controlar o jogo, manter posse e criou lances de perigo. A Roma foi mais forte, mais eficaz e venceu 3-1. O Braga teve várias oportunidades de marcar mas não concretizou. Na primeira parte, Dzeko inaugurou o marcador como já tinha feito na cidade dos Arcebispos. Mais uma vez ficámos pelo caminho.
A Federação Portuguesa de Futebol não deveria promover um gabinete competente de análise de jogo, que permita contrariar tendência tristemente fatalista? O ritmo lento da nossa liga, com paragens constantes, demasiadas simulações, arbitragens com muitas interrupções e erros sucessivos, muita perda de tempo, são os principais adversários que prejudicam os jogos. A confiança perde-se e parece que visitamos outro planeta. As carpideiras choram mas continuam sem entender os fundamentos para mudar. Para quando o rigor e a máxima exigência, com o mínimo de influência de fatores externos, nos resultados dos jogos?
 

Futebol, mina de recursos 

Opresidente da Federação Portuguesa de Futebol classificou recentemente o futebol como setor essencial para o nosso País e com um impacto de 1,67 mil milhões de euros na economia: enorme retorno que o futebol permite à economia portuguesa e reforço da importância da indústria (nova designação do futebol) para Portugal.
O conceito de futebol-indústria pretende envolver os diversos setores que o jogo engloba, tornando-o um suporte indispensável da nossa economia.
Fernando Gomes considera que «quem ficar indiferente a esta quantificação, nas estruturas que decidem neste país, não sabe o que faz nem merece estar onde está». E acrescenta: «Estou seguro que ninguém ousará tal indiferença e lutarei bastante para que isso não possa acontecer.»
Depois segue-se uma listagem de impactos positivos nas diversas áreas, da juventude à saúde, da educação à redução do crime e outros projetos.
Se assim é de facto, como se podem permitir tantos atropelos ao jogo, tantas decisões incorretas que penalizam o futebol? De facto, o futebol dá muito mais do que recebe e mesmo assim continuam erros persistentes a prejudicar o seu bom nome.
Indústria pode ser, mas é essencialmente futebol que nunca deixará de ser uma aventura especial. Por isso, deve ser defendido com o máximo cuidado, porque a instabilidade, como o próprio jogo, é incontrolável.
 

Candidatura ibérica 

Opresidente da Real Federação Espanhola de Futebol revelou que, se a candidatura vencer, a organização terá 16 sedes, quatro em Portugal. Serão utilizados 16 estádios. Desta vez, estão previstos 12 estádios (nove em Espanha e três em Portugal) numa competição com mais seleções (48), quatro novas sedes, uma das quais em Portugal, para acrescentar às três previstas. O lobismo, para o voto, já começou pelos países árabes. Uma questão central é a derrapagem dos investimentos nos estádios e respetivo apetrechamento tecnológico e de conforto.
As grandes manifestações desportivas se não forem integradas num plano de ocupação intensivo serão mais um desperdício que hipoteca futuros. Se o nosso país conseguir uma harmonização do território, numa política ao serviço das populações e investimentos sem acrescentarem dívida mas planeamento adequado, podem ser possíveis mais espaços desportivos qualificados. A prioridade terá de ser a criação e aplicação de uma política desportiva que mobilize clubes, escolas e associações, para reforçar consistência e aumentar o número de praticantes, nas várias modalidades, pelas consequências positivas para o nosso crescimento sustentado. Metas possíveis desde que enquadradas numa visão de futuro. Caso contrário, o poço da dívida fica mais fundo…
Coincidência: as amostras de Marte chegarão à Terra nesse ano.
 

Remate final 

O Professor Jorge Araújo afirmou que a qualidade da participação competitiva não depende só de nós mas também da pressão sistemática exercida pelos companheiros de equipa e pelos adversários, no sentido de procurarmos a excelência. «Precisamos uns dos outros para que o apelo a um trabalho árduo e a uma determinação constantes estejam sempre presentes (…) A oportunidade que a competição e a concorrência sempre proporcionam exige o mesmo esforço a todos: a nós próprios, aos companheiros de equipa e aos adversários. Todos têm de buscar na superação a possibilidade de terem sucesso (…) A oposição é um fator de progresso!».