City do ‘quase’, Ajax do pleno

OPINIÃO15.12.202105:55

Eterno candidato inglês e holandeses voadores na rota lisboeta. Mau? Pior seria jogar contra Bayern e Liverpool

PEP GUARDIOLA volta a Alvalade. Esteve ali duas vezes. Na primeira (novembro de 2008), à frente do Barcelona de Messi, Xavi e Iniesta, ganhou facilmente ao Sporting de Paulo Bento (5-2) num jogo da fase de grupos. Viria a ser campeão europeu. Na segunda (agosto de 2020), já com o Man. City, foi eliminado pelo Lyon de Rudi Garcia (1-3) nos quartos de final da Final Eight de Lisboa - o quarto flop consecutivo à frente da equipa inglesa. Agora vem medir forças com o campeão português, que é orientado pelo treinador mais entusiasmante que este país viu desde Mourinho. É claro que, para o Sporting, o City, propriedade do emirato árabe Abu Dhabi, é uma montanha muito mais difícil de escalar do que a Juventus, o adversário que saiu no primeiro sorteio - ainda ontem a rapaziada de Pep escaqueirou o Leeds United de Marcelo Bielsa e Raphinha (7-0!) com uma exibição formidável. Digamos que é uma montanha aparentemente impossível de escalar, tão grande é a desproporção de forças em parada. Nem vale a pena comparar orçamentos e lembrar que jogadores comprou o City com os mais de 1400 milhões de euros que o emirato de Mohammed bin Zayed Al Nahyan investiu ali nos últimos dez anos. O City é o campeão e a força dominante do futebol inglês e um eterno candidato ao título europeu desde que o clube passou a nadar em dinheiro. Mas como o dinheiro não é tudo na vida da Champions, tem de se acrescentar que o riquíssimo City, tal como o primo catariano PSG, é um dos flops mais duradouros e consistentes na história da prova. Seja com Roberto Mancini (2011-2013), Manuel Pellegrini (2013-2016) ou Guardiola (desde 2016), a história é sempre a mesma.

O City promete mundos e fundos e depois não consegue chegar lá. Fica sempre pelo caminho e nem sequer se pode dizer que é passageiro frequente das etapas finais da Champions - não é. O mais perto que os jogadores do City estiveram da  taça dos campeões europeus foi quando viram os jogadores do Chelsea erguê-la no estádio do Dragão, em maio passado.
Em suma: o Manchester quase City onde brilham os portugueses Bernardo Silva, Rúben Dias e João Cancelo é favorito claro na eliminatória com o Sporting. Como era antes de ser eliminado pelo Mónaco de Leonardo Jardim nos oitavos de 2017; como era antes de ser eliminado pelo Tottenham de Pochettino nos quartos de 2019; como era antes de ser eliminado pelo Lyon de Rudi Garcia nos quartos de 2020 (em Alvalade…). Creio que é esta a mensagem que Rúben Amorim vai passar aos seus jogadores. Com o City, nada a perder, tudo a ganhar. O City é uma montanha, sim, mas não é um Real Madrid, um Liverpool, um Bayern, ou um Chelsea, esses sim, colossos europeus na verdadeira aceção do termo - ganhadores.
 

Haller, pesadelo para Neto e companhia na fase de grupos, vai agora atormentar o Benfica


DOIS MESES PARA ESTUDAR O AJAX

OAjax não precisa de grandes apresentações. Basta lembrar os jogos que fez com o Sporting e que foi uma das três equipas (com Bayern e Liverpool) que fecharam a fase de grupos com soberbo pleno de vitórias, o que aconteceu apenas dez vezes em 30 anos de Champions League. A equipa dos Países Baixos espetou 9-3 aos leões em dois jogos (embora sem jogar contra a melhor versão leonina), 7-1 ao Dortmund e 4-1 ao Besiktas. Esta equipa encontra-se num patamar superior desde a chegada do treinador Erik ten Hag, em dezembro de 2017 (foi substituir Marcel Keizer, recorde-se…), e joga com uma velocidade e uma intensidade desconhecidas na competição doméstica. O Benfica, aliás, cruzou-se com este Ajax em 2018, na fase de grupos da Champions, e logo se percebeu que Erik ten Hag estava a construir algo de especial com uma equipa onde despontavam jovens talentos como De Ligt, Frenkie de Jong, Donny van de Beek, David Neres, Noussair Mazraoui e Hakim Ziyech: o Ajax venceu o Benfica em Amesterdão (1-0) e empatou na Luz (1-1) e, muito mais significativo, conseguiu impor dois empates ao terrível Bayern (1-1 em Munique; 3-3 na Cruyff Arena). Bayern e Ajax passaram aos oitavos atirando Rui Vitória para a Liga Europa. Como se lembram, o Ajax só não disputou a final com o Liverpool porque Lucas Moura, no último segundo (!) do tempo de compensação da 2.ª mão da meia-final (90+6’), marcou para o Tottenham (ganhou por 3-2) o golo mais cruel da gloriosa história dos lanceiros.

Ten Hag sentiu na pele o peso da sangria que o Ajax (sempre vendedor) sofreu a seguir - perdeu sucessivamente De Ligt, De Jong, Van de Beek, Ziyech, etc… - e nas duas últimas épocas não conseguiu passar da fase de grupos. Agora ressurge no grande palco com nova fornada de talentos a entusiasmar a Europa (Antony, Neres, Gravenberch e o goleador-revelação Sebastien Haller). Não sei como se encontrarão Benfica e Ajax em fevereiro. Se a  eliminatória fosse agora, creio que o Ajax passaria sem grande dificuldade, tamanha a diferença da qualidade e andamento para os encarnados. Jorge Jesus tem cerca de dois meses para estudar a mecânica dos lanceiros e, mais importante, debelar as insuficiências da própria equipa, difíceis de maquilhar sempre que o adversário é mais encorpado.
 

SPORTING CANDIDATO… AO ‘TETRA’

DISSE Rúben Amorim que se o Sporting se apurasse para a Final Four seria um «claro candidato a vencer a prova [Taça da Liga]». Nota-se que o discurso do treinador leonino está a ficar mais enfático e afirmativo, uma evolução relativamente ao registo mais  cauteloso da época passada. Nem podia ser de outra maneira, aliás: o Sporting ganhou três das quatro últimas competições domésticas e, já agora, três das últimas quatro Taças da Liga. Ser grande também é isso: não ter medo de puxar dos galões. Os leões, com um onze mais artilhado do que se esperava, venceram em Penafiel (1-0) com uma atuação q.b, um golo de TT e mais um clean sheet (o 12.º em 25 jogos). Vão defender o título em Leiria, faltando saber quem será o adversários na meia-final (a 26 janeiro) e, eventualmente, na final. Têm a palavra Santa Clara, Benfica e SC Braga, previsíveis parceiros do campeão na Final Four.